Opinião

Uma Visão Estratégica para Fortalecer a Distribuição de Insumos no Brasil: Rumo ao Distribuidor 10.0

As dificuldades que permeiam a cadeia, impactando a eficiência, a rentabilidade e, crucialmente, a satisfação de nossos produtores, não podem ser ignoradas

aplicação.
Vimos margens se esvaírem, a inadimplência escalar em decorrência de expansões desordenadas, custos operacionais inflacionados por modelos de gestão inadequados | Foto: Banco de imagens

Escrevo com a convicção de que o sistema de distribuição de insumos em nosso país, motor essencial da pujança do setor, clama por uma profunda revisão e fortalecimento. As dificuldades que permeiam a cadeia, impactando a eficiência, a rentabilidade e, crucialmente, a satisfação de nossos produtores, não podem ser ignoradas.

Testemunhamos casos de empresas outrora promissoras, que acenavam com retornos exuberantes e um atendimento impecável ao agricultor, sucumbirem a um sistema que lhes impôs o peso de suas próprias ineficiências. Vimos margens se esvaírem, a inadimplência escalar em decorrência de expansões desordenadas, custos operacionais inflacionados por modelos de gestão inadequados e, até mesmo, um desvio de foco para agendas distantes da essência do negócio de distribuição.

Permitam-me ser direto: o coração de um distribuidor pulsa em sintonia com seus clientes, seus fornecedores e seus colaboradores. É nessa tríade que reside a chave para gerar valor genuíno aos empresários, acionistas e à sociedade como um todo. Qualquer desvio desse foco primordial redunda em promessas vazias, em discussões desconectadas da realidade do campo.

Embora os holofotes se voltem para os resultados das empresas de capital aberto, uma análise mais aprofundada revela que os desafios ecoam por diversos outros distribuidores em nosso país.

Compartilho neste artigo não apenas uma análise crítica dos obstáculos que enfrentamos, mas, sobretudo, um convite à ação. Acredito firmemente que, trabalhando em sinergia – fornecedores, distribuidores e todos os elos da cadeia – podemos revitalizar o sistema de distribuição no Brasil e conduzir este setor vital de volta aos seus dias mais prósperos.

Os Desafios Atuais do Sistema de Distribuição: Uma Análise Detalhada

Podemos condensar os principais entraves do nosso sistema de distribuição em seis pontos cruciais:

