Safra 2023/2024

Cultivar Irga 424 RI é a mais semeada no RS

Variedade tem como características a rusticidade, estabilidade e alto potencial produtivo, em todas as regiões orizícolas do Estado

Foto de espigas de arroz em lavoura.
A área colhida na safra passada ficou em 858,2 mil hectares | Foto: Bruna Scheifler/Arquivo Destaque Rural

Na safra 2023/2024, os produtores gaúchos de arroz irrigado semearam 900,2 mil hectares com o cereal. Com uma perda de quase 42 mil hectares devido às chuvas intensas provocadas pelo fenômeno climático El Niño, a área colhida na safra ficou em 858,2 mil hectares. A produção total ficou em 7,2 milhões toneladas, e apenas 0,6% menor em relação à safra anterior. Nesse ciclo, a genética desenvolvida pelo Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga) prevaleceu na lavoura orizícola gaúcha, com 65,2% dos cultivares. E a Irga 424 RI, que foi lançada em 2007, seguiu sendo a mais utilizada pelos produtores, compreendendo 56,1% da área.

Levantamento do Irga aponta que, das seis regiões produtoras do Irga, a cultivar – desenvolvida para o sistema de produção Clearfield – foi a mais semeada em cinco delas, exceto na Planície Costeira Externa, que teve a BRS Pampa CL, da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) como a mais semeada (33,9% contra 32,2% da Irga 424 RI).

A diretora técnica do Irga, Flávia Miyuki Tomita, ressalta que as cultivares do Instituto ocupam mais de metade da área estadual | Foto: Irga/Divulgação

A segunda cultivar na preferência dos orizicultores gaúchos na safra 2023/2024 foi a BRS Pampa CL, com 12,0%, e, em terceiro lugar, a cultivar Irga 431 CL, com 8,6%. Na sequência, aparecem a Guri Inta CL, com 6,6%, e a SCS 116 SATORU, com 1,7%, segundo o estudo do Irga. “Desde a safra 2016/2017, as cultivares desenvolvidas pelo Irga voltam a predominar na lavoura orizícola gaúcha, com mais da metade da área”, destaca a diretora técnica do Instituto, a engenheira agrônoma Flávia Miyuki Tomita.

Na safra 2022/2023, aos produtores gaúchos de arroz irrigado também optaram pela Irga 424 RI, que foi semeada em 54,3% do total da área, conforme levantamento do Irga. A cultivar também liderou o ranking das dez variedades mais plantadas no Estado na safra 2020/2021, quando ocupou 52% dos 945,9 mil hectares de área semeada, e na safra 2019/2020, quando foi semeada em 49,6% da área total com arroz irrigado.

A diretora técnica do Irga explica que a maior participação da Irga 424 RI deve-se, principalmente, à sua rusticidade, estabilidade e alto potencial produtivo, em todas as regiões orizícolas do Estado. “Em uma lavoura com boa luminosidade e água, ela chega a produzir de 14 mil quilos a 15 mil quilos por hectare, superando muitos híbridos com alto potencial produtivo”, salienta Flávia. “A Irga 434 RI deve seguir liderando na safra 2024/2025”, acrescenta a agrônoma. O Rio Grande do Sul responde por 68% da produção nacional de arroz irrigado, conforme a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).

A cultivar foi derivada da 424 com inclusão do gene que confere resistência aos herbicidas do grupo Imidazolinonas (Only e Kifix), sendo uma alternativa importante de manejo para lavouras que apresentam histórico de infestação por arroz vermelho. Cultivar de alto potencial produtivo, além de ser resistente à brusone na folha e na panícula, acamamento e à toxidez por ferro, por excesso de ferro no solo. A resistência aos herbicidas do grupo Imidazolinonas explica a sigla RI no final do nome da cultivar.

A 424 RI tem ciclo médio com plena floração em 103 dias e maturação em 133 dias. De estatura média, com 90 centímetros, a Irga 424 RI apresenta grãos longos e finos e 68% de renda no beneficiamento, 63% de rendimento de grãos inteiros, de acordo com o Irga.

O trabalho básico de melhoramento foi realizado em 2007, na Estação Experimental do Arroz do IRGA, em Cachoeirinha, na Região Metropolitana de Porto Alegre. A variedade pode ser cultivada tanto no sistema com irrigação por inundação como nos sistemas que utilizam a semeadura em solo seco, como o preparo do solo convencional, cultivo mínimo e plantio direto.

Qualidade de grãos

Lançada em 2019, na 29ª Abertura Oficial da Colheita do Arroz, a cultivar de arroz irrigado BRS Pampa CL apresenta resistência moderada à brusone e a outras doenças, além de ser tolerante à toxidez por ferro. Desenvolvida para o sistema Clearfield, possui ciclo precoce, em torno de 118 dias da emergência à maturação, excelente qualidade de grãos e elevado potencial produtivo – superior a 11 mil quilos por hectare.

