A colheita da soja no Rio Grande do Sul prosseguiu em ritmo menos acelerado, conforme o encerramento do ciclo de lavouras mais tardias, condicionada pela ocorrência de chuvas na Metade Sul do Estado, onde restam cultivos mais extensivos. A área colhida alcançou 99%, conforme levantamento da Emater/RS-Ascar. Ainda há 1% em maturação.
A produtividade média está estimada em 1.957 quilos por hectare, representando redução de 38,43% nos 3.179 quilos por hectare projetados antes do início do plantio. A área plantada no Estado está estimada pela Emater/RS Ascar em 6.770.405 hectares.
As produtividades médias alcançadas variam amplamente entre regiões: de 1.388 quilos por hectare nas lavouras mais afetadas pela estiagem a 3.225 quilos por hectare nas menos impactadas. Nas zonas críticas, principalmente no Centro-Oeste do Estado, além da baixa produtividade, que chega a 480 quilos por hectare, os produtores enfrentaram descontos nas cerealistas relacionados a avarias nos grãos e dificuldades em reservar sementes para a próxima safra em razão do estresse fisiológico sofrido pela cultura.
Nas áreas colhidas, onde ocorreu germinação de plantas voluntárias, originadas de sementes remanescentes no solo, observa-se alta incidência de oídio (Erysiphe diffusa), com micélio branco recobrindo a totalidade da superfície foliar dessas plantas, que mantêm o ciclo do patógeno ativo no período entre safras. O fato poderá antecipar a pressão de infecção na próxima safra, especialmente em anos de clima favorável à doença (baixa umidade relativa e tempe raturas amenas).
A maior parte das áreas colhidas encontra-se atualmente em pousio, com baixa cobertura vegetal, o que pode aumentar a suscetibilidade à erosão e comprometer a conservação do solo. Alguns produtores aguardam para realizar a implantação de cereais de inverno; outros realizam a de plantas de cobertura ou forrageiras de inverno, como azevém e aveia-preta, com o objetivo de manter a cobertura vegetal.
Em algumas lavouras, estão sendo implantados terraços para controlar a erosão hídrica e promover a conservação do solo. Também foram observadas aplicações de calcário, visando à correção da acidez do solo e à adequação da saturação por bases para o próximo cultivo.
Na região administrativa da Emater/RS-Ascar de Bagé, na Fronteira Oeste, dos 697.310 hectares cultivados restam cerca de 23 mil hectares (3,3%) por colher. A colheita foi concluída em Barra do Quaraí, Maçambará, Rosário do Sul, Santa Margarida do Sul, São Gabriel e Uruguaiana. Em São Gabriel, a quebra foi de 50% em relação à estimativa inicial de 2.880 quilos por hectare.
Em Alegrete, o excesso de chuvas, pela segunda semana consecutiva, tem restringido o avanço da colheita, sendo possível o acesso apenas às áreas de coxilhas mais drenadas e solos de textura arenosa. Em São Borja, ainda há cerca de 2% dos 105.000 hectares por colher. As produtividades estão bastante heterogêneas, com médias em torno de 1.080 quilos por hectare nas áreas de sequeiro e 3 mil quilos por hectare em áreas irrigadas.
Na Região da Campanha, dos 374.500 hectares cultivados restam cerca de 11 mil hectares por colher (2,94%). O clima no período foi caracterizado por ausência de chuvas e temperaturas amenas, mas a redução do fotoperíodo e a elevada incidência de orvalho têm limitado o tempo efetivo disponível para as operações de colheita.
A operação foi concluída em Caçapava do Sul e Candiota. Ainda há áreas de semeadura tardia em Aceguá, Bagé, Dom Pedrito, Hulha Negra e Lavras do Sul, que devem ser colhidas até o final de maio. Em Hulha Negra, a produtividade média varia em torno de 1.800 quilos por hectare. Em razão desse desempenho, aliado aos preços pouco atrativos da soja, muitos produtores enfrentarão dificuldades para quitar os compromissos da safra atual, especialmente os que possuem custos com arrendamento e dívidas prorrogadas de safras anteriores. Alguns produtores estão avaliando a entrega de maquinários como forma de amortização de dívidas, o que evidencia uma possível retração na área cultivada com a oleaginosa na próxima safra.
Do ponto de vista agronômico, o principal desafio da safra foi o controle de plantas daninhas, que exigiu elevado investimento em herbicidas. Ainda assim, observam-se áreas com infestação severa e perdas estimadas em até cinco sacas por hectare por matocompetição. Além das espécies já recorrentes na região, surgiram os primeiros relatos de infestação por vassourinha-de-botão (Spermacoce verticillata), ampliando o espectro de plantas invasoras e, consequentemente, os custos operacionais com o manejo químico.
As lavouras localizadas no sul do município apresentaram os melhores desempenhos produtivos, confirmando os relatos de produtores de Aceguá, que registraram médias em torno de 2.280 quilos por hectare. Diversas áreas superaram 2,7 mil quilos por hectare, localizadas em 20 municípios da região administrativa de abrangência da Emater/RS-Ascar. A colheita foi concluída nas regiões administrativas de Caxias do Sul, de Frederico Westphalen, de Passo Fundo e de Soledade.
Na de Erechim, ainda há algumas áreas a serem colhidas, mas sem expressão estatística. Na de Ijuí, há pouco mais de 1% por colher, correspondente a lavouras de segundo cultivo, implantadas após a colheita do milho.
Na de Santa Maria, a colheita foi encerrada na maior parte dos municípios, restando pequenas áreas, sem relevância estatística. Na de Pelotas, a colheita alcançou 95% da área, e 5% estão em maturação fisiológica e prontas para a colheita. Os municípios com maior proporção de áreas remanescentes são Jaguarão (25%), Rio Grande (20%) e Santa Vitória do Palmar (17%). Na de Santa Rosa, a colheita atingiu 98% da área cultivada. Restam lavouras semeadas em março.