Inverno

Alimentação de qualidade para garantir a produção de leite

A alimentação do gado leiteiro torna-se um desafio para os produtores no inverno

Foto de duas vacas leiteiras pastando.
Diversas opções de pasto garantem uma nutrição adequada e economicamente viável | Bruna Scheifler/Arquivo Destaque Rural

Com a chegada do inverno, a alimentação do gado leiteiro torna-se um desafio para os produtores. Wagner Beskov, sócio-diretor, pesquisador e consultor da Transpondo Pesquisa, Treinamento e Consultoria Agropecuária, esclarece que há diversas opções de pasto que garantem uma nutrição adequada e economicamente viável durante esta estação.

Beskov ressalta que o desenvolvimento desses materiais na fase de pesquisa de melhoramento genético deve ter foco no pastejo. “Temos alguns materiais desenvolvidos com outro propósito, como grão ou silagem, que às vezes são posicionados para pastejo. Até alguns funcionam, mas é muito cara uma pesquisa para pastejo. Existe uma incompatibilidade entre produção de forragem e produção de semente. Quanto melhor a forrageira é para produzir folha, mais ela tem desafio de ser boa produtora de semente”, destaca o especialista.

Para Beskov, entre as melhores opções para o inverno estão azevéns anuais, tetraplóides e diplóides, aveia preta e branca forrageira, e trevos. “O azevém é muito usado por ter boa produção e sanidade. Ele oferece uma excelente cobertura de solo, o que é benéfico para a conservação do solo e o desempenho animal”, afirma.

Ele também menciona que o uso de trevos e alfafa pode ser muito vantajoso, já que essas plantas possuem alto valor nutricional e podem contribuir significativamente para a dieta das vacas. “Os vários trevos de inverno são materiais de altíssima qualidade, assim como a alfafa, que é uma leguminosa perene. As gramíneas perenes e as anuais de rápido estabelecimento, como o centeio e o trigo para pastejo, também são opções viáveis”, acrescenta Beskov.

Suplementação Alimentar Rentável

Além do pasto, a suplementação alimentar é fundamental para aumentar a produção de leite e a rentabilidade da propriedade. Beskov explica que o Rio Grande do Sul tem menos opções de ingredientes para confinamento comparado a estados como Paraná, Minas Gerais e São Paulo. “Aqui estamos começando a usar polpa cítrica, caroço de algodão, farelo de algodão, que já são comuns em outras regiões. Temos o custo do frete, mas com o aumento da demanda, a oferta desses ingredientes tem se viabilizado”, comenta.

Ele enfatiza a importância da silagem de milho como base alimentar no confinamento, mas sugere a inclusão de outras fontes de fibra para melhorar a digestibilidade e a produção de leite. “Em países como a Itália, o uso de forragem fresca cortada diariamente no confinamento aumenta a produção de leite. Essa prática está sendo adotada por vários produtores no Brasil, tanto no inverno quanto no verão, proporcionando uma fibra de maior qualidade”, explica Beskov.

Beskov observa que a grande qualidade da silagem de milho está no grão, e não na planta. “A planta do milho tem baixa qualidade comparada a outras forrageiras. Quando adicionamos uma planta com maior digestibilidade, seja ela fresca ou conservada, como um pré-secado bem feito de azevém ou aveia, agregamos mais proteína e uma fibra de melhor qualidade à dieta”, pontua.

Desafios e Estratégias Nutricionais

Para garantir todos os nutrientes necessários, Beskov recomenda a contratação de um profissional para calcular a dieta das vacas, considerando a análise dos alimentos disponíveis. “Primeiro, atender a quantidade de alimento é essencial. Depois, oferecer alimentos de boa qualidade, como silagem bem feita ou pasto folhoso, e tentar fornecer o máximo que a vaca possa comer”, orienta.

Neste inverno, o maior desafio tem sido o atraso no estabelecimento dos pastos devido às condições climáticas adversas. “Esse atraso tem causado um uso além do normal da silagem, preocupando os produtores. Mas, em geral, o inverno no sul do Brasil é um período de boa produção de pasto e bons preços de leite”, conclui Beskov.

Ele sugere que, em situações emergenciais, os produtores considerem a produção de pré-secado de materiais de inverno para uso imediato. “É possível cortar material folhoso, murchá-lo durante um dia ou dois de sol, até que atinja 45% de matéria seca, e ensilá-lo. Isso pode ser feito em silos convencionais ou de superfície, e utilizado em curto prazo”, explica Beskov.

Planejamento e Sustentabilidade

Para os produtores, planejar a alimentação do rebanho com antecedência é crucial. Beskov destaca a importância de considerar tanto a silagem quanto os pastos na fase de planejamento. “Tudo que usamos de alimento conservado é fruto do que foi feito lá atrás. Planejamento é essencial para garantir que haja estoque suficiente de silagem e feno de qualidade”, afirma.

Ele também menciona que, durante o inverno, a suplementação com pré-secado de materiais de inverno ou verão pode ser uma alternativa prática e nutritiva. “O pré-secado de materiais de inverno, como aveia e azevém, ou até mesmo de verão, como Tifton, pode fornecer uma fibra de alta qualidade e digestibilidade, essencial para a saúde ruminal e a produção de leite”, ressalta Beskov.