Economia

Agronegócio prevê desaceleração do PIB e desafios econômicos em 2023

Os altos custos de produção e o clima foram considerados os principais vilões do agronegócio brasileiro em 2022. Esses dois fatores são os principais causadores da queda prevista de 4,1% no PIB do setor neste ano. Além disso, a previsão é de que 2023 tenha um crescimento tímido, de até 2,5%. No próximo ano, os custos devem seguir altos, impactando a margem de lucro.

A avaliação foi apresentada hoje (07) pela Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) em coletiva de imprensa virtual. Entre os principais eventos climáticos prejudiciais deste ano, estão a estiagem no Sul e Mato Grosso do Sul e enchentes no Nordeste e Minas Gerais. Com isso, a produção agrícola não atingiu o patamar esperado, totalizando 271 milhões de toneladas, mas alcançou um novo recorde.

Entre os destaques, estão o crescimento nas exportações de milho, que cresceram 116% no acumulado do ano até novembro. Além disso, o país reduziu a importação de trigo e está colhendo uma safra recorde do cereal. No aspecto negativo, o La Niña causou impacto de mais de R$ 83 bilhões na produção de milho e soja do Sul e MS.

Na pecuária, a suinocultura apresentou o pior desempenho entre as cadeias produtivas. “Um setor que entrou em crise principalmente por questões internacionais, com grande produção, mas redução de consumo, o que afetou a rentabilidade na cadeia”, afirma o diretor técnico da CNA, Bruno Lucchi. Além disso, a arroba do boi reduziu com a virada do ciclo pecuário e o leite teve a menor captação da série histórica no primeiro semestre do ano.

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2023

Para 2023, a expectativa é de que a produção agropecuária brasileira passe de 300 milhões de toneladas. No cenário global, deve ser observado um crescimento em ritmo mais lento da economia, com a inflação mundial ainda em patamares elevados. A produção mundial de soja e trigo deve crescer, resultando em um maior estoque de soja, o que traz a tendência de queda de preço, cenário semelhante ao milho. Por outro lado, o trigo deve ter preços ainda maiores no próximo ano.

Política

A CNA demonstrou preocupação com a PEC da Transição e afirma haver risco de endividamento do país. De acordo com Lucchi, é viável o Brasil adotar uma nova regra de gastos, porém ele acredita que deve haver cuidado com os valores que irão exceder o teto e o período de vigência. Além disso, o setor demanda reformas administrativa, política e tributária.

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Em relação ao novo governo, o Presidente CNA, João Martins, disse que não vê necessidade de dialogar com a transição antes de ter conhecimento das propostas do governo. De acordo com Martins, a entidade entregou um documento com demandas e propostas a todos os candidatos. O setor e a entidade demonstraram apoio ao atual governo durante a campanha.

Internacional

As exportações em 2022 dispararam e os resultados até outubro já superam o total do ano anterior, com US$ 136,1 bilhões exportados. O volume embarcado, no entanto, se manteve praticamente estável.

Entre as negociações, um dos principais avanços foram o Acordo de Livre Comércio com Singapura, que deve servir como hub de negócios para os países do Leste e do Sudeste asiático.

Para o ano que vem, a expectativa é de crescimento da demanda por commodities em países de baixa a média renda. Atenção também para a crise energética mundial, instabilidade geopolítica e desaceleração das importações pelos chineses.

De acordo com a diretora de Relações Internacionais, Sueme Mori, o setor está preocupado com as restrições que devem ser impostas pela União Europeia para produtos com origem em áreas desmatadas ou degradadas. A diretora afirma que há dúvidas quanto às regras e o presidente, João Martins, avalia que deve ser distinguido desmatamento e garimpo ilegal do que é legalizado.

Crédito rural

Em relação ao Plano Safra, a entidade considera que as suspensões oneram mais os produtores rurais. Porém, que atualmente apenas as linhas de investimento estão suspensas. “Com as taxas que temos hoje e o cenário ainda incerto com todo o contexto nacional e internacional, o produtor está tentando segurar o investimento, ele está mais preocupado com o custeio”, avalia Lucchi.

Em relação ao objetivo do novo governo de aliar taxas menores de juros às práticas ambientais, a ressalva é de que isso já ocorre, portanto seria necessário saber o que será acrescentado. “Qualquer tipo de prática ambiental que possa ampliar ainda mais a vantagem do crédito é muito bem-vinda para o produtor rural, porque a grande maioria já faz isso. Então será incorporado e vai ser um estímulo para que se acelere ainda mais esse processo de transição e intensificação de produção e preservação do meio ambiente”, considera Lucchi.

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