Na semana passada, tive a oportunidade de discutir os desafios enfrentados pelo agronegócio brasileiro com um público que, mesmo eu com mais de 30 anos no agronegócio, não reconhecia plenamente a sua importância para o nosso setor.
Essa experiência me fez perceber que, embora lideremos empresas no agronegócio, muitas vezes subestimamos o papel vital que esses profissionais desempenham na cadeia produtiva.
O agronegócio representa aproximadamente 25% do PIB do Brasil, e uma parte significativa dessa contribuição vem do setor de transportes. Desde a chegada de fertilizantes e insumos dos portos até o transporte dos produtos agrícolas para as mesas dos consumidores, a logística é uma engrenagem essencial nesse processo. Não é surpreendente, portanto, que os custos logísticos estejam entre os três principais custos operacionais de qualquer empresa do setor agro.
Desafios Enfrentados pelo Setor de Transportes
Um evento recente foi promovido pela GoFlux, uma agtech brasileira com que eu tive a oportunidade de trabalhar a fim de reduzir os meus custos logísticos quando ainda CEO de uma empresa de insumos e grãos, e que inclusive já destaquei como uma das agtechs destaques no Brasil.
Esse evento abordou vários desafios, permitindo uma discussão aberta sobre questões como clima adverso, flutuações nos preços das commodities, rentabilidade das safras e oportunidades relacionadas à transição da matriz energética do Brasil.
Essa transição, que inclui o etanol, biodiesel, energia eólica e biometano, coloca o Brasil em uma posição única para liderar um futuro mais sustentável e o setor de transportes e os caminhoneiros serão um dos principais beneficiados dessa transição.
Com esses desafios e oportunidades do agronegócio apresentado a esse público e junto a um mapeamento da jornada dos transportadores foi possível abrir uma janela de discussões e de escuta que poucas empresas tiveram a ousadia de realizar.
O setor de transportes no Brasil enfrenta desafios significativos, sendo o maior o envelhecimento da frota. Para se ter uma ideia, a idade média da frota brasileira é de 21,3 anos, em comparação com 16,6 anos em 2013, representando um aumento de 28% na idade média em uma década. Essa idade de nossa frota é o dobro do que o nosso maior concorrente do agronegócio que são os americanos com 11,6 anos.
Essa situação resulta em custos de manutenção mais altos, maior emissão de poluentes e consequente menor rentabilidade.
Além disso, a infraestrutura rodoviária do Brasil é precária: dos cerca de 1,8 milhões de quilômetros de estradas, apenas 12,4% são pavimentadas. Isso eleva os custos operacionais em 30% e resulta em perdas significativas devido a acidentes, tempo parado e roubos de carga, que custam mais de R$ 1,2 bilhão anualmente.
A Necessidade de Investimentos em Infraestrutura
De acordo com o Fórum Econômico Mundial, o Brasil ocupa a 116ª posição em um total de 141 países em termos de qualidade de infraestrutura. Para melhorar a qualidade de nossas estradas, seriam necessários investimentos de R$ 82 bilhões.
Para um país que destina R$ 5 bilhões por ano apenas para manter partidos políticos, esse valor solicitado para melhorar a nossa malha logística é irrisório, se tivéssemos uma visão estratégica para o desenvolvimento nacional.
A escalada do preço do diesel, o aumento das taxas de juros e a burocracia excessiva têm causado prejuízos constantes ao setor. A falta de mão de obra qualificada, aliado a falta de interesse dos jovens em tornar se caminhoneiros, e o desestímulo à modernização tornam-se consequências diretas desses desafios.
Assim como o agronegócio, o setor de transportes é essencial para a economia brasileira e requer estímulos, redução da burocracia, investimento em inovação e uma rede de proteção mais robusta.
Iniciativas que Podem Fazer a Diferença
Iniciativas como a promovida pela GoFlux são fundamentais para a convergência entre o setor de transportes e o agronegócio. A criação de uma comunidade com mais de 22 mil usuários para a troca de informações, soluções e inovações aproxima grandes marcas dos caminhoneiros e transportadoras.
Colaborações com empresas como Randon, Edenred e Ruedata, que trazem inovações em machine learning e inteligência artificial, demonstram a busca constante por melhorias no cotidiano dos caminhoneiros e das transportadoras.
O papel dos caminhoneiros e das transportadoras não podem ser subestimados; eles são os verdadeiros heróis anônimos que mantêm a roda do agronegócio girando.
– Renato Seraphim, CEO na Ciarama Máquinas
O papel dos caminhoneiros e das transportadoras não podem ser subestimados; eles são os verdadeiros heróis anônimos que mantêm a roda do agronegócio girando. Sem o seu esforço, a produção agrícola não chegaria às prateleiras dos supermercados e, consequentemente, às mesas dos consumidores. Portanto, reconhecer e valorizar esses profissionais é essencial para garantir a eficiência e a sustentabilidade do agronegócio brasileiro.
O setor de transportes é um pilar fundamental do agronegócio no Brasil, e a colaboração entre esses dois setores é crucial para o crescimento econômico e a prosperidade do país. Precisamos unir esforços para superar os desafios existentes e transformar as oportunidades em resultados concretos.
Ao valorizar o setor de transportes e os caminhoneiros, estamos investindo na base que sustenta o agronegócio e, por extensão, a economia brasileira. A iniciativa da GoFlux é um exemplo de como podemos trabalhar juntos para construir um futuro mais próspero e sustentável para o Brasil.
Opinião
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