Agronegócio

Crise faz com que suinocultores independentes abandonem a atividade

"Se fala em suinocultura, mas não no suinocultor", afirma presidente da ACCS

Altos custos de produção, preços pagos despencando e queda no volume de exportação da carne suína são alguns dos gargalos enfrentados pelos suinocultores brasileiros. Diante desse cenário, os produtores independentes, que já estão há mais de 16 meses em crise econômica, têm feito protestos em apelo ao governo estadual e federal, e também à cadeia para que esta que diminua cerca de 20% a 30% de toda a produção suinícola.

“Nós temos na mesma atividade a suinocultura que vai bem, que cresce e que exporta, batendo recordes, mas por outro lado o suinocultor que está perdendo a propriedade pelo tamanho da dívida que está crescendo por estar acumulando um forte prejuízo a cada suíno carregado da propriedade”, afirma o presidente da Associação Catarinense de Criadores de Suínos (ACCS), Losivanio Luiz de Lorenzi.

De acordo com a associação, a ideia é envolver a bancada de deputados e senadores catarinenses na união de forças, além de buscar respostas junto ao Ministério da Agricultura e à própria presidência. Entre as solicitações, estão a operacionalização do Programa de Escoamento de Produção (PEP), para trazer milho subsidiado à Santa Catarina; linhas de crédito a longo para que o produtor possa refinanciar as matrizes e continuar produzindo e diminuição dos impostos sobre a carne suína para escoar a produção que está sobrando.

Crescimento desordenado

O dirigente ressalta que houve um crescimento acelerado da produção entre 2018 e 2020 que não foi absorvido pelo mercado. Neste período, a Peste Suína Africana (PSA) atingiu em cheio a China, maior produtor e consumidor de porcos do mundo, a qual “detém 48% da população mundial de suínos”, frisou Lorenzi. “Então houve um crescimento desordenado por parte de todos, indústria, cooperativas, mini integradores, produtores independentes e agora a conta chegou pra todos. Porque apesar de estarmos exportando muito, apesar de termos aumentado o consumo ano passado no mercado interno, ainda assim é insuficiente pelo volume que chegou a campo”, explica o presidente da ACCS.

Em 2016, quando a suinocultura também passou por uma forte crise, o número de matrizes instaladas em Santa Catarina era de 432 mil. Em contraponto, em 2020 esse número passou de 756 mil. Lorenzi reforça que outros estados, como Paraná e Rio Grande do Sul, também aumentaram suas produções. Dessa forma, “precisamos regular oferta e procura, já que menos produção é mais preço e muita produção é prejuízo no bolso”, alerta.

“Além de aumentar o número de matrizes, aumentou também o peso de abate dos animais, jogando mais carne no mercado e melhorou a produtividade; então esses três fatores fizeram com que a gente chegasse nesse ponto em que nós estamos; por isso hoje nós precisamos da atitude de todas as pessoas que vivem da suinocultura pra mudar essa realidade. E a gente tem que trabalhar conscientemente numa redução de plantel para que daqui quatro a seis meses a curva comece a mudar”, ressalta Lorenzi.

Braço do Norte

A região tem a maior concentração de suinocultores independentes do Estado. Somente em Braço do Norte, existem pelo menos 27 estabelecimentos ligados à cadeia da suinocultura. Existem cerca de 500 produtores de suínos no município, e destes em torno de 100 são independentes.

“Insustentável manter uma propriedade dessa por mais tempo. A gente já vê vários produtores abandonando a atividade porque não acreditam mais que poderá ter uma remuneração a qual eles consigam sobreviver pra chegar lá na frente; então antes de se endividar mais para arriscar perder a propriedade, eles preferem parar mesmo não sobrando nada. Em Braço do Norte acredita-se que 10% já encerraram ou estão encerrando as atividades”, lamenta o dirigente.

Diante disso, houve um manifesto no município no dia 29 de março, na Praça Padre Roer, com distribuição de cerca de oito toneladas de carne suína gratuitamente para a população. “A mobilização visa tornar público a indiferença política diante das demandas urgentes do setor. Por fim, a distribuição de carne suína visa incentivar as pessoas a consumirem mais a proteína”, informa Lorenzi.

Custo de produção

Segundo o presidente da Associação, com o maior descarte de matrizes, os preços da carne suína seguiram sendo pressionados. Portanto, o preço pago pelo quilo do suíno vivo é de R$ 4,70 enquanto o custo de produção passa dos R$ 8,00 em Santa Catarina. Em fevereiro, o poder de compra do suinocultor frente aos principais insumos consumidos na atividade, que são milho e farelo de soja, acumulou três meses consecutivos de queda frente ao milho e quatro frente ao farelo de soja.

“O milho a R$ 110,00 o saco e o farelo de soja a R$ 3.100 a tonelada; e depois toda a linha de vacinas, medicamentos e nutrição, que subiram com a alta do dólar e agora com o dólar caindo, mas se mantendo lá em cima o preço; realmente o custo chega aos R$ 8,00. Então contabilizando R$ 4,70 para R$ 8,00 temos R$ 330,00 de prejuízo por animal comercializado”, destaca.

Cadeia produtiva

Abastecidas pelos animais criados por seus produtores integrados, a cooperativas e agroindústrias também tem impacto no faturamento com a crise na suinocultura. No modelo verticalizado, as empresas fornecem os leitões e arcam com o custo total de produção, incluindo a ração, assistência técnica, medicamentos e transporte.

O suinocultor integrado recebe um valor fixo por animal que cria e devolve para o abate; em contraponto, além de bancar todos os custos, o suinocultor independente depende da variação de preços na hora de entregar o animal nos frigoríficos.