A produção recorde de trigo no Rio Grande do Sul é apontada como o principal acontecimento positivo da agropecuária gaúcha neste ano, principalmente após frustrações com a soja e o milho. A Federação das Cooperativas Agropecuárias do Estado do Rio Grande do Sul (FecoAgro/RS) afirma que o volume deverá passar de 5 milhões de toneladas e já considera a colheita encerrada. Desse total, as cooperativas receberam 3,2 milhões de toneladas, o correspondente a 65% da produção.
Até o momento, 55% desse trigo já foi comercializado. Apesar do resultado positivo e do otimismo, o volume excepcional de trigo produzido traz uma preocupação. Há um curto espaço de tempo para realizar essa comercialização, principalmente para exportação, antes da entrada da colheita de milho e soja. “A safra foi colhida, o produto está armazenado, mas não temos uma clareza de comercialização”, explicou o presidente da FecoAgro/RS, Paulo Pires, durante coletiva de imprensa virtual.
É esperado que o estado exporte mais de 3 milhões de toneladas. No entanto, as negociações estão lentas, encurtando a janela de comercialização. “O produtor não está vendendo, então as cooperativas e cerealistas também não estão vendendo”, ressalta Pires. Em comparação com recordes atingidos neste ano, o preço do trigo recuou para R$ 1557,46/t, de acordo com o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea).
“Sem a exportação e sem a janela de porto, nós não vamos poder sustentar esses preços”, alerta Pires. Apesar disso, os problemas de safra na Argentina e Paraná podem beneficiar o trigo gaúcho, mesmo com o aspecto negativo da produção recorde mundial. Ainda que pairem diversas incertezas no cenário global, há uma situação de estabilidade nos preços.
O conselho é para que os produtores analisem bem a situação. Pires aponta que os insumos, inclusive fertilizantes, estão com preços menores, o que amplia o poder de compra. Essa relação pode acabar compensando em termos financeiros.
Para 2023, a expectativa é de novo aumento na área do cereal.
Estiagem
Os impactos da estiagem na produção da safra 2022/2023 são considerados um dos mais graves da história. A entidade criticou a falta de ações emergenciais e políticas públicas. “Tivemos uma audiência em janeiro deste ano com a então ministra da Agricultura, Teresa Cristina, em Santo Ângelo (RS), e pedimos uma prorrogação das dívidas para depois da safra, mas infelizmente não aconteceu e o crédito em 2022 foi muito escasso”, observou Pires.
Cooperativismo
O faturamento do cooperativismo gaúcho deve se manter estável, considerando levantamento feito no acumulado até outubro, que totalizou R$ 32 bilhões. O valor é equivalente ao obtido no mesmo período do ano passado. “Os fatores soja e milho pesaram bastante nessa conta. O fato positivo é a questão das sobras, onde temos um crescimento de 6,7% até outubro e que pode sofrer ajustes mais para frente. A margem bruta cresceu 18% e a margem líquida aumentou 9%”, afirmou. Essa diferença decorre do aumento dos custos, o que impactou a margem líquida.
Governo
Em relação ao novo governo federal, Pires afirmou que é preciso ter convergência e um governo comum, considerando o papel do agronegócio para o país. “A eleição passou e hoje estamos todos juntos em um país e os nossos interesses devem ser convergentes. Nada problemático de que algumas coisas se pense diferente, e as cooperativas devem seguir se posicionando”, concluiu.
Confira hoje às 19h: LIVE Destaque em Pauta – O Ano do Trigo
Assista também
Com informações da FecoAgro/RS