As principais áreas produtoras de trigo do Rio Grande do Sul não estão entre as regiões mais afetadas pelas enchentes no estado. Ainda assim, elas também acumulam altos índices de precipitação durante o mês de maio e enfrentam problemas logísticos que prejudicam os trabalhos de entressafra e a entrega de insumos.
Os efeitos das chuvas e enchentes na próxima safra foram discutidos pela Câmara Setorial do Trigo em reunião realizada nesta segunda-feira (27) pela Secretaria da Agricultura, Pecuária, Produção Sustentável e Irrigação (Seapi).
“A terra foi levada com o excesso de umidade, de chuva e água no solo. Em determinadas regiões o solo foi carregado”, aponta o coordenador da Câmara, Tarcisio Minetto em entrevista ao portal Destaque Rural. Além das precipitações de maio, as chuvas em setembro e novembro do ano passado também prejudicaram os solos, que agora sofrem com a erosão e falta de fertilidade.
Em relação ao trigo que estava armazenado no estado, apesar de casos de moinhos que foram inundados, a avaliação é de que não há risco de desabastecimento, apesar do aumento do preço das matérias primas e da farinha.
Redução de área
Ano passado, os triticultores cultivaram 1,5 milhão de hectares no Rio Grande do Sul. A estimativa para este ano, segundo Minetto, gira entre 1,1 e 1,3 milhão de hectares. Os principais fatores apontados para essa redução são a erosão do solo, escassez de sementes, condições climáticas, acesso ao crédito e os preços do trigo.
A falta de sementes é decorrente da quebra de safra ocasionada pelas chuvas durante o período de colheita no ano passado. A produção total estadual caiu para a metade do que foi colhido em 2022 e áreas que eram destinadas para a produção de sementes tiveram perdas significativas.
O clima também está influenciando na redução da área de trigo, já que está impedindo os trabalhos de entressafra e semeadura. “Parece que agora nós teremos uma trégua de sete ou oito dias. E aí, naquelas áreas mais altas, nas coxilhas, o pessoal das regiões em que a janela já está prevista para o plantio do trigo poderá entrar na lavoura sem compactar”, avalia Minetto. Além disso, a previsão de La Niña no segundo semestre do ano também gera certa preocupação. Apesar do histórico de boas safras em anos de La Niña, o fenômeno pode prolongar as temperaturas mais baixas, trazendo o risco de geadas no final do ciclo do trigo.
Em relação ao mercado, os preços do trigo subiram nas últimas semanas devido a fatores externos, mas seguem nos mesmos patamares do ano passado. “Em 12 meses o preço ficou estável. Em safras anteriores, nós tivemos preços que passaram de R$ 110, R$ 120, dependendo da praça”, lembra Minetto.
Linhas de Crédito
A principal reivindicação do agronegócio no Rio Grande do Sul é a abertura de linhas de créditos para os produtores afetados pelas chuvas e enchentes. Os triticultores devem apresentar ao governo federal a solicitação de uma linha especial de crédito para a recuperação do solo.
Além disso, eles pedem uma extensão de prazo para a alteração da área nos projetos de custeio de orçamento de crédito. “Em função do clima [o produtor] vai ter que plantar em outra área, uma área mais na coxilha, mais possível de entrar com as máquinas, em função da umidade. Então se pediu, inclusive, que esse período que é previsto no Manual de Crédito Rural de 30 dias para o produtor indicar que ele alterou a área, que tenha uma extensão de prazo por no mínimo 90 dias para para ele ajustar essa área nova que ele terá que plantar em função da umidade e do excesso de chuva”, explica Minetto.
Importância
Apesar da previsão de redução da área, ainda há otimismo quanto à produtividade e produção de trigo na próxima safra, considerando a expectativa de redução de chuvas nos próximos meses. Além disso, a cultura é considerada importante no sistema produtivo para aproveitamento da área, rotação de culturas e cobertura do solo.