Opinião

CPEX 2025: O Brasil no Epicentro da Transformação Global do Agronegócio – Inteligência Tropical Encontra Inovação Asiática

A mensagem foi recebida com clareza: o mundo quer aprender com o Brasil – e fazer negócios com ele

Shao Honghua deixou claro que a "Era da Inteligência de Dados" está redefinindo o comércio internacional. A China está usando IA e Big Data para identificar mercados, prever demanda, customizar ofertas e gerenciar riscos no comércio exterior | Foto: CEPX/Divulgação
Shao Honghua deixou claro que a "Era da Inteligência de Dados" está redefinindo o comércio internacional. A China está usando IA e Big Data para identificar mercados, prever demanda, customizar ofertas e gerenciar riscos no comércio exterior | Foto: CEPX/Divulgação

Participar do China Pesticide Exporting Workshop (CPEX) 2025 em Hangzhou, China, foi mais do que uma honra; foi um mergulho no futuro do agronegócio global. Representar o Brasil neste encontro crucial da indústria agroquímica me permitiu não apenas compartilhar a força e a inovação da nossa agricultura tropical, mas também absorver insights que, acredito, são divisores de águas para o produtor rural brasileiro. Minha defesa sempre será a do agricultor, e é por essa lente que analiso os aprendizados de um evento tão estratégico.

O Brasil que Alimenta e Inova: Nosso Protagonismo Global

Minha apresentação no CPEX 2025 focou em posicionar o Brasil como uma potência agrícola global. Destaquei como alinhamos tecnologia, ciência do solo, manejo de culturas e a profissionalização crescente de nossos agricultores para produzir com responsabilidade ambiental e social. Apresentei exemplos práticos do uso de tecnologias nutricionais, agricultura de precisão e soluções integradas que colocam o agricultor no centro das decisões. A mensagem foi recebida com clareza: o mundo quer aprender com o Brasil – e fazer negócios com ele. É fundamental que essa percepção se traduza em parcerias que valorizem nosso know-how tropical.

Insights Cruciais do CPEX 2025: A Nova Ordem Global

As apresentações de Shao Honghua, Adrienne Chang e Eva Hoo foram um verdadeiro panorama da transformação pela qual a indústria agroquímica global está passando.

  1. Transformação Tecnológica e Diversificação na China: Eva Hoo ressaltou a transição da indústria química chinesa de um cenário de supercapacidade para um modelo de inovação e globalização. Os investimentos agora se concentram em ingredientes ativos de última geração (como pyroxasulfone, prothioconazole e fluxapyroxad), bem como em formulações, bioestimulantes e tecnologias que integram digitalização e sustentabilidade. Isso reflete a busca por “operações de precisão” e “desenvolvimento de alta qualidade”.
  2. A Era da Inteligência Artificial e Big Data: Shao Honghua deixou claro que a “Era da Inteligência de Dados” está redefinindo o comércio internacional. A China está usando IA e Big Data para identificar mercados, prever demanda, customizar ofertas e gerenciar riscos no comércio exterior. Um dado que acendeu um alerta foi a revelação de que o Brasil se tornou o destino número um das exportações chinesas de glufosinato, com um crescimento superior a 100% em volume em 2024. Isso, para o agricultor brasileiro, significa tanto uma fonte vital de insumos quanto um ponto de atenção sobre a nossa crescente dependência.
  3. Marcas Chinesas Buscando Globalização Real: Adrienne Chang detalhou o esforço das marcas chinesas para transcender o papel de meros fabricantes e se tornarem donas de marcas globais. O foco não é apenas preço, mas valor, serviços e experiência de uso. Empresas como Rainbow Agro e Sino-Agri estão redesenhando suas operações – de fábricas à logística, do suporte técnico ao marketing – para atuar em escala global. Essa é uma lição importante para o Brasil: a competição global não é mais apenas por volume, mas por inteligência, marca e sustentabilidade.

Riscos e Oportunidades para o Agronegócio Brasileiro

A análise do cenário global e da ascensão chinesa traz reflexões profundas para o Brasil.

