Agronegócio

Desenvolvendo a capacidade de tolerância ao risco em negócios agropecuários

Há um velho ditado que diz: “de certo só a morte e os impostos”. Nós vivemos em um ambiente de elevada incerteza e isso é ainda mais intenso na agropecuária. Muitas decisões nesse setor têm resultados que ocorrem meses ou anos após a tomada de decisão inicial. Os gestores percebem muitas vezes que suas decisões acabam se distanciando do resultado esperado, em função das mudanças das condições do ambiente em que o negócio está inserido (mudanças nas condições do mercado, clima, política econômica, contexto tecnológico). E essa é a beleza e próprio do ato de empreender e buscar gerar retorno acima da média no mundo dos negócios.

Gostaria de compartilhar dois conceitos com você leitor:

  1. “Riscos” é um termo utilizado para descrever situações em que os resultados possíveis e as chances de ocorrência de cada um deles são conhecidos (Kay, 2014). Um exemplo de risco é probabilidade de ocorrência de granizo em uma dada região. É possível calcular o risco conforme séries históricas. Com isso, empresas de seguros oferecem produtos para que o produtor compre, e transfira o risco para elas.
  2. Incerteza, por outro lado, caracteriza uma situação em que tantos os resultados possíveis quanto suas probabilidades de ocorrência são desconhecidos (Kay, 2014). Um exemplo de incerteza é a mudança de política econômica com um novo governo, por exemplo, que trás novas possibilidades que não permitem a mensuração de probabilidades.

As fontes de risco na agropecuária são diversas, mas podem ser sintetizadas em cinco grandes áreas gerenciais: produção e técnica, preço e mercado, financeira, jurídica e pessoal. Na minha visão, as fontes de riscos mais desafiadoras na agropecuária estão vinculadas aos riscos climáticos. Estiagem no período de desenvolvimento da cultura, excesso hídrico no momento de colheita de grãos ou frutas, entre outros eventos extremos. Parte desses riscos podem ser transferidos, mas existe necessidade de trabalhar, além de ferramentas como seguro, com alternativas para minimizar o impacto sobre a receita do produtor rural.

O retorno é diretamente proporcional ao risco do negócio ou atividade econômica.

Dieisson Pivoto – Professor

Existem uma série de ferramentas gerenciais para minimizar as consequências de realizar atos arriscados nas atividades agropecuárias. Lembrando sempre que o retorno é diretamente proporcional ao risco do negócio ou atividade econômica. Algumas dessas ferramentas são usadas para reduzir a quantidade de risco enfrentada pelo gestor, já outras ajudam a amortecer o impacto de um efeito indesejável. Gostaria de tratar de uma delas: melhorar a capacidade de tolerância ao risco do negócio, de forma que os efeitos adversos tenham menos chances de afetar a sobrevivência da operação rural.

Uma das estratégias, muito utilizada pelo mercado financeiro, é a diversificação de portfólio (ou de fontes de receita). A diversificação pode ocorrer por meio de atividades realizadas no negócio rural (pecuária, diferentes culturas agrícolas), mas também por meio de planos de diversificação que podem incluir atividades não rurais. Ser sócio de negócios não rurais, entrar em negócios do agronegócio fora da porteira (beneficiamento, prestação de serviços, parcerias rurais em outras atividades), bem como rendas rurais que não são agropecuárias podem ser pensadas (energia, processamento de resíduos). Um dos desafios que entram em jogo é o trade off (ou dilema) entre especialização e seus benefícios, para diversificar e obter menos variabilidade na receita líquida.

Existem algumas oportunidades que surgem para geração de renda em propriedades rurais de todos os portes. A primeira delas é a geração de energia, especialmente com base solar. Observa-se a emergência de empresas e plataformas que compram energia excedente gerada pelos produtores rurais. Ou seja, o produtor pode usar a energia para irrigação, beneficiamento ou outras atividades na propriedade, e quando a energia não estiver sendo utilizada, pode gerar uma fonte de receita para o negócio rural.

Também tem se avançado com a discussão sobre serviços ecossistêmicos. A Lei nº 14.119, de 13 de janeiro de 2021, institui a Política Nacional de Pagamento por Serviços Ambientais. Eles podem ser classificados nas seguintes modalidades: serviços de provisão, serviços de suporte, serviços de regulação e serviços culturais. Aqui se insere a possibilidade de renda por créditos de carbono, preservação da reserva legal e utilização de resíduos. Esse ainda é um debate incipiente, mas pode trazer novas oportunidades para os produtores rurais.

Todas essas oportunidades não são realidade na maioria dos estabelecimentos agropecuários brasileiros, sendo ainda uma discussão distante da realidade.

Dieisson Pivoto – Professor

Todas essas oportunidades não são realidade na maioria dos estabelecimentos agropecuários brasileiros, sendo ainda uma discussão distante da realidade. Entretanto, observa-se a entrada de uma nova geração de produtores rurais mais aberta e com uma visão mais ampla de oportunidades. A provocação nessa coluna é pensar na sustentabilidade do negócio rural, frente aos riscos que a agricultura está exposta.

As opiniões expressas em artigos e colunas não refletem a posição da Revista e Portal Destaque Rural. 

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