O início da safra de trigo 2024 no Paraná já é considerado o pior em mais de 10 anos. Até o momento, 34% das lavouras do estado estão em condições estáveis ou ruins, de acordo com a atualização do Departamento de Economia Rural (Deral) desta terça-feira (16). Segundo o levantamento, 11% das áreas estão em condições ruins e 23% medianas, enquanto 66% seguem em boas condições.
A arrancada pessimista, confirmada ainda no início do mês pelo Deral, se deve em grande parte à estiagem que atingiu uma área significativa do estado entre o final de maio e início de julho. Foram mais de 40 dias sem chuvas em diversos municípios. Além disso, o mês passado foi o mês de junho mais quente da série histórica de diversas cidades, incluindo Guarapuava, Londrina, Maringá e Umuarama, de acordo com o Sistema de Tecnologia e Monitoramento Ambiental do Paraná (SIMEPAR).
O produtor rural Adão de Pauli, de Londrina, considera que o clima está totalmente atípico para esta época do ano e que impediu o perfilhamento do trigo. Apesar das chuvas mais recentes, ele calcula uma quebra de 40% na produtividade nos 200 hectares que cultivou nesta safra. “Praticamente vamos colher o custo, é pessoal, trator. Então o prejuízo é grande de trabalhar pelo custo”, declara.
O Supervisor Técnico da Cocari na região de Mandaguari, no Norte do Estado, Rodrigo Rombaldi, vê a safra de trigo de 2024 na região como uma “tragédia climática” em termos de produtividade e produção. “Essa estiagem pegou todo o período de perfilhamento e todo o período de alongamento, o que comprometeu bastante o desenvolvimento desse trigo”, explica.
A expectativa para a região é de uma média de 1,5 mil kg/ha. “É um desastre, é o que a gente está esperando com essa conjunção de calor e tempo seco, não é nada do que agrada a cultura do trigo”, destaca o engenheiro agrônomo. Esse número representa uma quebra de safra de 35% a 40% na região, o que deve causar prejuízos significativos aos produtores e pode desestimular o cultivo da cultura.
Retorno da Chuva
Após um mês de junho marcado pela presença de bloqueios atmosféricos que impediram o avanço de frentes frias que levassem chuva ao estado, voltou a chover em grande parte do Paraná no início de julho. “Pensando nessa chuva que vem ocorrendo agora, já passando toda a fase de alongamento, de perfilhamento, e de emborrachamento, eu não acredito que vai haver uma melhora na produção, nem na produtividade”, avalia Rombaldi.
Ainda assim, é possível que a chuva amenize a situação, permitindo que a produção seja entregue com certa qualidade de grão. No entanto, ela também traz novas preocupações. “Pelo trigo não ter fechado bem a terra, não ter feito uma cobertura muito boa, porque ele veio mais fraco mesmo por causa da estiagem, agora vão vir muitas plantas daninhas. A gente já está se preocupando e se preparando para isso”, diz o supervisor técnico da Cocari.
Abandono
Diante do início pessimista da safra, é comum que produtores considerem diminuir os investimentos ou até abandonar as lavouras de trigo. Entretanto, essa prática não é aconselhada, considerando a perenidade do sistema produtivo. “O produtor realmente abandona as lavouras, a maioria vê que não está desenvolvendo, que não perfilhou, que o trigo não está indo para frente e deixa de fazer os tratos culturais, deixa de fazer os manejos. Isso acaba repercutindo na próxima lavoura, trazendo mais plantas daninhas e pragas. Então o aconselhável é não abandonar a lavoura, ficar com ela até o final, lembrando que tem cultura subsequente” ressalta Rombaldi.
A recomendação é buscar assistência técnica para avaliar como conduzir a lavoura e extrair o máximo de produtividade possível até o final da safra.
Produção
Apesar da grave situação em grande parte do estado, a estimativa de produção no Paraná segue em 3,8 milhões de toneladas de trigo, de acordo com levantamento divulgado no final de junho pelo Deral. “Nós ainda podemos ter uma recuperação de produtividade, mas ela começa a ficar um pouco mais difícil com tantas lavouras sendo avaliadas com uma condição ruim. [..] Se espera que tenha perdas de potencial, mas é muito difícil dizer quanto nesse momento”, explica o analista do Deral Carlos Hugo Winckler Godinho.
Futuro
A decisão de plantar trigo ou não nas próximas safras irá depender de diversos fatores, além do resultado desta safra. “O trigo a gente avalia ano a ano”, afirma o produtor Adão de Pauli. A decisão depende de diversos fatores, principalmente da janela de plantio do milho segunda safra, que concorre com o trigo nessa região, a capitalização dos produtores e também os riscos da cultura.
Cobertura da Safra de Trigo 2024
O Projeto Cobertura da Safra de Trigo é uma iniciativa do Portal Destaque Rural com o objetivo de realizar a cobertura jornalística da safra nos estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná. Mais do que simplesmente relatar os acontecimentos, o projeto busca estabelecer uma conexão entre a pesquisa acadêmica e a realidade enfrentada pelos produtores do cereal. Na edição de 2024, o projeto conta com o patrocínio da BASF.