Riscos:

  • Perda de Protagonismo: Se continuarmos focados apenas na exportação de commodities sem o devido investimento em P&D tropical e em valor agregado, corremos o risco de perder nossa posição de liderança.
  • Dependência Crescente: A forte penetração de insumos chineses, especialmente em herbicidas e biofertilizantes, pode gerar uma dependência sem alternativas locais robustas.
  • Avanço em Nossos Mercados: O suporte técnico agressivo e o preço competitivo das empresas chinesas na América Latina podem desafiar o acesso dos produtos brasileiros a esses mercados estratégicos.
  • Barreiras Regulatórias e de Conformidade: As complexidades regulatórias no Brasil e a necessidade de aderência aos padrões ESG são desafios que, embora globais, demandam atenção redobrada.

Oportunidades:

  • Parcerias Estratégicas em P&D e Registro: Há um enorme potencial para parcerias em P&D e no registro de tecnologias adaptadas aos nossos ecossistemas tropicais.
  • Produção Local e Redução de Riscos: Cooperações para a produção local de insumos com empresas chinesas podem reduzir custos, mitigar riscos cambiais e fortalecer a cadeia produtiva nacional.
  • Exportação do Know-How Tropical: Nosso conhecimento em sistemas de manejo, agricultura regenerativa e uso de biológicos é um ativo valioso que pode ser exportado e valorizado globalmente.
  • Acesso a Capital e Experiência em Genéricos: A expertise chinesa em mercados de genéricos e sua capacidade de investimento podem ser uma fonte de capital e aprendizado para empresas brasileiras. O exemplo da Rainbow Agro estabelecendo subsidiárias no Brasil é um prenúncio dessa tendência.
  • Aprendizado em Marketing de Precisão: A abordagem chinesa, impulsionada por dados e IA, na segmentação de clientes e personalização de ofertas, é um modelo para que as empresas brasileiras aprimorem suas estratégias de Go-To-Market (GTM) e atendam melhor ao agricultor.

Sinergias e o Futuro do Agronegócio no Brasil

A “sinergia entre Brasil e China, baseada no reconhecimento das forças e fraquezas de cada um, pode gerar valor mútuo”. A força industrial chinesa e sua tecnologia podem se aliar ao nosso conhecimento técnico em agricultura tropical, criando “soluções tropicais de escala global”. O Brasil, com sua vasta biodiversidade e a demanda crescente por práticas sustentáveis, pode se tornar um “campo de validação e laboratório vivo de novas formulações e tecnologias agrícolas”. Essa complementaridade de “eficiência asiática e criatividade tropical” é um ativo raro e poderoso.

A mensagem de Jinlong Zhang, de que a indústria de proteção de cultivos, por ser intensiva em recursos, será uma das menos afetadas por guerras comerciais e que a globalização é imperativa, ressoa profundamente. Para o agricultor brasileiro, isso significa que a inovação contínua e a busca por eficiências em toda a cadeia de valor são essenciais para manter a competitividade.

O Desafio de Ser Cérebro, Além de Campo

O CPEX 2025 foi, sem dúvida, um divisor de águas. Ele reforçou a máxima de que “você não pode descobrir novos continentes com mapas antigos“. A próxima década será dominada por quem investir em ciência, dados, parcerias e propósito.

Minha principal reflexão, e a mensagem que levo para cada agricultor brasileiro, é que “o Brasil precisa parar de ser apenas o campo e começar a ser também o cérebro da agricultura global“. Precisamos abraçar a transformação digital, investir em inteligência de dados e desenvolver uma mentalidade de “marketing orientado para o cliente”. Ao fazê-lo, buscando “certeza na incerteza” e “força duradoura em um mundo de constante mudança”, o Brasil pode aprender com a experiência chinesa para solidificar sua posição como um player global de destaque no agronegócio. As oportunidades em meio à crise se tornarão, de fato, avanços em tempos de mudança. O futuro da agricultura global passa pelo nosso campo, mas também pela nossa capacidade de pensar, inovar e construir pontes estratégicas.