  1. Ineficiência Logística e Custos Elevados: A carência de otimização logística e a lenta adoção de tecnologias emperram a agilidade e a eficácia na entrega de insumos. Isso se traduz em custos mais altos e longos períodos de espera para o agricultor. Soma-se a isso a gestão inadequada de fornecedores, resultando em um excesso de SKUs que invariavelmente culminam em devoluções, descartes ou doações, gerando perdas significativas para fornecedores e, principalmente, para os distribuidores. As dimensões continentais do Brasil exacerbam essa questão, com a falta de integração entre modais de transporte, a dependência excessiva do modal rodoviário e o gerenciamento falho de estoques. A expansão via aquisições, embora estratégica em alguns momentos, frequentemente negligenciou a integração das operações logísticas, perpetuando custos elevados e a ausência de sinergia.
  • Pressão nas Margens e Concorrência Agressiva: A entrada de novos players no mercado intensificou a competição. A falta de preparo para uma venda mais técnica e consultiva acabou por comoditizar as ofertas, comprimindo as margens. A proliferação de pools de compra e marketplaces digitais, com estruturas de atendimento mais enxutas, oferecem maior competitividade, erodindo ainda mais as margens dos distribuidores tradicionais. Estes, muitas vezes, lutam para competir em escala e eficiência, tornando a acirrada guerra comercial vantajosa para apenas um elo da cadeia. A estratégia de venda direta com descontos agressivos, adotada por muitas empresas, revelou-se insustentável em termos de rentabilidade. Dados da Crossara consultoria indicam que 36% das vendas de insumos no Brasil ocorre diretamente dos fornecedores para os agricultores, limitando a capacidade competitiva dos distribuidores.
  • Deficiência em Inovação e Digitalização: Uma parcela considerável dos distribuidores ainda opera com sistemas obsoletos. A tímida incorporação de tecnologias como IoT, Big Data e Inteligência Artificial para a previsão de demanda e gestão de estoques representa uma grande deficiência. A lentidão na adaptação à revolução tecnológica em curso no setor abriu espaço para agtechs que souberam interpretar as necessidades do produtor, ocupando um papel antes central do distribuidor.
  • Crise de Confiança e Fragilidade no Relacionamento com o Produtor: O atendimento ao cliente, por vezes falho, com pouca personalização e suporte inadequado, mina a satisfação, a confiança e a fidelidade do produtor. Essa fragilidade no relacionamento também impacta as margens, uma vez que o poder de negociação migrou para o produtor, que, utilizando ferramentas digitais, transformou a compra de insumos em um leilão, desvalorizando o relacionamento e o atendimento diferenciado.
  • Consolidação com Resultados Aquém do Esperado: A tentativa de consolidação do setor não gerou a rentabilidade almejada, com margens pressionadas pela concorrência e por estratégias de precificação agressivas.
  • Crise Financeira e Perda de Identidade Local: Grandes distribuidores enfrentam sérias crises financeiras e processos de recuperação judicial, desestabilizando o mercado e dificultando o acesso ao crédito para os agricultores, já penalizados pela queda na rentabilidade devido à baixa dos preços dos produtos agrícolas e à alta dos custos dos insumos, além do desincentivo a novos investimentos causado pelas elevadas taxas de juros. A perda de gestores experientes resultou na erosão do conhecimento sobre as particularidades de cada região, comprometendo o atendimento personalizado e elevando significativamente os índices de inadimplência. Pesquisas recentes da Andav revelam um decréscimo bilionário no faturamento com a comercialização de grãos e um aumento alarmante nos níveis de inadimplência.

Construindo o Distribuidor 10.0: Um Novo Paradigma para o Futuro

Diante desse cenário desafiador, emerge a necessidade de romper o ciclo vicioso e construir um sistema de distribuição mais robusto e eficiente. Apresento, portanto, o conceito do Distribuidor 10.0, uma abordagem inovadora que integra eficiência operacional, tecnologia e sustentabilidade como pilares para superar as barreiras existentes.

Passos para um Sistema de Distribuição Nota 10:

Para materializar um sistema de distribuição de insumos de excelência, propomos uma abordagem que converge os mundos físico e digital, otimiza processos e eleva o valor entregue ao cliente:

  • Modelo Híbrido: Integrar de forma fluida os canais físicos e digitais, proporcionando uma experiência omnichannel consistente e modelos de negócios mais simples e eficientes.
  • Eficiência Operativa: Alavancar a inovação e a tecnologia, como IA, IoT e Big Data, para otimizar o fluxo de distribuição, reduzir custos e acelerar a entrega.
  • Valor Agregado: Oferecer consultoria agronômica especializada e pacotes tecnológicos customizados, valorizando o conhecimento local e a proximidade com os agricultores para restabelecer a confiança e fortalecer o relacionamento.
  • Sustentabilidade: Priorizar práticas ESG (Ambiental, Social e Governança) para minimizar o impacto ambiental e atender à crescente demanda por alimentos produzidos de forma sustentável.
  • Alianças Estratégicas: Fomentar parcerias sólidas entre distribuidores, fornecedores e produtores, fortalecendo o setor como um todo e garantindo o acesso a recursos e conhecimento.

