Neste mês, estamos realizando diversos eventos em assentamentos rurais de nossa região, que estamos chamando de Caravana. Em meus 30 anos no agronegócio, esta foi a primeira vez que participei de uma roda de conversa com os assentados, e confesso que fiquei profundamente impressionado.
Admito que, influenciado por uma visão limitada e por uma certa confusão com os famosos movimentos sociais, eu imaginava que esses encontros seriam apenas discussões políticas e ideológicas, com cada grupo tentando impor sua visão de mundo ao outro.
A ideia de “nós contra eles”, “ricos contra pobres” ou “X contra Y” logo se desfez.
Esses agricultores me apresentaram uma realidade completamente diferente: uma grande vontade de progredir, de gerar riquezas e de produzir, o que, confesso a vocês, me encheu de energia.
Eles compartilharam suas dificuldades, como a imprevisibilidade do clima nesta safra, que castigou tanto a soja quanto o milho, dos preços das commodities, das relações de troca desfavoráveis e acima de tudo, dos desafios para conseguirem financiamento.
Sem a regularização das terras, ficam em um limbo: nem pequenos o suficiente para acessar o Pronaf, nem grandes o bastante para obter crédito de outras linhas.
Também me mostraram como se organizam, compartilhando equipamentos, troca de experiências, como conseguem informação etc. Explicaram que, ao longo dos 25 anos de existência dos assentamentos, houve uma espécie de “seleção natural”, diferenciando aqueles que apenas queriam a terra daqueles que realmente desejam ser agricultores, o que causa problema também pois muitos deles expandiram as suas terras em áreas compradas só no papel.
O Mato Grosso do Sul, com sua vasta extensão territorial, é maior que muitos países agrícolas vizinhos e está entre os maiores produtores de alimentos do Brasil. Segundo o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA), o estado conta com cerca de 319 assentamentos rurais, onde mais de 28 mil famílias trabalham e vivem. Esses agricultores são uma força essencial para o desenvolvimento do nosso estado e para a segurança alimentar do país.
Em nossa área de atuação temos 7658 famílias de agricultores e só conhecemos 4595, a maior parte dos que não conhecemos, provavelmente estão nesses locais, visto que o nosso conhecimento de áreas abaixo de 100 hectares é menor que 20% conforme quadro acima.
Conhecer todos os agricultores de nossa área é um de nossos maiores objetivos e por isso começamos a fazer essas caravanas nos diversos assentamentos com o objetivo de levar soluções e aumentar o nosso contato e interações com esses grupos de agricultores.
No Assentamento Tamakavi, em Itaquiraí, tivemos a oportunidade de nos conectar diretamente com esses pequenos produtores (com uma média de 20 hectares) e desmistificar a ideia de que a tecnologia é apenas para grandes agricultores.
Promovemos uma roda de conversa produtiva, mostrando que a tecnologia está ao alcance de todos, e apresentamos as vantagens dos nossos consórcios e financiamentos, além do suporte completo e das soluções de pós-venda que oferecemos.
A Caravana, que estamos promovendo neste mês nos diversos assentamentos de nossa área, faz parte do nosso esforço para tornar a tecnologia acessível a todos os agricultores, independentemente do tamanho de suas propriedades.
Este artigo traz à tona os desafios e oportunidades desses agricultores e de como podemos torná-los mais rentáveis, mais produtivos e mais sustentáveis, e estar perto deles, ouvindo suas demandas e construir soluções personalizadas para cada, um faz parte de nosso trabalho como agrônomos e fomentadores do progresso.
O que são os assentamentos rurais?
Os assentamentos rurais são áreas destinadas à agricultura familiar, criadas por meio de processos de reforma agrária promovidos pelo governo, principalmente pelo INCRA.
Nessas terras, famílias que antes viviam em vulnerabilidade social têm a chance de produzir alimentos, gerar renda e construir uma nova perspectiva de vida, utilizando o campo como base de sustento.
Essas iniciativas visam redistribuir terras improdutivas, promovendo justiça social e acesso à terra para quem, de outra forma, estaria à margem do setor produtivo. Atualmente, milhões de brasileiros vivem e trabalham em assentamentos, cultivando áreas que antes estavam subutilizadas. Como dissemos antes, no Mato Grosso do Sul temos 28 mil famílias presentes nesses assentamentos.
Impacto econômico e social
A agricultura familiar, que é o foco dos assentamentos rurais, responde por uma parcela significativa da produção de alimentos consumidos no Brasil. Dados do Censo Agropecuário mostram que pequenas propriedades são responsáveis por mais de 70% dos alimentos que chegam à mesa dos brasileiros, como feijão, mandioca, milho e hortaliças.
Ao contrário de outros assentamentos, em nossa região é impressionante ver que os assentados produzem soja e milho e não as culturas acima citadas. Mostrando que não existe divisão de classes na produção de alimentos e sim aptidões agrícolas tão bem estudadas e direcionadas pelos institutos de pesquisa.
