O clima colaborou com a produção brasileira de cevada. Apesar da queda na área de cultivo, a boa produtividade das lavouras resultou num volume 13% maior em relação ao ano passado. Os grãos também têm atendido os parâmetros de qualidade cervejeira para atender a indústria de malte.
A frustração climática com a safra de inverno de 2023 impactou a produção de cevada, com reflexos na redução da área de cultivo neste ano. A queda na área foi de -6% em relação ao ano anterior, redução que foi compensada pela alta nas produtividades, resultando num volume de produção de 442 mil toneladas de cevada em 2024.
“No ano passado, somente 30% da produção de cevada gaúcha foi para a produção de malte e 70% da safra do Paraná atendeu a indústria cervejeira. Nesta safra, acredito que o aproveitamento seja superior a 90%, com grãos de excelente qualidade para malteação”, avalia o pesquisador da Embrapa Trigo, Aloisio Vilarinho. A observação do pesquisador vem sendo confirmada pelo setor de Classificação e Certificação da Emater/RS-Ascar, por onde já passaram 52 mil toneladas de cevada (quase a metade da produção do RS), com aprovação de 95% dos grãos classificados para a produção cervejeira.
Crescimento associado à indústria cervejeira
O principal destino da produção brasileira de cevada é a indústria de malte, insumo base para a fabricação de cerveja. Atualmente, o Brasil é o terceiro maior produtor mundial de cerveja, atrás da China e dos Estados Unidos. Segundo o site Atlasbig, em 2023 foram produzidas 13,280 mil toneladas de cerveja no Brasil, em média 63 litros para cada habitante.
De acordo com a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), em 2024, o Brasil registrou área de 125,8 mil hectares (ha), com produção total de 442,4 mil toneladas e produtividade média de 3.517 ka/ha. O cultivo de cevada no Brasil está concentrado na Região Sul (PR, SC e RS), com registro de cultivos também em São Paulo a partir de 2022 (área passou de 5 para 11 mil ha). Nos últimos anos, a área de cultivo tem aumentado no Paraná, porém, reduzido no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina. O Rio Grande do Sul que já chegou a cultivar mais de 100 mil ha de cevada no final da década de 1990, em 2024 cultivou apenas 37 mil ha.
Em Santa Catarina, a Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural (Epagri) registrou apenas 310 ha de cevada nesta safra, uma queda de 79% em relação ao ano passado, mesmo com produtividade 60% superior, atingindo 4.200 kg/ha.
Mesmo com 77 mil ha em 2024, o aumento gradativo de área no Paraná não tem sido suficiente para fazer frente à crescente demanda de grãos de cevada com a instalação de novas indústrias de malte e a ampliação das plantas cervejeiras que já atuam no Estado. Nesta safra, a produção paranaense ficou em 284 mil toneladas de cevada, enquanto a demanda no estado supera as 600 mil toneladas.
A cultura da cevada começou a se expandir no Brasil a partir da década de 1970, em grande parte devido às iniciativas da indústria cervejeira, que fomentou a produção nacional para garantir oferta. De 1976 até os dias atuais a área cultivada oscilou ao redor dos 100 mil hectares, tendo em alguns anos sido cultivada área acima de 150 mil hectares. O rendimento da cultura, entretanto, apresentou aumento constante ao longo desse período, passando de 1.018 kg/ha, em 1976, para 3.882 kg/ha, em 2022 (ano com recorde histórico), o que garantiu aumento constante também na produção nacional, que passou de 95 mil toneladas para 498 mil toneladas, no mesmo período.
“Para atender à necessidade de grãos de cevada por parte das maltarias instaladas no Brasil são necessárias, anualmente, cerca de 1,1 milhão de toneladas de grãos, ou seja, mais que o dobro do volume que tem sido produzido nos últimos anos”, explica Aloisio Vilarinho. Para atender somente a indústria de malte, seriam necessários cerca de 300 mil hectares com cultivo de cevada no Brasil.
A indústria cervejeira precisa de grãos de cevada que apresentem um teor mínimo de 9,5% e um máximo de 12% de proteína bruta, além de 95% de taxa de germinação, atributos que permitem fazer malte com qualidade que atende o mercado. Também são desejáveis grãos de maior tamanho (classe 1) e livres da contaminação por micotoxinas. “Em anos com frustrações climáticas, como seca na implantação das lavouras ou excesso de chuva na pré-colheita, os grãos podem não atingir qualidade para malteação e são destinados à alimentação animal com, no máximo, 50% do valor da cevada com padrão cervejeiro”, explica o pesquisador da Embrapa.
Novos mercados na alimentação animal
No mundo, 2/3 da cevada produzida tem como destino a alimentação animal. Porém, no Brasil existem opções mais baratas para ração, como o milho que tem potencial de rendimento muito maior e ampla adaptação no território nacional. Contudo, a gradativa redução no cultivo de milho na Região Sul abre oportunidades para a destinação da cevada para a produção animal, especialmente para bovinos, devido ao alto valor proteico dos grãos que pode resultar em melhor rendimento e qualidade do leite.
Para atender esse mercado, a Embrapa Trigo tem direcionado linhas do programa de melhoramento genético de cevada para produção de forragem animal. Cultivares a disposição do produtor são a BRS Korbel – indicada para produção de forragem (grãos, pré-secado ou silagem de planta inteira), e a BRS Entressafras (BRS CVA 118), desenvolvida com ciclo ultraprecoce para cultivo durante o outono, com encaixe entre a soja e o trigo, pronta para silagem em 75 dias e colheita de grãos em 100 dias.
Para a safra 2025, a empresa afirma que estarão disponíveis ao produtor 2,3 mil toneladas de sementes de cevada forrageira com tecnologia Embrapa.
Fonte: Embrapa