Colheita da soja

Rio Grande do Sul conclui colheita da soja

A produtividade média, de 1.957 quilos por hectare, representa uma redução de 38,43% no projetado antes do plantio

colheita da soja.
RS sofreu com estiagem pela quarta safra seguida e a produtividade teve queda de 38,43% | Foto: Vanessa Almeida de Moraes/ EmaterRS-Ascar

A colheita da soja está praticamente encerrada no Rio Grande do Sul, conforme levantamento realizado pela Emater/RS-Ascar. Em função das fortes chuvas que atingiram o Estado na semana passada, a conclusão da colheita dependerá da melhoria das condições climáticas. Há apenas algumas áreas remanescentes, correspondentes a segundo cultivo ou implantação tardia, que superaram o período crítico da estiagem.

Essas áreas representam fração menor que meio ponto percentual da área cultivada e não devem impactar a produtividade média estadual, estimada em 1.957 quilos por hectare, o que representa uma redução de 38,43% nos 3.179 quilos por hectare projetados antes do início do plantio. No Estado, a área cultivada com soja é estimada pela Emater/RS Ascar em 6.770.405 hectares.

A safra da oleaginosa no Estado foi prejudicada pela estiagem. As produtividades alcançadas variam entre regiões: de 1.388 quilos por hectare na região administrativa de Bagé, na Campanha Gaúcha, a 3.225 quilos por hectare na de Caxias do Sul, na Serra Gaúcha, refletindo principalmente a distribuição irregular das chuvas.

Diante das perdas significativas na safra, os produtores rurais buscam alternativas para equacionar dívidas, com destaque para a demanda por securitização. Sem medidas de renegociação, há perspectiva de redução expressiva na área destinada à soja na próxima safra.

Mesmo em regiões onde as precipitações foram semelhantes, outros fatores interferiram nos resultados como a época de semeadura, manejo de solos e o nível de investimento em insumos, reduzidos em parte das lavouras devido às restrições financeiras de recorrentes frustrações climáticas recentes com as culturas de verão e inverno.

A colheita por regiões

Na região administrativa da Emater/RS-Ascar de Bagé, na Fronteira Oeste, a colheita foi praticamente encerrada, restando pequenas áreas em Itacurubi, Itaqui, São Borja e Santana do Livramento. As chuvas, a partir de 24 de maio, interromperam os trabalhos finais, mas a maioria dos produtores já havia acelerado a colheita.

As perdas foram significativas: em Itacurubi, 55%, decorrentes de baixos rendimentos em cultivares precoces; em Manoel Viana e Maçambará, de 60% e 70% respectivamente. Em Quaraí, a produtividade foi de 1.531 quilos por hectare, com perdas adicionais por debulha natural. Em São Borja, as lavouras tardias e de replantio apresentaram produtividade média de 900 quilos por hectare.

Na Região da Campanha Gaúcha, a colheita foi finalizada em praticamente toda a região, restando áreas pontuais em Hulha Negra. Em termos de produtividade, a melhor foi registrada em Aceguá (2,4 mil quilos por hectare), semelhante à projetada. As maiores quebras foram registradas em Lavras do Sul (55%) e Caçapava do Sul (40%).

A colheita foi concluída nas regiões administrativas de Caxias do Sul, Erechim, Frederico Westphalen, Passo Fundo e de Soledade. Na de Ijuí, a colheita não pôde ser concluída, e restam 0,75% das lavouras, em sua maioria semeadas após a colheita do milho. As produtividades nas áreas de segundo cultivo variaram significativamente, conforme a localidade e o regime hídrico ao longo do ciclo. Nas lavouras irrigadas, a média alcançou aproximadamente 2,4 mil quilos por hectare.

Na de Santa Maria, a colheita está em finalização. As maiores perdas de produtividade foram registradas no Vale do Jaguari, no Planalto, e nas porções Centro e Sul da região. As produtividades reduziram menos na Quarta Colônia, onde as condições climáticas foram relativamente mais favoráveis ao longo do ciclo da cultura.

Na de Pelotas, ainda há pequenas áreas a serem colhidas em Santa Vitória do Palmar, Rio Grande, Jaguarão e Herval, majoritariamente de lavouras de segundo cultivo. Na de Santa Rosa, a colheita atingiu 99%, e restam lavouras semeadas em março. A expectativa de produtividade nessas áreas está superior a 2,4 mil quilos por hectare.

Preços

Pesquisadores do Cepea indicam que o mercado brasileiro de soja parece buscar um melhor direcionamento diante das recentes notícias sobre as safras na América do Sul, do ritmo de cultivo nos Estados Unidos e da guerra comercial entre o país norte-americano e a China

Diante disso, os valores da soja oscilaram na semana passada dentro de uma pequena faixa, mas, no geral, mostraram reação após as perdas registradas em semanas anteriores. Segundo pesquisadores do Cepea, no mercado spot nacional, enquanto o comprador segue tentando adquirir novos lotes a preços menores, produtores estão afastados do spot, à espera de novas reações. No mercado externo, os preços da soja estão em alta, impulsionados por condições climáticas adversas nos Estados Unidos e na Argentina.

Situação no Brasil

As perdas na lavoura de soja ficaram concentradas no sul do Mato Grosso do Sul, oeste do Paraná e, especialmente, no Rio Grande do Sul, estado que já passa pela quarta quebra de safra consecutiva. O mais recente levantamento da Datagro Grãos projeta a produção brasileira de soja na safra 2024/2025 em 172 milhões de toneladas, um avanço de 0,4% em relação à estimativa anterior, de 171,2 milhões de toneladas e de 11% sobre a difícil colheita de 2023/2024, marcada por severas perdas em várias regiões do País.

A recuperação é atribuída tanto ao aumento de área plantada — que atinge 48 milhões de hectares, 4% acima dos 46,2 milhões de hectares do ciclo anterior — quanto à melhora de 7% no rendimento médio, que chega a 3.585 quilos por hectare.

Com o ajuste nas projeções, a expectativa é de superávit: a produção deve superar o consumo interno em 576 mil t — o primeiro saldo positivo após cinco anos consecutivos de déficit, ainda que modesto em comparação àqueles registrados em 2019/20 (+1,1 mi de t), 2017/18 (+1,2 mi de t) e 2016/17 (+2,7 mi de t).

Para este ciclo, a Datagro estima que sejam esmagadas internamente 57,5 mi de t, 3% a mais que no ano anterior, e que sejam exportadas 111,0 mi de t, 11% acima da temporada passada. O balanço positivo ao longo do ano deverá limitar valorizações muito expressivas dos preços do grão brasileiro, mesmo perante os recordes de demanda.