Endividamento

Farsul aponta que montante total da dívida dos produtores gaúchos é de R$ 72,82 bilhões

O número de contratos já vencidos é de R$ 1,260 bilhão, valor considerado alto para o período do ano pela entidade

Foto de um produtor tirando milho da sua lavoura.
Valor total das dívidas com vencimento previsto para 2025 é de R$ 27,72 bilhões, sendo: Custeio: R$ 22,32 bilhões e Investimentos: R$ 5,41 bilhões | Foto: Palácio Piratini/Divulgação

A Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul (Farsul) divulgou, na segunda-feira (5/5), que o montante total da dívida dos produtores gaúchos – segmentado entre os grupos Pronaf (agricultura familiar), Pronamp (médio produtor) e demais produtores – é de R$ 72,82 bilhões.

A informação consta na Nota Técnica “Análise do Estoque, Vencimento e Inadimplência das Dívidas dos Produtores Rurais do Rio Grande do Sul em março de 2025, elaborada a partir dos dados fornecidos pelas instituições financeiras que operam com crédito rural no Estado. Conforme o levantamento, o número de contratos já vencidos é de R$ 1,260 bilhão, valor considerado alto para o período do ano.

A análise divide os débitos em renegociados e não renegociados, com dados sobre inadimplência e vencimentos futuros, especialmente para o exercício de 2025. A dívida dos produtores rurais gaúchos – considerando renegociadas e não renegociadas – considera R$ 24,36 bilhões no Pronaf; R$ 16,41 bilhões no Pronamp e R$ 32,04 bilhões nos demais produtores.

A inadimplência média geral está em 1,7%, com padrão crescente conforme o porte do produtor: 0,8% no Pronaf, 0,9% no Pronamp, e 2,9% nos demais. Esse dado, conforme o estudo da Farsul, reforça que, embora os maiores volumes estejam nos grandes produtores (“Demais”), é nesse segmento que se concentra o maior risco de crédito, exigindo atenção redobrada por parte dos credores e for muladores de política.

O total já vencido e não pago atinge R$ 1,260 bilhão, o que consideramos um valor muito alto para época do ano, o que sugere que esse número deva aumentar bastante nos próximos meses se nenhuma medida for tomada”, destaca o texto da Farsul.

Dívidas Renegociadas

O total de dívidas renegociadas soma R$ 22,28 bilhões, dividido de maneira equilibrada entre: Custeio: R$ 11,13 bilhões e Investimentos: R$ 11,15 bilhões.

A inadimplência média nesse grupo é de 3,1%, com grande variação entre as finalidades: Custeio: inadimplência elevada de 4,9%, refletindo maior vulnerabilidade operacional. Investimentos: inadimplência bem mais baixa, de 1,2%, indicando maior regularidade nesse tipo de crédito de longo prazo.

Do total renegociado: R$ 21,60 bilhões ainda estão a vencer, sendo: o R$ 10,58 bilhões em custeio o R$ 11,02 bilhões em investimentos. Desses valores R$ 5,49 bilhões têm vencimento já em 2025: Custeio: R$ 3,46 bilhões Investimentos: R$ 2,03 bilhões As dívidas vencidas e não pagas totalizam R$ 684,6 milhões, sendo altamente concentradas em custeio (R$ 548,9 milhões), o que representa 80% da inadimplência entre as dívidas renegociadas.

Dívidas Não Renegociadas

As dívidas ainda não renegociadas atingem o valor total de R$ 50,53 bilhões, com distribuição por finalidade de: Custeio: R$ 25,62 bilhões e Investimentos: R$ 24,91 bilhões. A inadimplência média é de 3,2%, com melhores resultados em investimentos (0,7%) e um nível um pouco mais elevado em custeio (1,6%), ainda que bem inferior ao observado nas dívidas renegociadas.

Todo o montante não renegociado encontra-se classificado como a vencer, totalizando R$ 49,96 bilhões, dos quais R$ 22,23 bilhões têm vencimento previsto já em 2025: Custeio: R$ 18,86 bilhões e Investimentos: R$ 3,37 bilhões. As dívidas vencidas e não pagas nesse grupo somam R$ 575,9 milhões, com predominância novamente no custeio (R$ 411,8 milhões), o que pode ser reflexo da sazonalidade dos vencimentos, com forte tendência de piora no quadro.

Ao consolidar os dados renegociados e não renegociados, o estoque total da dívida rural atinge R$ 72,82 bilhões, com distribuição praticamente igual entre: Custeio: R$ 36,75 bilhões e Investimentos: R$ 36,07 bilhões A inadimplência agregada registrada é de 1,7%, com forte tendência de aumento nas próximas amostras pelo calendário de vencimento.

O valor total das dívidas com vencimento previsto para o ano de 2025 é de R$ 27,72 bilhões, sendo: Custeio: R$ 22,32 bilhões e Investimentos: R$ 5,41 bilhões.

Essa forte concentração de vencimentos no curto prazo — cerca de 38% do total a vencer — segundo o levantamento da Farsul exige monitoramento próximo das instituições financeiras e atenção por parte dos formuladores de política pública, pois representa um ponto de pressão relevante sobre a liquidez e o equilíbrio financeiro dos produtores.

Os dados reforçam nossa posição inicial de que medidas especiais são extremamente necessárias nesse contexto de endividamento e de quebra de safra. Ainda que, por óbvio, uma parte dos produtores que colheram terão condições de pagar integralmente suas obrigações, uma parte muito significativa não”, destaca o estudo.

Medida de securitização (reunião de diversas dívidas em uma única, de longo prazo) se faz necessária e deve começar pelos produtores que já estão inadimplentes e/ou muito próximos de inadimplirem”, completa.