Enchentes

Perdas no agronegócio gaúcho passam de R$ 3 bi e Farsul demanda nova linha de crédito

Foto de área rural alagada.
Prejuízos ainda são estimados por produtores e entidades | Foto: Isabelle Brendler/Arquivo Pessoal

Os prejuízos do agronegócio com as chuvas e enchentes no Rio Grande do Sul são de, pelo menos, R$ 3 bilhões em locais inundados. A estimativa é da Federação da Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul (Farsul), divulgada nesta segunda-feira (27) em coletiva de imprensa online. O número corrobora os dados da Confederação Nacional de Municípios (CNM), que estima perdas econômicas em R$ 2,9 bilhões.

As entidades ressaltam que esses números ainda devem aumentar conforme os levantamentos e avanço das chuvas, que seguem prejudicando a colheita e a qualidade das lavouras remanescentes no estado.

Em média, as perdas chegam a R$ 1,4 milhão por produtor rural, considerando o levantamento divulgado pela Farsul, realizado com mais de 500 produtores rurais. Entre os consultados, 59,5% afirmam que possuem endividamento em todas as categorias, incluindo custeio, investimento, comercialização e arrendamento. A média de endividamento é de RS$ 415,1 mil. A maioria, 38,6%, devem entre R$ 50 e R$ 500 mil, enquanto 23,9% devem entre R$ 500 mil e R$ 1 milhão, 16,7% entre R$ 1 e R$ 2 milhões e, por fim, 10,9% devem mais de R$ 2 milhões.

Mais da metade dos produtores também já havia renegociado dívidas para pagamento neste ano. “Os produtores rurais não estão sofrendo só nesta safra, nas duas safras que antecederam, pelo motivo oposto, nós deixamos de colher 30 milhões de toneladas de grãos, o que trouxe o produtor rural para esta safra enfraquecido”, afirma o presidente da Farsul, Gedeão Silveira Pereira.

Quase a totalidade dos produtores consultados afirmam que precisam de crédito para retomada e 60,4% está muito pessimista sobre a sobrevivência do negócio.

A Farsul reconhece medidas emergenciais já adotadas, como a prorrogação do prazo para pagamento do crédito rural e medidas anunciadas para pequenos e médios produtores anunciadas pelo Ministério do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar, mas afirma que ainda é preciso avançar nas medidas para os demais produtores. Para isso, eles esperam anúncios durante a visita do ministro Carlos Fávaro ao Rio Grande do Sul, que irá acontecer amanhã (27).

A proposta apresentada à pasta solicita a abertura de uma linha de crédito de giro para sanar pagamentos com vencimento neste ano e permitir o custeio da próxima safra. A linha seria destinada a produtores rurais que estejam em municípios afetados por inundação, com decreto de emergência ou calamidade pública, e que estejam acompanhados de laudo de perdas assinadas pelo agrônomo responsável, ou entidade pública de extensão e/ou formação profissional, ou com comprovada dificuldade de comercialização por razões logísticas. A entidade propõe pagamento em 15 parcelas anuais, com juros dentro da Meta da Inflação apontada pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) ao Banco Central, que hoje está em 3% ao ano e sugere carência das duas primeiras parcelas.

Arroz

A Farsul reforçou as críticas à importação de arroz de até 1 milhão de toneladas de arroz aprovada pelo Governo Federal no início do mês para para a recomposição dos estoques públicos e a medida que zerou o imposto de importação de três tipos de arroz, com o objetivo de evitar especulação financeira e estabilizar o preço do produto.

“É a pá de cal em cima do produtor rural do Rio Grande do Sul”, classifica Gedeão Pereira, que considera a medida “tresloucada”. “Trazer um milhão de toneladas de arroz significa comprometer a próxima safra, não essa, porque essa já está colhida e está circulando. A dificuldade para abastecer o mercado nesse período breve que estamos passando é justamente por não termos logística e grande dificuldade de emitirmos notas fiscais eletrônicas para que o produto saísse do Rio Grande do Sul”, afirma.