Trigo

Trigo: “Fazer uma lavoura equilibrada não significa utilizar menos tecnologia”

A palavra em destaque para a próxima safra de trigo é racionalização. O aumento significativo dos custos de produção preocupa e demanda uma boa produtividade, apesar do preço atrativo do cereal no mercado. Para buscar atingir os objetivos, os agricultores podem adotar algumas estratégias, sem abrir mão de tecnologias ou dos insumos necessários.

“O produtor fazer uma lavoura equilibrada não significa utilizar menos tecnologia, significa utilizar o insumo ou o pacote tecnológico necessário para aquela situação”, ressalta o pesquisador Eduardo Caierão, da Embrapa Trigo, durante a live Destaque em Pauta.

Ele também considera que não existem estratégias, tecnologias ou produtos milagrosos. “O que importa é o conjunto das práticas que serão realizadas e, na maioria das vezes, as práticas mais básicas são aquelas que têm grande impacto na produtividade final”.

Estratégias

A primeira alternativa destacada pelo pesquisador é a possibilidade de aproveitar o residual de fertilizantes da cultura de verão. Com a redução da produtividade da soja e milho, a reserva de alguns nutrientes, principalmente fósforo e potássio, pode beneficiar as culturas de inverno. Para isso, Eduardo ressalta a necessidade de estudos de solo.

Também é possível escolher cultivares mais eficientes e, a partir dessa decisão, definir o nível de nitrogênio necessário. “Eu acredito que fazer uma lavoura com recursos racionalizados não significa abrir mão daquilo que é essencial para a cultura do trigo. Então, a adubação nitrogenada, escolher a melhor época de semeadura em relação à cultivar escolhida, e o aspecto dos agroquímicos, fungicidas e herbicidas”, pontua o pesquisador.

O custo das sementes também foi elevado nesta safra. Neste sentido, é recomendado buscar sementes certificadas, que garantem qualidade, preservam poder germinativo e o vigor, elementos considerados básicos para a instalação da lavoura.

Quanto à quantidade, um estudo da Embrapa Trigo e CCGL/RTC avaliou que uma redução para 250 sementes aptas por metro quadrado, cerca de 86 kg/ha, não compromete a produtividade. “O trigo é uma cultura muito plástica, ele acaba compensando essa redução na densidade a partir do perfilhamento e nós temos, inclusive, uma redução no número de sementes por hectare”, explica Eduardo. No entanto, a decisão deve passar por uma avaliação. “Cada região tem seu contexto, sua particularidade e a gente sempre recomenda também que essa decisão seja tomada junto dos departamentos técnicos das cooperativas, cerealistas e produtores”, ressalta o pesquisador.

Expectativa

No último ano, o trigo bateu recorde de produtividade, área plantada e produção no Rio Grande do Sul, chegando a 3,4 milhões de toneladas. O potencial, no entanto, ainda é de aumento da área plantada. Conforme Eduardo, todas as culturas de inverno ocupam apenas de 10% a 12% da área semeada com culturas de verão no Sul do Brasil.

“Há espaço sim, nós temos que avaliar como que o produtor vai sair dessa frustração, da cultura do milho, principalmente, e em algumas regiões com impacto importante na cultura da soja. Talvez esse seja um elemento negativo em primeiro plano”, avalia sobre as expectativas para a próxima safra. O preço do cereal, no entanto, pode ser um atrativo.

A expectativa, portanto, é positiva e o potencial é considerado grande. Conforme Eduardo, o objetivo é aumentar a área para se aproximar do consumo. “Ainda estamos bem longe em relação àquilo que a gente necessita para abastecer a demanda anual de trigo no Brasil”, finaliza.