O mercado energético passou por algumas situações desafiadoras de impacto global em 2022, uma delas foi a pandemia de Covid-19. “Durante a pandemia, o impacto no setor foi tão grande que, em algum momento, o preço do petróleo chegou a ficar negativo em alguns mercados, como na Costa do Golfo americano”, explica o Diretor-geral da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), Rodolfo Henrique Saboia.
Isso significa que era mais vantajoso o contratante de uma determinada carga pagar pra não receber o produto, já que não havia onde estocar. O segundo desafio foi a transição energética, que vem acontecendo em função das mudanças climáticas. “Hoje, o mundo ainda depende mais de 80% da energia originada por combustíveis fósseis. […] A transição deve acontecer pelo lado da demanda, por intermédio da substituição de combustíveis fósseis pelas fontes renováveis”, informa.
Saboia, adverte que não é possível fazer uma transição energética restringindo a oferta desse combustível. “Alguns políticos internacionais buscaram realizar a transição energética através da restrição da oferta de combustíveis fósseis. Essa fórmula poderia levar a um efeito imediato de elevação dos custos da energia, o que atinge “de cara” os menos favorecidos economicamente. Portanto, é uma receita cruel para fazer uma transição energética”, declara.
Crise energética
Outro gargalo é o conflito entre Rússia e a Ucrânia, dois grandes produtores de commodities. O que impactou o fornecimento de energia para a Europa na forma de gás natural, óleo diesel e petróleo, oriundas do país russo. “O que nós podemos observar é que houve um deslocamento das linhas de comércio. As rotas de comércio de produtos se reacomodaram no mundo com alguns consumidores tradicionais, como a Europa, por exemplo, recusando-se a receber e a consumir produtos da Rússia. Esse fluxo de comércio foi sendo redirecionado para outros países que se dispunham a fazê-lo, muitas vezes, com um desconto importante – a China e a Índia, por exemplo”, ressalta.
No momento, a situação encontra-se estabilizada, já que a Europa estabeleceu seus reservatórios para o inverno. Contudo, Saboia destaca que as sanções que estabelecem um teto para o preço do petróleo russo se o valor for acordado com o G7 (grupo de países mais industrializados do mundo) e outros países, pode modificar a logística de fornecimento desses produtos, e o Brasil não está isento de ser impactado em 2023.
O teto do preço do petróleo consiste em só permitir o transporte do petróleo russo e seus derivados para países fora da União Europeia se Moscou vendê-lo a um preço igual ou inferior ao fixado. Dessa forma, o teto visa reduzir a receita que Moscou dispõe para financiar a guerra contra a Ucrânia, limitando também os impactos na crise energética.