Prejuízos

Enchentes afetaram mais de 206 mil propriedades rurais no RS

Dados relativos aos danos no meio rural foram divulgados nesta segunda-feira (03) pela Emater/RS-Ascar

Foto de um corpo de água correndo entre a terra.
Ao todo, 9,1 mil localidades foram atingidas em 456 municípios | Foto: Divulgação/ Emater/RS-Ascar

Mais de 206,6 mil propriedades rurais foram afetadas pelas chuvas e enchentes que atingiram o Rio Grande do Sul entre abril e maio. Os dados foram divulgados hoje (04) no Relatório de Perdas, elaborado pela Emater/RS-Ascar e divulgado pela Secretaria da Agricultura, Pecuária, Produção Sustentável e Irrigação (Seapi) e de Desenvolvimento Rural (SDR).

Ao todo, 9,1 mil localidades foram atingidas em 456 municípios, com danos principalmente em construções e estradas. Mais de 19,1 mil famílias rurais tiveram instalações e construções afetadas, incluindo 14 mil casas, 8,1 mil galpões, 328 armazéns e 738 silos. Além de 594 estufas de fumo, 2 mil estufas/túneis plásticos para horticultura, 4,9 mil açudes – incluindo piscicultura e irrigação -, 804 aviários e 932 pocilgas.

Os problemas de escoamento da produção devido aos danos em estradas vicinais também foram significativos, afetando 4,5 mil comunidades. O acesso à água potável também ficou prejudicado, com 4,5 mil fontes de água contaminadas e 34,5 mil famílias sem acesso à água potável na zona rural.

“Essa é a maior tragédia da história do nosso Estado, e atinge proporcionalmente a agricultura, que é nosso maior setor produtivo. A partir desse levantamento de perdas, vamos conseguir agir com ainda mais precisão e celeridade na estruturação de ações e políticas públicas para auxílio aos agricultores familiares e recomposição de nossas áreas produtivas”, afirmou o titular da SDR, Ronaldo Santini.

“As ações de recuperação que deverão ser executadas com essas famílias serão orientadas para o desenvolvimento social, econômico, ambiental e cultural, numa perspectiva socialmente justa, ambientalmente sustentável e economicamente viável”, disse o diretor técnico da Emater/RS-Ascar, Claudinei Baldissera.

Grãos

Na produção de grãos, foram registradas perdas significativas nas áreas remanescentes de cultivos de verão, que ainda não haviam finalizado a colheita. Ao todo, 48,6 mil produtores de grãos foram afetados. A Emater/RS-Ascar ressalta que o evento deverá repercutir na redução da safra estadual.

“Os números retratam a magnitude que o evento meteorológico causou no agro gaúcho. Ações emergenciais já foram tomadas para tentar minimizar os efeitos nas áreas rurais, como a flexibilização de normativas, mas os demais projetos devem ser construídos junto com os setores e entidades, para ajudar na reconstrução dessa área produtiva que é tão importante não só para a economia gaúcha mas também brasileira”, frisou o titular da Seapi, Giovani Feltes.

Pecuária

A pecuária gaúcha também foi bastante afetada, sendo que mais de 3,7 mil criadores perderam animais durante os eventos climáticos extremos. O maior contingente de animais perdidos são aves comerciais, com a perda de mais de 1,1 milhão de cabeças. Além disso, 14,8 mil bovinos de corte, 14,7 mil suínos e 2,4 mil bovinos de leite foram perdidos. Na piscicultura as perdas somam 937,93 toneladas, enquanto 16 mil caixas de abelhas foram perdidas na apicultura.

Além da perda de animais, mais de 32,4 mil produtores registraram prejuízos em pastagens, incluindo campo nativo, plantas forrageiras e cultivos para silagem. Essas perdas afetam o sustento dos rebanhos e impactarão diretamente a produção de leite e de carne nos próximos meses.

Um dos setores mais afetados foi a produção leiteira. Além da perda de animais, houve impossibilidade de ordenha e a passagem dos caminhões com tanque coletor de leite foi impedida pela falta de acesso às propriedades. “Em várias localidades, esses problemas ainda persistem, pois não é possível realizar a coleta de maneira contínua, o que provoca prejuízos econômicos, bem como o desabastecimento”, destaca o Relatório. Diante disso, mais de 1,4 milhão litros não foram coletadas diariamente, totalizando em mais de 9,6 milhões litros não coletados, o que prejudicou 7,4 mil produtores.

