Agronegócio

Pecuaristas de corte esperam lucratividade menor e ano difícil para o setor

O ano de 2022 é visto com cautela pelos bovinocultores de corte do Sul do Brasil. A atividade sofre um impacto um pouco mais lento, em comparação com a agricultura e atividade leiteira, mas não escapa dos prejuízos da estiagem. “O produtor tinha uma programação do sistema forrageiro e isso não veio a acontecer, muitas vezes tendo que comprar alimento de fora, isso foge do programa e acarreta um custo maior”, explica o pecuarista catarinense Leonardo Durigon.

A pecuária de alta tecnologia exige investimentos em pastagem e adubação. Com os custos elevados, a expectativa é por uma lucratividade menor.

Além disso, o estresse térmico deve afetar também a prenhez das vacas. “Como é muito quente, eu acredito que vai dar uma porcentagem de prenhez bem menor neste ano comparado com o ano passado, em que correu melhor o clima para a pecuária de corte”, lembra Durigon.
Ainda assim, o ciclo de altos e baixos da pecuária é uma realidade para esses produtores. “Esse ano eu acho que é um ano difícil para o produtor, mas temos que continuar trabalhando porque a pecuária é um ciclo longo, então não tem como fugir do ciclo, mas vai ser um ano difícil para o produtor”, finaliza o pecuarista.

Impactos de longo prazo

A dimensão dos impactos da estiagem para esse setor ainda está começando a ser percebida. “Há uma série de impactos diretos, mas impactos que também irão se refletir no futuro. No caso da pecuária de corte, por exemplo, a redução da condição corporal das fêmeas, a diminuição consequente da produção de leite e por tabela o peso dos terneiros que serão desmamados”, explica o pesquisador Danilo Sant`Anna, da Embrapa Pecuária Sul.

A estiagem no Sul do Brasil chegou ao ponto de faltar água para os animais beberem, além de comprometer a silagem. Apesar de extrema neste ano, a falta de água não é novidade e deve ser repetir. Por isso, Danilo destaca a necessidade de planejamento dos sistemas para a pecuária. Nesse contexto, as pastagens perenes são apontadas como muito importantes. “Elas resistem muito mais a esse tipo de situação, pelo tipo de raiz, ela já é uma pastagem que está estabelecida, a gente não depende dela nascer, germinar e crescer”, relata o pesquisador.

Também é possível utilizar pastagens para cobrir o solo até que as pastagens de inverno sejam implantadas. “Ao mesmo tempo que eu sano as entressafras de pastos, os vazios forrageiros, eu também estou trabalhando para a melhoria do solo, para estruturação de solo, para que a gente consiga depois incorporar melhor os nutrientes, ciclar mais nutrientes e evitar perdas, e isso tudo vai ficar disponível para a cultura que vem depois”, ressalta Danilo.

Para as pastagens de inverno, algumas recomendações podem auxiliar os produtores nesse período pós-estiagem: utilizar de plantadeiras; dar prioridade para culturas como trigo, centeio e aveia – que possuem sementes maiores; utilizar sementes certificadas e de alta qualidade; e fazer o plantio direto.

Ainda assim, Danilo ressalta que é fundamental a avaliação de cada produtor da sua propriedade. No geral, o sistema conservacionista do solo e o planejamento da rotação considerando a propriedade como um todo são benéficos. “Quanto mais a gente melhorar esse solo – e essas pastagens fazem essa melhoria em uma velocidade muito grande, elas realmente são tidas hoje como recuperadoras de carbono e reestruturadores de solo para a própria agricultura. Então, quando a gente faz isso não só a agricultura mas as próprias pastagens se beneficiam desse solo com mais capacidade de armazenamento de água, mais nutrientes disponíveis, plantas mais fortes e mais resilientes”, resume Danilo.