Junho terá menos chuvas no Rio Grande do Sul

O fenômeno El Niño está na reta final, passando pela fase de transição para neutralidade

O mês de maio ficará marcado pelas chuvas intensas, cheias de rios e tragédias climáticas no Rio Grande do Sul. O fenômeno El Niño, que contribuiu para esses extremos climáticos, está na reta final, em transição para neutralidade. Com isso, a previsão para o próximo mês indica para variações entre períodos secos e chuvosos, assim como oscilações de temperaturas. De forma geral, deve chover menos no estado em junho.

“A gente já vem observando que as frentes frias, quando passam pelo nosso estado, elas já estão passando mais rápido e gerando menos chuva. Então isso já mostra sinais de que o início do inverno pode ser um pouco mais seco”, ressalta a meteorologista Jossana Cera, do Instituto Riograndense do Arroz (Irga).

Essa redução das chuvas é fundamental para a recuperação do estado, que ainda tem diversas áreas alagadas, e para o agronegócio. “A gente sabe que o período de outono e inverno é importante para fazer os ajustes nas lavouras e os produtores precisam de tempo seco para fazer esses trabalhos. Tem toda a preocupação da parte de pastagens também que precisam ser implementadas”, ressalta Jossana.

As temperaturas ao longo de junho irão depender da frequência da ocorrência de chuvas. Na média geral, são esperadas temperaturas entre o normal para o mês e até acima da normal. “A tendência é de que não seja aquele frio tão duradouro, justamente porque a gente está nessa fase de transição. O aquecimento do El Niño, por mais que ele tenha cessado, pode impactar ao longo do próximo mês e no mês de julho também”, informa a meteorologista.

Levando em conta a transição do El Niño para a fase de neutralidade e a expectativa do início do La Niña durante o inverno, as temperaturas mais baixas podem se prolongar, com um início de setembro mais frio.

Previsão para os próximos dias

Nesta semana, um sistema de baixa pressão entre parte do Rio Grande do Sul e o Oceano causou chuva no Rio Grande do Sul. Nesta terça-feira (28), esse sistema começa a se afastar, mas ainda com nebulosidade e chuva, principalmente na Zona Sul, com risco também de vento forte.

Para os próximos dias, até a sexta-feira (31), a previsão é tempo seco em todo o estado. A chuva retorna no sábado (01) com a aproximação de uma nova frente fria e pode se estender até a próxima sexta-feira (07). “Por mais que sejam vários dias com o tempo mais fechado e chuvoso, em princípio, os volumes serão baixos, no máximo entre 50 e 60 milímetros distribuídos ao longo desse período. Então não é um volume tão alto de chuva”, ressalta a meteorologista.

Mês de maio

As chuvas extremas no Rio Grande do Sul começaram no final de abril. Elas foram causadas pela combinação entre o avanço de uma frente fria e a formação de uma massa de ar quente e seco no Sul, Sudeste e Centro-Oeste do Brasil, o que deixou a frente fria estacionária sobre o estado. Ela se tornou uma frente quente e, associada ao fluxo de umidade vindo da região norte do país, ocasionou a chuva em excesso. As frentes frias estacionárias se repetiram ao longo do mês de maio, mas com volumes menores de chuva.

Mil milímetros seria o volume de precipitação para seis meses aqui no estado

Jossana Cera – meteorologista do Irga

Em alguns pontos do estado, o acumulado de chuvas passou de mil milímetros ao longo do mês. “Na maioria dos municípios do Rio Grande do Sul, principalmente nessa época, a normal climatológica gira em torno de 50 milímetros. Mil milímetros seria o volume de precipitação para seis meses aqui no estado. Então é muita água, o que acabou gerando todos os impactos, tanto nas cidades como na parte da agricultura”, ressalta Jossana.

Mudanças climáticas

Os eventos extremos destacam a importância dos alertas realizados pelos meteorologistas e para a iminência das mudanças climáticas. “A gente sempre dá o alerta quando existe a possibilidade [de um evento extremo], mas às vezes aquela possibilidade pode não se concretizar ou vem um evento mais fraco do que estava sendo projetado. Vale lembrar que a gente utiliza modelos e o meteorologista interpreta os dados para fazer a previsão. Eu vejo muitas vezes os meteorologistas desacreditados justamente por conta disso”, avalia Jossana.

Além da necessidade de credibilidade aos alertas, é preciso levar em conta o impacto do aquecimento global na reconstrução do estado. “A gente precisa fazer uma investigação, precisa ter um panorama de tudo o que foi afetado, para tomar medidas de como recuperar isso e como no futuro ter menos impactos. Porque esses eventos extremos, pelo que a gente vem observando, parecem estar mais frequentes e também mais intensos”, destaca.