Frutícolas

O período do evento climático extremo coincidiu com a fase final de frutificação de importantes variedades de citros, em especial a bergamota, que já estava em colheita. Em muitos pomares, o solo ficou alagado, não somente em razão da inundação, mas por vários dias com precipitações volumosas. Os citros, na região dos Vales, e a banana, nas encostas da Serra do Mar, foram as culturas mais prejudicadas, com impacto para 8.381 propriedades.

Os deslizamentos de terra e destruição de infraestrutura causaram danos significativos nas frutíferas permanentes, especialmente nos parreirais em entressafra. Mais de 500 hectares de parreirais foram destruídos na principal região afetada, que inclui os municípios de Veranópolis, Cotiporã, Bento Gonçalves, Nova Roma do Sul, Caxias do Sul e Pinto Bandeira.

Olericultura

Mais de 8 mil produtores de hortaliças foram afetados, o que impactou consideravelmente a cadeia de suprimentos e a economia estadual. As culturas de folhosas e leguminosas sofreram maior impacto na região Metropolitana, na Serra e nos vales do Taquari e do Caí.

Considerando o volume e a área plantada, as maiores perdas foram de batata, brócolis e aipim. As dificuldades logísticas para escoar a produção remanescente e a incerteza sobre a demanda provocaram a redução da oferta, mas não houve interrupção total, situação que permitiu uma menor elevação dos preços na Ceasa/RS.

A intensidade das chuvas danificou a estrutura foliar tenra das olerícolas folhosas (alfaces, rúculas e radiches) e dos temperos (salsa e cebolinha). Houve prejuízos também em relação à qualidade e à aparência das verduras.

Agroindústrias Familiares e Cooperativismo

Além da produção primária, 200 empreendimentos de agroindústria familiares sofreram prejuízos, segundo dados preliminares.

Além disso, estruturas de cooperativas também foram afetadas. Entre 120 cooperativas assessoradas pelo Programa de Extensão Cooperativa (PEC) da Emater/RS – Ascar e da SDR, 47 forneceram dados. Dessas, 76,6% das cooperativas, com cerca de 10 mil associados, registraram prejuízos, principalmente em relação à comercialização. No entanto, 12,7% sofreram perdas em todos os aspectos pesquisados, incluindo danos em estrutura física ou veículos, equipamentos e/ou maquinarios e produtos estocados/armazenados.

Em relação aos financiamentos, 53% tomaram financiamentos para investimento, sendo 52% Pronaf, 32% Feaper e 16% outros financiamentos. O valor total desses financiamentos soma cerca de 6,7 bilhões. Além disso, 25% reportou financiamentos para custeio, que somam cerca de 4 bilhões, sendo um Feaper e os demais Pronaf.

Povos indígenas

O Relatório também divulgou dados referentes aos efeitos da calamidade nos Povos indígenas, Quilombolas e Assentados da Reforma Agrária.

Ao todo, 80% das aldeias indígenas sofreram algum dano material, incluindo moradias, bens e/ou pertences pessoais, 60% sofreram danos relacionados à produção de alimentos pelas famílias e na infraestrutura rural e 100% das aldeias indígenas sofreram danos (diretos ou indiretos) relacionados a a comercialização do artesanato, sua principal fonte de obtenção de renda.

A maioria das comunidades quilombolas do Rio Grande do Sul também foram afetadas, número que chega 88%. Os prejuízos incluem perdas de cultivos em hortas e lavouras, destruição de infraestrutura agrícola e de criação de animais, além de perdas em pomares e insumos armazenados. O acesso ao trabalho e a produção agropecuária também foi afetado, gerando insegurança alimentar.

Nos assentamentos da reforma agrária, 7,4 mil lotes distribuídos em 226 assentamentos foram afetados, impactando diretamente 7.311 famílias assentadas, das quais 244 foram desalojadas
de suas moradias. As perdas agrícolas estão estimadas em mais de 50 mil hectares, sendo que 17,9 mil hectares de solo arável foram prejudicados e mais de 10 mil hectares ficaram submersos. Além disso, 2 barragens, 86 açudes e 4 reservatórios foram comprometidos.

Com informações da Emater/RS-Ascar