Os 10 Pilares Fundamentais do Distribuidor Nota 10:

Fundamentados nessa visão estratégica, identificamos 10 pilares essenciais para a construção de um distribuidor de alta performance:

  1. Planejamento Estratégico: Definição clara de metas, alocação eficiente de recursos, análise contínua do mercado e adaptabilidade às mudanças.
  2. Governança e Sustentabilidade (ESG):
    • Ambiental (E): Redução de desperdícios, logística verde, incentivo a insumos sustentáveis.
    • Social (S): Relações justas com colaboradores e comunidades.
    • Governança (G): Transparência e compliance para evitar crises.
  3. Capital Humano e Liderança: Valorização dos funcionários, treinamento técnico, desenvolvimento de habilidades e uma cultura organizacional focada em inovação e bem-estar.
  4. Relacionamento com o Produtor: Atendimento consultivo, uso de dados para personalização de ofertas e antecipação de demandas.
  5. Gestão Comercial Eficiente: Equipes especializadas por cultura, modelos de pricing estratégico.
  6. Parcerias com Fornecedores: Relações de longo prazo e codsenvolvimento de soluções.
  7. Marketing 360°: Forte presença digital e ações de fidelização.
  8. Performance Financeira: Rigoroso controle de custos e fluxo de caixa, modelos alternativos de financiamento.
  9. Excelência Operacional: Automação de processos e logística inteligente.
  10. Gestão do Conhecimento: Banco de dados com insights de mercado e compartilhamento de melhores práticas.

Diagnóstico e Jornada para a Excelência:

Para auxiliar nessa jornada de transformação, desenvolvemos um diagnóstico robusto, com avaliações sistemáticas conduzidas em colaboração com grandes nomes do mercado, como David Telio, Tercio Tosta, Sandra Helena França, Lilia Milde, Matheus Roldan e a Nirus Agrointelligence, através de seus fundadores Mark Doumen, Sinesio Souza, Alejandro Donadio, Erik Frasser.

A expertise desses profissionais, com vasta experiência em multinacionais, empresas de especialidades, sementes e distribuição, nos permite mapear com precisão o nível de aderência dos distribuidores e cooperativas aos pilares de performance, dando nos uma visão não só do Brasil, mas para toda a America Latina.

Com base nesse mapeamento, estabelecemos uma Escala de Performance para o Processo do Distribuidor 10.0:

  • 0 – 20: Iniciante (não atende aos requisitos mínimos)
  • 21 a 40: Em Desenvolvimento (atende parcialmente, com lacunas)
  • 41 a 70: Básico (atende aos requisitos mínimos, com espaço para melhorias)
  • 71 a 90: Intermediário (bom desempenho, processos consolidados)
  • 91 a 100: Excelente (referência, desempenho excepcional)

A Jornada da Excelência para alcançar o status de Distribuidor 10.0 compreende três fases distintas:

  1. Fase 1 – Diagnóstico e Mapeamento: Avaliação detalhada dos 10 pilares e identificação de gaps operacionais.
  2. Fase 2 – Plano de Melhoria: Priorização de ações (digitalização, treinamento, etc.) e parcerias com agtechs para inovação.
  3. Fase 3 – Expansão e Otimização: Escalonamento do modelo para novas regiões e monitoramento contínuo via KPIs.

O Futuro da Distribuição de Insumos no Brasil:


Esperamos que essa metodologia e esse mapeamento ajude nos a transformar o sistema de distribuição de insumos no Brasil, e essa transformação é imperativa para acompanhar a evolução do agronegócio moderno.

O modelo do Distribuidor 10.0 oferece um roteiro claro para essa jornada, com foco em inovação, tecnologia, sustentabilidade e, acima de tudo, na valorização do cliente. Ao abraçar esses passos, poderemos construir um sistema de distribuição “nota 10” que impulsione o crescimento e a competitividade de um dos setores mais importantes da nossa economia.

A chave para o sucesso reside na avaliação contínua desses 10 pilares e na capacidade de adaptação a um mercado em constante evolução. Com essa abordagem, não apenas sobreviveremos aos desafios, mas lideraremos o mercado de distribuição de insumos no Brasil.

O futuro pertence aos distribuidores que transcendem a mera venda de produtos e se dedicam a entregar soluções completas e de valor para o produtor.

Venha conhecer mais detalhes sobre como podemos construir o Distribuidor 10.0 e subir a barra de performance de um dos principais setores do agronegócio brasileiro.