O agronegócio brasileiro, reconhecido como um dos motores da economia nacional e um pilar estratégico no cenário global, enfrenta desafios significativos.
Entre eles estão o aumento da produtividade, a necessidade de práticas ambientalmente sustentáveis e a adaptação às mudanças climáticas. É nesse contexto que as deep techs emergem como agentes transformadores, trazendo soluções inovadoras que combinam ciência avançada e tecnologia disruptiva para resolver problemas complexos.
O Que São Deep Techs?
Deep techs são inovações fundamentadas em avanços científicos ou de engenharia de ponta, destinadas a causar impactos profundos na sociedade, economia ou meio ambiente. Diferentemente das startups convencionais, essas tecnologias têm como base áreas como biotecnologia, inteligência artificial (IA), nanotecnologia, robótica e computação quântica.
Principais Características:
- Base Científica Sólida: são originadas de pesquisas rigorosas e avançadas.
- Foco em Problemas Complexos: atacam desafios globais como mudanças climáticas, saúde pública e segurança alimentar.
- Ciclo de Desenvolvimento Longo: demandam mais tempo e recursos para maturação.
- Impacto Transformador: têm potencial para mudar setores inteiros.
Onde nascem as Deep Techs?
Essas tecnologias emergem em ecossistemas de inovação que combinam pesquisa científica, colaboração interdisciplinar e suporte financeiro adequado.
- Universidades e Institutos de Pesquisa:
Locais como Universidade de São Paulo (USP), Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA) e Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), no Brasil, ou o Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) e Stanford, nos EUA, são berços de deep techs.- Exemplo: A Moderna, pioneira em vacinas de mRNA, surgiu de colaborações acadêmicas.
- Centros de Inovação e Startups:
Parques tecnológicos, como o Tecnopuc (RS) e o cluster AgTech em Piracicaba (SP), conectam pesquisadores, empresas e investidores.- Exemplo: O “Vale do Agro” é referência em inovação no agronegócio brasileiro.
- Colaborações Público-Privadas:
Parcerias entre governos e empresas financiam projetos estratégicos, como a Embrapa no Brasil, que aplica deep techs no agronegócio. - Aceleradoras e Venture Builders:
Organizações como a Y Combinator (EUA) ou a Emerge (Brasil) ajudam startups de deep tech a se tornarem viáveis comercialmente. - Laboratórios Empresariais:
Empresas como Google e IBM desenvolvem tecnologias disruptivas com impacto global.
Desafios para as Deep Techs no Brasil
Apesar de sua relevância, deep techs enfrentam obstáculos únicos:
- Alto Custo de P&D: requerem investimentos robustos antes de se tornarem viáveis.
- Longo Ciclo de Maturação: pode levar anos para alcançar o mercado.
- Escalabilidade e Regulamentação: ganhar escala e atender às regulamentações exigem tempo e esforço.
De acordo com a Emerge, 70% das deep techs no Brasil estão no estágio de validação de suas tecnologias, enfrentando o desafio de provar sua viabilidade. Mesmo assim, o país se destaca no cenário latino-americano, com 875 deep techs registradas, muitas delas concentradas no estado de São Paulo e incubadas na USP, Unicamp e ITA.
Exemplos de Sucesso de Deep Techs
- Internacional: OpenAI (IA generativa), Tesla (energia limpa), e SpaceX (exploração espacial).
- Brasil: Nintx, Reddot e InEdita Bio, todas atuando em biotecnologia.
No Brasil, o setor que pode mais se beneficiar disso e onde temos mais vantagens competitivas é o agronegócio, onde já temos 202 deep techs que desenvolvem soluções e tecnologias das mais variadas para criar soluções que aumentem a eficiência produtiva, reduzam os impactos ambientais e promovam a sustentabilidade. Fico feliz em ver que já temos algumas delas prontas para revolucionar ainda mais o nosso segmento e desenvolver novas tecnologias para venda direta ou licenciamento para grandes indústrias.