Manter esses agricultores no campo e oferecer condições técnicas e financeiras adequadas reforça o impacto direto dos assentamentos na grandiosidade do agronegócio brasileiro.
Renato Seraphim – CEO na Ciarama Máquinas, concessionária John Deere
Manter esses agricultores no campo e oferecer condições técnicas e financeiras adequadas reforça o impacto direto dos assentamentos na grandiosidade do agronegócio brasileiro. Além da produção de alimentos, os assentamentos geram empregos e fortalecem a economia local.
Inclusão social e combate à pobreza
Um dos maiores legados dos assentamentos rurais é seu impacto social.
Muitas dessas comunidades são compostas por famílias que estavam em situação de extrema pobreza ou sem acesso a condições de vida dignas. Com a concessão de terras, essas famílias passam a ter uma oportunidade real de subsistência, educação e desenvolvimento social.
Programas de assistência técnica, capacitação, crédito rural e infraestrutura básica (como eletricidade, água e estradas) são essenciais para que essas famílias possam produzir de forma sustentável e melhorar sua qualidade de vida.
Para nós, fornecedores de insumos e tecnologia, é fundamental pensarmos em novas soluções de crédito e serviços diferenciados, para que esses agricultores possam tirar o máximo proveito de nossas tecnologias.
Isso só será possível se estivermos ouvindo e participando ativamente de suas comunidades e rotinas.
Sustentabilidade e preservação ambiental
Outro aspecto importante dos assentamentos rurais é seu potencial para práticas agrícolas sustentáveis. Muitas áreas adotam técnicas de agroecologia, que equilibram a produção agrícola com a preservação ambiental. Essas práticas visam conservar o solo, a água e a biodiversidade de forma responsável.
Os assentados também estão cada vez mais engajados na recuperação de áreas degradadas, no reflorestamento e na produção de alimentos sustentáveis. A agricultura sustentável nos assentamentos é uma solução eficaz para combater a fome e a pobreza, sem comprometer os recursos naturais das gerações futuras.
No assentamento em questão, todas as famílias preservam 20% de sua área, que estão concentradas em uma área única de preservação, sendo responsabilidade de todos de cuidar, zelar e preservar por essa área.
Desafios e Perspectivas
Apesar do grande potencial e impacto positivo, os assentamentos rurais ainda enfrentam desafios significativos.
A falta de infraestrutura, a dificuldade de acesso ao crédito e a assistência técnica limitada são barreiras que precisam ser superadas. Além disso, a regularização fundiária, que garante o direito legal sobre as terras aos assentados, continua sendo uma questão pendente para muitos.
Dar posse da terra a essas famílias é extremamente necessário para que elas não vivam sob a tutela do Estado e, assim como todos os agricultores, possam buscar financiamento em outros setores. Na agricultura tradicional, o Estado representa entre 20% e 30% do financiamento, e a participação de outros setores no custeio foi fundamental para a prosperidade do agronegócio.
Não teríamos o agronegócio do tamanho que temos, se dependêssemos somente do dinheiro do estado, e vale lembrar, que o dinheiro do estado não é dado, o agricultor tem que pagar por esses empréstimos mesmo quando as colheitas não são fartas. “Não existe almoço grátis”.
Com políticas públicas eficazes e um olhar atento para a agricultura familiar, esses obstáculos podem ser transformados em oportunidades.
Os assentamentos rurais, com sua capacidade de produção, inclusão social e preservação ambiental, são peças fundamentais no desenvolvimento não só do Mato Grosso do Sul, mas também do Brasil.
Conclusão
Os assentamentos rurais no Mato Grosso do Sul representam muito mais do que a simples redistribuição de terras. Eles são símbolos de resistência, inclusão social e desenvolvimento sustentável. As famílias assentadas, como as do Assentamento Tamakavi, têm mostrado que, com o apoio certo, podem contribuir significativamente para a economia, segurança alimentar e preservação ambiental do país.
Fortalecer os assentamentos rurais é uma questão estratégica para o futuro do Brasil.
Renato Seraphim – CEO na Ciarama Máquinas, concessionária John Deere
Fortalecer os assentamentos rurais é uma questão estratégica para o futuro do Brasil, garantindo que o campo seja um espaço de oportunidades e crescimento para todos e não local para conflitos e discussões ideológicas.
Minha reflexão é que, nesses assentamentos, os agricultores não podem e não devem viver apenas de políticas públicas. Precisamos estar unidos, sem divisões de classe, pensamento ou ideologia, para ajudar esses agricultores a se tornarem verdadeiros agentes de desenvolvimento sustentável, inclusão social e segurança alimentar em nosso estado.
Opinião
As ideias expressas nesta coluna são exclusivamente do(a) autor(a) e não refletem, necessariamente, a posição do Portal Destaque Rural.