Trigo

Produção de cereais de inverno e etanol podem gerar impacto positivo no PIB gaúcho

Em 2021, a produção agropecuária gaúcha avançou e impulsionou um crescimento de 10,4% no PIB estadual. Esses resultados, no entanto, não devem se repetir em 2022, após a quebra de safra do principal produto, a soja, que já derrubou o PIB estadual no segundo trimestre deste ano. Agora, a esperança de recuperação vem do trigo, cultura que cresceu neste ano, mas que ainda ocupa uma parcela pequena dos hectares disponíveis para a agricultura. Dados da Farsul, anteriores à safra atual, apontam que a produção da safra de inverno do estado representa apenas 9% do tamanho da safra de verão.

Respondendo às demandas de mercado, que exigem maior produção de grãos para alimentação animal, consumo, exportação e até produção de etanol, o setor pretende ampliar em 40% a produção agropecuária gaúcha e gerar um impacto no PIB do estado de em torno de 7%, aproximadamente R$ 31,9 bi. Para isso, o programa Duas Safras está percorrendo o estado e realizando seminários de capacitação. A iniciativa chegou a Passo Fundo nesta terça-feira (04), com realização conjunta da Farsul, Senar-RS, Embrapa, ABPA, Fecoagro/RS, Asgav e Federarroz. O Programa engloba quatro temas: cereais de inverno, integração lavoura-pecuária, milho e qualidade dos grãos.

Seminários estão sendo realizados em diversas cidades gaúchas | Foto: Bruna Scheifler/Destaque Rural

Em Passo Fundo, o destaque foi o trigo, cuja produção pode ajudar a diminuir custos de produção, ampliar a rentabilidade e diminuir o impacto de frustrações de safra nas propriedades e na economia gaúcha. “O que é perdido no verão hoje não tem a menor possibilidade de tapar o buraco com a safra de inverno, mas ameniza e minimiza. Aqueles produtores que têm uma participação importante da safra de inverno, eles conseguem dar uma equilibrada muito boa, mas essa não é a realidade do estado do Rio Grande do Sul, se fosse, certamente o tombo seria bem menor”, avalia o economista-chefe da Farsul, Antonio da Luz.

Etanol

Entre as oportunidades apresentadas no evento, está a usina produtora de etanol e farelos da BSBIOS, que conta com investimento de R$ 316 milhões na primeira fase de implantação e deve iniciar as operações no segundo semestre de 2024. “A chegada da usina de etanol vai trazer uma nova demanda por trigo que ainda não existe, hoje ele é produzido para alimentação e exportação, e através da usina nós vamos ter um terceiro mercado. Isso é muito positivo para o agricultor porque ele vai poder vender a produção para a produção energia”, destaca o presidente da BSBIOS, Erasmo Carlos Battistella.

Foto de homem branco, com terno preto falando em microfone falando em frente a painel eletrônico do Seminário Duas Safras.,
Erasmo Battistella apresentou o projeto da usina de etanol que será instalada no município | Foto: Bruna Scheifler/Destaque Rural

O projeto inclui parcerias para desenvolvimento de cultivares destinadas à produção de etanol e pretende ampliar em 14% a oferta de trigo ao final da segunda fase, aumentando a área plantada em 200 mil hectares. Além disso, o farelo gerado pela produção de etanol será utilizado para a produção de ração animal.

Na avaliação de Battistella, esse movimento de industrialização também contribui para a estabilidade do PIB regional. “Quando nós estamos industrializando aqui no Rio Grande do Sul, nós aumentamos a procura, então você tem uma estabilidade maior e demanda o ano todo, é o que está acontecendo hoje com a soja para o biodiesel, você tem produção e demanda o ano todo e assim será com o trigo para a produção de etanol”, avalia Battistela.

“Os mercados estão nos indicando que precisamos aumentar a produção. O etanol é algo que entrou no programa Duas Safra e vai continuar nos acompanhando para demonstrar ao produtor rural mais uma opção desse mercado”, afirma o presidente da Farsul, Gedeão Pereira.

Desafios

A produção no inverno, e até em uma terceira safra, apresenta oportunidades de mercado e econômicas atrativas para os produtores rurais e para o estado. “Se eu produzo bem no verão e no inverno, eu consigo dinamizar meu negócio porque eu reduzo os custos fixos e eu tendo a aumentar a minha lucratividade significativamente. Ao mesmo tempo eu causo na economia um impacto enorme, porque é mais agricultura, é mais indústria, serviços e tudo, e podemos voltar a sonhar em ter uma expansão da nossa produção aqui”, ressalta da Luz.

Esse avanço, entretanto, possui alguns entraves que dependem da orientação técnica. Além dos seminários, o Programa planeja diferentes abordagens para o ano que vem, incluindo dias de campo, ações específicas em determinadas empresas e grupos de produtores.

De acordo com Gedeão Pereira, o programa Duas Safras tem uma visão para todo o estado do RS e para cada região. “Mostrar ao produtor as tecnologias necessárias tanto para a cultura do trigo, como para própria soja, que já predomina e está consolidada, para o milho na metade sul, irrigado por sulco-camalhão, e também para tentarmos responder a uma pergunta que surge com esse avanço agrícola”, explica, mencionando a redução de espaço para pecuária.

Exemplo

Foto de homem branco, vestido com jaqueta preta, falando em microfone.
Fauro Loreto da Rocha apresentou medidas adotadas em sua propriedade | Foto: Bruna Scheifler/Destaque Rural

O Seminário também apresentou exemplos de gestão de propriedades e de cultivo rentável de trigo. Após uma safra em que não obteve lucro com o cereal, o produtor rural Fauro Loreto da Rocha, representante da Agropecuária São Miguel, de Santa Bárbara do Sul (RS), tomou uma série de ações para tornar o cultivo mais eficaz e rentável.

“Vim falar para o produtor rural sair da sua zona de conforto e trabalhar também com culturas de inverno, não apenas soja, para baixar custo de produção e aumentar a produtividade ao mesmo tempo. Fazer uma adubação orgânica em cima desse trigo, fazer adubação verde, plantar nabo e ervilhaca, e na sequência fazer a semeadura do trigo no verde”, menciona entre as medidas adotadas.

Como resultado, na safra de inverno anterior a propriedade obteve 42 sc/ha de lucratividade, considerando custo médio de 20 sc/ha e produtividade de 62 sc/ha.

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