Agronegócio

Perspectivas do El Ninõ para o ano de 2024

Perspectivas do El Ninõ para o ano de 2024

O fenômeno El Niño, caracterizado pelo aquecimento anômalo das águas superficiais do Oceano Pacífico na faixa equatorial, está atualmente totalmente configurado e atingindo seu pico de intensidade. O desenvolvimento do El Niño teve início entre fevereiro e março de 2023, quando foram observados desvios muito positivos de temperatura na superfície do mar nas áreas costeiras do Peru e do Equador. Ao longo do outono de 2023, o aquecimento se expandiu para outras áreas do Pacífico equatorial, consolidando efetivamente o fenômeno.

No boletim datado de 8 de junho de 2023, a NOAA anunciou um aquecimento consistente que persistia por alguns meses, marcando o início oficial do El Niño, que se intensificou durante a primavera, variando de forte a muito forte no início do verão. O El Niño traz alterações no regime de chuvas e no padrão de temperaturas, sendo observados efeitos significativos em todo o território nacional desde o inverno.

No Sul do país, o transporte de ar quente mais intenso, favorecido pelo fenômeno e em contraste com o avanço de ar frio do sul, contribuiu para eventos de chuva expressivos, com acumulados muito altos e transtornos significativos, especialmente entre setembro e novembro. Por exemplo, a cidade de Passo Fundo, no norte gaúcho, registrou mais de 1400mm de chuva nesses três meses, quase três vezes a média climatológica para o período.

Já no Norte do país, a situação foi oposta, com chuvas pouco frequentes e volumosas, ocorrendo sob temperaturas muito altas, contribuindo para uma seca histórica que praticamente secou os rios da região Amazônica. O Rio Negro, em Manaus, atingiu seu menor nível histórico em 26 de outubro de 2023, registrando 12,7m, abaixo da antiga mínima de 13,6m em 24 de outubro de 2010. O calor também foi intenso, com Manaus quebrando recordes sucessivos de temperatura entre setembro e outubro, atingindo uma máxima histórica de 40,0 °C em 10 de outubro. Nesse período, a cidade ficou coberta por fumaça das queimadas na região, tornando-se uma das localidades mais poluídas do mundo em alguns dias.

Nas porções mais centrais do país, apesar do retorno das chuvas um pouco mais cedo, entre o final de agosto e o início de setembro, a regularidade não se manteve, prejudicando a instalação de diversas culturas no MATOPIBA e em Mato Grosso. Os volumes de chuva ficaram abaixo da média em uma faixa entre o Norte e Sudeste do Brasil entre outubro e dezembro. Durante toda a primavera, grandes massas de ar seco estabeleceram-se em amplas áreas do país, provocando diversas ondas de calor intensas.

A onda de calor observada em novembro chamou a atenção, ocorrendo em um período em que as chuvas normalmente ficam regulares em boa parte do país, e o calor se torna mais moderado devido à umidade mais alta. Nesse evento, recordes de calor foram quebrados em várias capitais, como São Paulo, Belo Horizonte, Goiânia e Cuiabá. Entre setembro e novembro, as temperaturas ficaram entre 2 e 4 °C acima da média histórica em uma área ampla que contempla as cinco regiões do país.

Quanto às perspectivas para o verão de 2024, o El Niño iniciou forte, alcançando seu pico de intensidade. Ao longo de janeiro, o fenômeno permanecerá com forte intensidade, mas seu enfraquecimento começará em fevereiro, estendendo-se até março, encerrando o mês com uma intensidade fraca a moderada. Nesse contexto, alguns efeitos clássicos do El Niño continuarão sendo observados durante o verão, com temperaturas mais altas que o normal na maior parte da estação e a região Amazônica registrando volumes de chuva abaixo da média histórica. É relevante destacar que, nos meses do verão, especialmente em março, os acumulados serão elevados sobre boa parte da região.

Na região Sul, o efeito do fenômeno é mais pronunciado durante os meses da primavera e início do verão. Até o início de março, a região experimentará chuvas mais irregulares, com risco menor de chuvas muito volumosas e abrangentes. Contudo, é importante ressaltar que risco menor não significa ausência de risco. A partir da segunda quinzena de março, com as entradas de ar frio se tornando um pouco mais frequentes, esse risco deverá aumentar novamente.

No norte da região Nordeste, é esperado um padrão de menos chuva durante a quadra chuvosa, juntamente com uma estação seca mais prolongada, características comuns em anos de El Niño. Devido ao Atlântico Tropical mais aquecido que o normal e ao comportamento próximo à normalidade das temperaturas ao redor da faixa equatorial, a Zona de Convergência Intertropical (ZCIT), principal moduladora das chuvas na região, deverá ficar próxima de sua posição normal. Isso levará mais umidade à costa norte e ao interior da região entre fevereiro e março. Entretanto, espera-se uma diminuição da chuva já em abril, com um comportamento mais irregular, especialmente em áreas do interior dos estados do Ceará, Piauí e Maranhão.

Quanto à situação no outono e inverno, a expectativa é que o El Niño continue enfraquecendo no início do outono, passando para uma fase neutra ao longo da estação. Modelos de previsão indicam o resfriamento nas porções mais a leste do Pacífico equatorial a partir de abril, propagando-se pelas demais regiões até próximo do fim do outono astronômico, em 21 de junho. A última projeção do IRI/CPC indica uma probabilidade de 73% de fase neutra entre abril e junho. Atualmente, o cenário mais provável é que o outono comece com El Niño fraco e termine com neutralidade. Contudo, essa projeção requer monitoramento, pois ocorre durante a “Barreira da Primavera”, período em que a previsibilidade diminui.

Modelos de longo prazo sugerem a instalação da fase oposta do El Niño, a La Niña, durante o inverno de 2024. Essa condição provavelmente persistirá até o próximo verão, entre 2024 e 2025. Na projeção mais recente do IRI/CPC, a probabilidade de La Niña já é superior a 50% no trimestre julho/agosto/setembro. O histórico de dados respalda essa possibilidade, considerando a alternância entre El Niño forte e La Niña em anos anteriores.