Aplicações estratégicas das Deep Techs no agro e com tecnologia 100% nacional
Aumento da Eficiência Produtiva
Deep techs estão otimizando processos agrícolas ao oferecer ferramentas para análises precisas e tomadas de decisão em tempo real.
- Exemplo prático:
A Solinftec, criada por um grupo de engenheiros de automação cubanos em 2007, desenvolve sistemas baseados em inteligência artificial que monitoram maquinários agrícolas e otimizam a gestão operacional, reduzindo desperdícios e aumentando a produtividade.
Sustentabilidade e Agricultura Regenerativa
Com a crescente demanda por práticas agrícolas sustentáveis, as deep techs desempenham um papel crucial na regeneração do solo e na redução de insumos químicos.
- Exemplo prático:
A Symbiomics, criada em 2021 por Rafael de Souza e Jader Armanhi, que se conheceram na graduação da Unicamp, utiliza biotecnologia baseada em microrganismos para melhorar a saúde do solo, aumentando a produtividade com menor impacto ambiental.
Biotecnologia e Genômica
Essas áreas têm permitido o desenvolvimento de cultivares mais resistentes às mudanças climáticas, pragas e doenças, garantindo a resiliência do agro brasileiro.
- Exemplo prático:
A AgBiome, em colaboração com empresas brasileiras, oferece soluções biológicas inovadoras que fortalecem o controle de pragas de maneira sustentável.
IoT e Análise de Dados no Campo
A integração de sensores, drones e satélites está revolucionando a gestão agrícola, oferecendo insights valiosos para melhorar o desempenho no campo.
- Exemplo prático:
A Aegro desenvolve plataformas digitais que facilitam a gestão agrícola para pequenos e médios produtores, permitindo decisões baseadas em dados.
Produção Sustentável e Baixa Pegada de Carbono
Deep techs ajudam a transformar cadeias produtivas ao reduzir emissões de carbono e promover práticas mais limpas.
- Exemplo prático:
A Optioline está desenvolvendo biotecnologias que viabilizam a produção de soja com pegada zero de carbono, alinhando o agronegócio às demandas globais de sustentabilidade.
Nanotecnologia
Deep techs ajudam a transformar cadeias produtivas ao reduzir emissões de carbono e promover práticas mais limpas.
- Exemplo prático:
A Small Nano, fundada em 2023 por pós-doutoradas da USP de São Carlos, está desenvolvendo formulações e sensores utilizando a nanotecnologia para melhor eficiência dos produtos para proteção de cultivos e biológicos a fim de melhoria de shelf life e eficiência.
Biotecnologia Natural
Utilizar os recursos únicos da biodiversidade brasileira para desenvolver soluções naturais que aumentam a produtividade, melhoram a saúde das culturas e promovem práticas agrícolas mais sustentáveis.
- Exemplo prático:
A BEEOTEC: A primeira empresa no mundo a aplicar biotecnologia natural com base em própolis e fito extratos oriundos da biodiversidade brasileira para aprimorar resultados no agronegócio.
Impactos Estratégicos das Deep Techs no Agronegócio
Além de resolver desafios específicos, as deep techs oferecem benefícios estratégicos ao agronegócio brasileiro:
- Personalização de soluções: Atendem a realidades regionais e necessidades específicas de cada produtor.
- Competitividade global: Posicionam o Brasil como líder em inovação, atraindo investimentos e ampliando mercados.
- Colaboração público-privada: Parcerias com instituições como a Embrapa aceleram o desenvolvimento de tecnologias disruptivas.
Uma Reflexão Necessária
O papel das deep techs vai muito além da inovação tecnológica; elas estão transformando o agronegócio em um setor mais eficiente, sustentável e competitivo. Empresas como Solinftec, Symbiomics e Optioline são exemplos claros de como ciência e tecnologia podem enfrentar desafios históricos do agro e alavancar o Brasil para uma posição de destaque no cenário global.
Para um futuro promissor, é essencial que empresas, governos e startups unam esforços para promover e integrar essas inovações no campo. A verdadeira revolução do agronegócio está nas raízes profundas da ciência, e o Brasil tem todos os elementos para liderar esse movimento global.