Derivada da BRS Pampa, a BRS Pampa CL demanda 15% menos irrigação em comparação às cultivares de ciclos mais longos. Indicada para a Região Sul do Brasil, precisa de apenas uma aplicação de fungicida, caso necessário, pois apresenta resistência genética a fungos. Segundo a Embrapa, as cultivares convencionais, predominantes nas lavouras, são suscetíveis às principais doenças e exigem, em média, três ou mais aplicações de fungicidas.

Mais eficiente, a BRS Pampa CL é capaz de apresentar alta produtividade em solos mais pobres, com menor exigência de nitrogênio. Apresenta porte médio e é uma planta considerada moderna, com alta capacidade de perfilhamento e possui características exigidas pelo mercado, como grãos do tipo agulhinha, longo-fino, e seu maior destaque está na possibilidade de fazer parte do sistema Clearfield. Ou seja, está apta a desenvolver-se em áreas com a presença de arroz vermelho (ou arroz-daninho), uma planta invasora que ameaça a lavoura por infestar os cultivos de forma agressiva.

Por reduzir o emprego de químicos e o uso de água é ambientalmente mais sustentável. A cultivar é classificada como arroz de grão nobre, ou premium, pois, se bem manejada, apresenta altas taxas de grãos inteiros após o beneficiamento, cerca de 64%, característica relacionada ao valor do produto no mercado. Nas últimas safras, a indústria tem bancado prêmios na compra devido à excelente qualidade do grão.

Resistência a herbicidas

Lançada em 2018, a cultivar de arroz irrigado Irga 431 CL é uma alternativa de variedade de ciclo precoce (120 dias), com excelente qualidade de grãos, resistência à brusone e a herbicidas do grupo químico das imidazolinonas. “Como a cultivar foi lançada há seis anos e o fungo já está se adaptando, estamos recomendando que o produtor faça uma aplicação de fungicida”, diz a diretora técnica do Irga.

Essa cultivar é resultante da seleção genealógica de progênie proveniente de uma geração de retrocruzamento (Irga 2913-18-4-1-3Pg*1/Irga 420 CL). O cruzamento inicial entre as linhagens Irga 2913-18-4-I-3Pg e Irga 420 CL foi realizado na safra 2006/2007 e o retrocruzamento na safra 2007/2008. A linhagem Irga 420 CL foi a doadora do gene que confere resistência a herbicidas do grupo químico das imidazolinonas (gene de resistência advindo da linhagem PCW16, da Universidade da Louisiana, Estados Unidos).

A cultivar apresenta folhas eretas e pilosas, porte baixo (estatura média de 96 centímetros) e resistência ao acamamento e à toxidez indireta, causada por excesso de ferro no solo. Possui capacidade intermediária de perfilhamento e resistência à debulha. A Irga 431 CL apresenta grãos pertencentes à classe longo-fino, com baixo índice de centro branco, alto teor de amilose, baixa temperatura de gelatinização e alto rendimento de grãos inteiros no beneficiamento (65%).

Estes parâmetros são similares aos das cultivares BR-Irga 409 e Irga 417, que possuem alto valor comercial e ampla aceitação pela indústria arrozeira, por serem classificadas como premium. “A Irga 431 CL já ocupa a terceira posição do ranking das dez variedades de arroz mais semeadas no Estado. Faltou semente no mercado nesta safra, senão ela aumentaria a área”, completa Flávia.

Produtividade

O presidente da Federação dos Arrozeiros do Rio Grande do Sul (Federarroz), Alexandre Azevedo Velho, ressalta que a maior produtividade da lavoura orizícola foi alcançada com melhor manejo, principalmente com a suavização do solo. E com o uso de sementes certificadas e cultivares de maior potencial produtivo. “As variedades 424 RI, do Irga, e a BRS Pampeira, da Embrapa contribuíram muito para esse incremento na produtividade nas últimas seis décadas”, salienta Velho, que produz arroz na região de Mostardas, no Litoral Sul do Estado.

O presidente da Associação dos Arrozeiros de Alegrete, Gustavo Thompsom Flores, diz que os produtores da Fronteira Oeste devem seguir usando a Irga 424 RI na safra 2024/2025 e aposta que a cultivar deve ficar com cerca de 70% da área cultivada com arroz irrigado em Alegrete, quarto maior produtor nacional de arroz. “Essa cultivar se destaca pela alta produtividade. Se bem manejada, pode chegar a 13 mil, 14 mil quilos, mas a média fica entre 9,5 mil quilos e 10 mil quilos”, sublinha o dirigente, que nas últimas safras tem cultivado uma área de 100 hectares do cereal na Fazenda Santa Rita de Cássia, localizada no distrito de Durasnal.

O empresário Valdemir João Simão. diretor da Sementes Simão, de Dom Pedrito, confirma que, na Campanha Gaúcha, a preferência dos produtores de arroz irrigado é pelo uso da Irga 424 RI, BRS Pampa CL e Irga 431 CL. “A 424 RI deve ficar com cerca de 60% da área em Dom Pedrito. É uma cultivar que se sobressai pelo teto de produtividade, estabilidade e alta resistência ao acamamento”, completa.