Semeadura de trigo

Chuvas atrapalham semeadura do trigo

Os produtores vinham preparando das áreas, com destaque para aplicação de herbicidas nas lavouras que anteriormente abrigavam soja

Chuvas intensas atrapalharam trabalho no RS | Foto: CNA Brasil/Divulgação
Chuvas intensas atrapalharam trabalho no RS | Foto: CNA Brasil/Divulgação

O Zoneamento Agrícola de Risco Climático (Zarc), a partir de 21 maio, ampliou as regiões aptas à semeadura do trigo (Triticum pp), no Rio Grande do Sul, o que resultou na intensificação das atividades de plantio e no aumento do número de propriedades envolvidas. No entanto, as precipitações, registradas a partir de 24 deste mês, interromperam temporariamente os trabalhos, que deverão ser retomados assim que as condições de umidade do solo se tornarem adequadas para a operação mecanizada.

Antes da interrupção, observou-se maior atividade de dessecação nas áreas destinadas ao cultivo, sendo aplicados herbicidas sistêmicos, visando ao controle de plantas daninhas e de resíduos culturais, etapa essencial para garantir estabelecimento uniforme da cultura. As lavouras anteriormente implantadas encontram-se em fase de emergência, apresentando estande e vigor inicial apropriados, bem como germinação uniforme.

Em relação à área a ser cultivada, persiste um cenário de incerteza entre os produtores, influenciado principalmente pela frustração da última safra de soja e pela consequente descapitalização. Além disso, os custos de financiamento e do seguro agrícola – Proagro e demais modalidades – são considerados elevados e têm limitado o acesso ao crédito. A área financiada para a cultura nesta safra deverá ser inferior à registrada nos anos anteriores.

Em maio de 2024, o Banco Central contabilizou no Estado operações de crédito rural para custeio referentes a aproximadamente 770 mil hectares de trigo. No mesmo período de 2025, esse volume se reduziu para cerca de 380 mil hectares, representando retração aproximada de 50% nas contratações de financiamento para a cultura.

Embora ainda haja tempo para novas solicitações e análises de propostas, a amostragem já é representativa, considerando que, em 2024, cerca de 90% das contratações da safra haviam sido efetivadas até o mês de maio. Apesar dessas limitações, parte dos produtores deve optar pela semeadura com sementes salvas. Entretanto, o uso de tais materiais, aliado à redução no uso de fertilizantes (especialmente NPK e fontes nitrogenadas), tendem a impactar negativamente o potencial produtivo das lavouras.

A área cultivada na safra 2024 no Estado foi de 1.331.013 hectares, e a produtividade foi de 2.781 quilos por hectare, conforme dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A TF Agroeconômica diz que o cenário ainda é incerto em relação à área plantada. Estimativas de agentes privados indicam uma área de 1,15 milhão de hectares.

O diretor e coordenador da Comissão do Trigo e Culturas de Inverno da Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul (Farsul), Hamilton Jardim, projeta um recuo significativo da área cultivada com trigo. A redução pode chegar até 18%.

Na região administrativa da Emater/RS-Ascar de Bagé, na Fronteira Oeste, a cultura está em implantação após o início do período indicado no Zarc. Há tendência de redução de área. Em Maçambará, estima-se retração de 35% na extensão cultivada em relação ao ciclo anterior, atingindo apenas 15 mil hectares. Em Manoel Viana, iniciaram-se as atividades de dessecação e a aquisição de insumos para o plantio de 11 mil hectares projetados — redução de 8%.

Em São Borja, deverá ser cultivada a maior área da região, repetindo-se a expectativa de 30 mil hectares semeados na safra passada. Cerca de 10% da área foi plantada, processo que deve ser retomado assim que as condições de umidade do solo permitirem. Na região da Campanha Gaúcha, a semeadura está prevista para iniciar em junho, conforme o Zarc, mas se concentrar especialmente em julho (estratégia adotada por muitos produtores para mitigar riscos de geadas tardias).

Na de Erechim, há previsão de redução na área de até 10% em relação ao ano anterior. Na de Frederico Westphalen, o plantio iniciou após a abertura do período recomendado, no terceiro decêndio de maio. No entanto, a área projetada tende a reduzir aproximadamente 15% em relação à safra anterior. Cerca de 5% da área foi semeada.

Na de Ijuí, a semeadura segue lenta. A elevada umidade do solo, durante um período ainda considerado inicial para o cultivo, levou os produtores a priorizarem o preparo das áreas, concentrando-se na dessecação de plantas indesejáveis. Observou-se intensa emergência de azevém nas lavouras destinadas à cultura, fato avaliado positivamente pelos produtores, uma vez que a germinação anterior à semeadura contribui para o controle mais eficiente das gramíneas.

Na de Santa Rosa, a semeadura alcança 5% da área prevista. No período e até o final de maio, são semeadas as cultivares do Grupo 2, visando ao enquadramento na faixa de risco de 20% e à cobertura de 95% pelo Proagro. Já as cultivares do Grupo 1 devem ser implantadas a partir de junho. A área total cultivada deve ser reduzida em 14% em relação à safra anterior.

Na de Soledade, a semeadura do trigo está em fase inicial. Há indefinição da extensão a ser cultivada. O período de semeadura para a maioria dos municípios é de 21 de maio a 20 de junho. Nos municípios de maior altitude, como em Encruzilhada do Sul, Soledade e Barros Cassal, a janela é mais tardia e inicia apenas em 1º de junho, encerrando-se no dia 30.