Opinião

A Soja no Brasil e o EUDR: o protagonismo do agricultor brasileiro e o desafio da sustentabilidade

O agricultor brasileiro é o coração da produção de soja e desempenha um papel essencial no fornecimento de alimentos para o mundo

Campo de soja verde amadurecido, paisagem agrícola. Planta de soja em flor. Plantações de soja ao pôr do sol. Contra o fundo do sol.
A legislação europeia exige que produtos agrícolas, como a soja, atendam a padrões rigorosos de rastreabilidade e sustentabilidade para serem exportados à União Europeia | Foto: Banco de imagens

O EUDR (European Union Deforestation Regulation) é uma nova regulamentação europeia que representa tanto um desafio quanto uma oportunidade para os agricultores brasileiros. A legislação, destinada a combater o desmatamento global, exige que produtos agrícolas, como a soja, atendam a padrões rigorosos de rastreabilidade e sustentabilidade para serem exportados à União Europeia.

O Agricultor Brasileiro: Um Protagonista Global

O agricultor brasileiro é o coração da produção de soja e desempenha um papel essencial no fornecimento de alimentos para o mundo. Produzindo mais de 140 milhões de toneladas na safra de 2022/2023, segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), os agricultores do Brasil transformaram o país no maior exportador global de soja.

Essa conquista não se deu sem desafios: solos inférteis, condições climáticas adversas e exigências crescentes de sustentabilidade fazem parte do cotidiano dos produtores.

Para Fabricio Peres, com quem eu tive a honra de trabalhar em meus tempos de uma grande multinacional europeia, e que hoje ocupa uma importante posição como Head Global de Sustentabilidade da Syngenta, ressalta que “os agricultores do Brasil são exemplos de resiliência e inovação. No entanto, enfrentam ataques infundados, como os feitos recentemente por empresas como Danone e Carrefour, que ignoram os esforços contínuos para proteger o meio ambiente e atender às demandas globais por alimentos.”

Soja: Pilar Econômico e Social

A soja representa uma parte significativa da economia brasileira. Em 2022, segundo o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), a soja respondeu por cerca de 25% das exportações totais do Brasil, gerando aproximadamente US$ 50 bilhões em receitas. Este grão não só sustenta a balança comercial, mas também é vital para o agronegócio, que representa cerca de 26% do PIB brasileiro.

A cultura de soja é predominante nas regiões Centro-Oeste do Brasil, especialmente em estados como Mato Grosso, que sozinho foi responsável por 29% da produção nacional em 2022. As receitas provenientes da produção de soja permitem que municípios rurais invistam em infraestrutura, saúde e educação, fortalecendo comunidades inteiras.

O Código Florestal: Um Marco Ambiental

O Brasil já lidera iniciativas ambientais com o Código Florestal, que exige que agricultores preservem até 80% de suas terras em áreas protegidas, dependendo do bioma.

O Código Florestal Brasileiro, criado em 2012, estabelece importantes diretrizes para a proteção do meio ambiente e do uso sustentável das florestas. Ele requer que propriedades rurais mantenham uma Reserva Legal, que varia de 20% a 80% da área total da propriedade, dependendo da localização.

Essa legislação é uma das mais rigorosas do mundo, mas a sua implementação enfrenta desafios. Estudos mostram que a fiscalização é frequentemente ineficaz, com apenas 3% das propriedades rurais sendo devidamente monitoradas.

Mas nossos agricultores não podem ser responsabilizados por essa falta de estrutura para fiscalizar os maus.

Nossa agricultura utiliza somente 9% de nosso território sendo que a soja ocupa aproximadamente metade dessa área com algo em torno de 44 Milhões de hectares. 66% do território brasileiro são protegidos, sendo que metade dessa proteção (33,2%), são feitas pelos nossos agricultores sem serem remunerados por essa proteção.

EUDR: Rastreabilidade e Desafios para Pequenos Produtores

A rastreabilidade exigida pelo EUDR impõe desafios significativos, exigindo um sistema robusto que assegure a origem da soja desde a produção até o consumidor final. Este processo é dificultado pela diversidade de pequenos e médios produtores e pela falta de infraestrutura adequada.

Segundo a Embrapa, cerca de 70% da produção de soja no Brasil é realizada por agricultores que cultivam menos de 200 hectares, o que complica a implementação de sistemas de rastreamento uniformes.

Tecnologias como blockchain têm potencial para aprimorar esta rastreabilidade, mas, segundo a Consultoria McKinsey, menos de 30% das indústrias brasileiras de alimentos têm sistemas digitais que garantam rastreabilidade efetiva.

Fabricio ressalta: “o EUDR traz uma oportunidade de o Brasil mostrar ao mundo seu compromisso com a sustentabilidade, mas é fundamental garantir que nossos pequenos agricultores não sejam deixados para trás nesse processo.”

Uma Resposta Estratégica e Coletiva

A adequação às exigências do EUDR exige investimentos em tecnologia, certificações como o Programa Soja Plus, e um esforço conjunto entre produtores, governo e indústrias. É crucial também mudar a narrativa na Europa. “Precisamos comunicar de forma mais assertiva que o agricultor brasileiro é parte da solução global, e não o problema”, afirma Fabricio.

Oportunidade para Liderança Global

Com os investimentos certos e um foco na colaboração, o Brasil pode se tornar um modelo global de produção sustentável. Adaptar-se ao EUDR não apenas garante acesso ao mercado europeu, mas também consolida o protagonismo do país no enfrentamento das mudanças climáticas e na proteção ambiental.

Conclusão

O agricultor brasileiro é mais do que um produtor; ele é um líder na construção de um futuro sustentável. Ao superar os desafios do EUDR, o Brasil tem a oportunidade de redefinir sua posição no mercado global, unindo produção, conservação ambiental e desenvolvimento social. O futuro da soja brasileira é promissor, e sua jornada é um exemplo de resiliência, inovação e comprometimento.

Fabricio Peres e eu, Renato Seraphim, reforçamos que a verdadeira força do Brasil está em seus agricultores, que diariamente enfrentam adversidades com coragem e visão, enquanto nutrem o mundo com responsabilidade. O EUDR é apenas mais um capítulo dessa história de protagonismo e superação.

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