Diante de um dos cenários mais adversos dos últimos anos para a cadeia do arroz no Brasil, a Federação das Associações de Arrozeiros do Rio Grande do Sul (Federarroz) intensifica articulações junto ao sistema financeiro, aos governos federal e estadual e a entidades setoriais, em busca de medidas emergenciais para mitigar a crise de preços e liquidez enfrentada pelos produtores.
Segundo dados da consultoria Safras & Mercado, de Porto Alegre (RS), o País opera atualmente com uma oferta total estimada em 14,2 milhões de toneladas (base casca), frente a uma demanda agregada anual próxima de 12,2 milhões de toneladas. A projeção de estoques de passagem acima de 2 milhões de toneladas — patamar recorde — pressiona negativamente as cotações do grão. O cenário é agravado por uma conjunção de fatores baixistas: aumento da área cultivada, elevação da produtividade média das lavouras, demanda interna enfraquecida, exportações aquém do esperado e preços internacionais em patamares mais baixos. Todos esses elementos ocorrem simultaneamente e têm levado a uma retração contínua nos preços pagos ao produtor.
Na Fronteira Oeste do Rio Grande do Sul, indústrias estão ofertando entre R$ 60,00 e R$ 65,00 por saca com rendimento acima de 58% de grãos inteiros, enquanto os produtores mantêm pedidas acima de R$ 70,00. “Esta diferença amplia o travamento das negociações e reduz drasticamente a liquidez”, pondera o analista e consultor de Safras & Mercado, Evandro Oliveira.
A resistência dos produtores, embora compreensível diante de custos cada vez mais elevados, torna-se cada vez mais difícil de sustentar, especialmente diante da lentidão da demanda e da escalada dos estoques. “As exportações, que poderiam funcionar como válvula de escape, seguem muito abaixo do esperado”, lembra Oliveira.
O Brasil perde competitividade para Paraguai, Uruguai e Estados Unidos, que vêm ocupando espaços em mercados tradicionais. Com previsão considerada otimista de 1,65 milhão de toneladas (base casca) a serem embarcadas nesta temporada comercial 2025/26, os volumes não são suficientes para aliviar o excedente interno. “O maior risco, no entanto, está na manutenção — ou até ampliação — da área plantada no próximo ciclo”, projeta o especialista.
No fechamento do mês de maio, a média estadual da saca de arroz (58/62% de grãos inteiros, pagamento à vista) ficou em R$ 73,20, representando retração de 3,11% na semana e de 39,41% em relação ao mesmo período do ano anterior, de acordo com levantamento da consultoria.
Tratativas com bancos
Entre as ações em andamento, a Federarroz está em tratativas com Banrisul, Banco do Brasil e Sicredi para viabilizar o escalonamento dos pagamentos dos financiamentos de custeio, buscando oferecer maior margem de fôlego ao produtor e conter a pressão de comercialização nos meses de junho e julho.
O Banrisul já sinalizou positivamente à proposta, e há expectativa de adesão por parte das demais instituições financeiras. “É necessário estancar a queda de preços no mercado. Os valores atualmente praticados inviabilizam a produção e é fundamental criar alternativas para que o produtor não precise vender tanto produto neste momento”, destacou o presidente da entidade, Alexandre Velho.
Audiências em Brasília
No campo institucional, foi realizada uma audiência com o governador Eduardo Leite, com a participação do setor produtivo. Junto ao subsecretário da Fazenda Estadual, Ricardo Neves, Leite ouviu dos representantes do setor pedidos para buscar a adoção de medidas tributárias urgentes em razão da grave crise que atravessa o setor arrozeiro.
Conforme o diretor jurídico da Federarroz, Anderson Belloli, o governo estadual mostrou sensibilidade ao grave momento que os arrozeiros no Estado enfrentam. “O governo se comprometeu a a buscar soluções de curto prazo para mitigar danos ao setor arrozeiro, na medida em que o preço de mercado hoje não cobre minimamente os custos de produção, sem prejuízo do fato de que os arrozeiros igualmente vêm sofrendo com intempéries climáticas nas últimas safras”, salientou.
Em paralelo, haverá mobilização em Brasília (DF) com reuniões na próxima semana e um encontro das entidades do setor com a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), nesta sexta-feira (6/6), para buscar soluções federais diante da crise de rentabilidade. A Federarroz também mantém contato contínuo com associações regionais de produtores e agendas de orientação técnica nos polos arrozeiros, com foco na transparência das ações e escuta ativa da base.