Dia Nacional do Plantio Direto

Sistema Plantio Direto é celebrado diante de desafios para consolidação e expansão

Apesar de avanços que promovem a sustentabilidade, o sistema ainda enfrenta desafios para se consolidar com todos os seus preceitos

O Dia Nacional do Plantio Direto é comemorado hoje, dia 23 de outubro, em todo o país. A data foi instituída e celebrada pela primeira vez no ano passado, por meio da Lei 14.609/23. A implantação do sistema começou há mais de 50 anos no Sul do país e revolucionou a agricultura ao promover a conservação do solo a partir de uma mudança de paradigmas no cultivo agrícola.

O Sistema Plantio Direto é baseado em três pilares: o não revolvimento do solo, a manutenção da cobertura permanente do solo e a rotação de culturas. A partir dessas práticas, é possível minimizar a erosão do solo, aumentar o armazenamento de água, promover o sequestro de carbono e, no longo prazo, até aprimorar a produtividade. Apesar de avanços que promovem a sustentabilidade, o sistema ainda enfrenta desafios para se consolidar com todos os seus preceitos.

De acordo com dados da Federação Brasileira do Sistema Plantio Direto, em 2017/2018, o plantio direto chegou a mais de 33 milhões de hectares. Porém, especialistas apontam que nem todos os pilares do sistema são seguidos nessas áreas e que nos últimos anos houve uma estagnação e até redução da área com plantio direto no Brasil. Com tantos benefícios comprovados, pesquisadores e especialistas se perguntam por que o sistema ainda enfrenta resistência e por que produtores vêm abandonando a prática, mesmo em meio a desafios climáticos e pressões cada vez maiores pela sustentabilidade.

História

O Sistema Plantio Direto chegou ao Brasil na década de 1970, baseado na técnica norte-americana chamada de no-tillage. Até então, o Brasil adotava o modelo europeu, que consiste na preparação do solo com aração e gradagem. 

Hebert Bartz foi o primeiro a implantar o sistema após sucessivas perdas de lavouras por chuvas no Paraná. Ele foi até os Estados Unidos, onde conheceu a técnica e organizou a importação de uma máquina própria para esse sistema. 

“Quando chegou a safra de 1972, o que ele tinha intenção de começar em 10% da área, correu tudo tão mal, que ele acabou tendo que vender todo o equipamento dele convencional e ele terminou com essa máquina, que era máquina para plantio direto, um trator e uma colheitadeira”, conta Marie Bartz, bióloga, professora visitante da Universidade Federal De Santa Catarina e filha de Herbert Bartz.

Mesmo com dificuldades, ele realizou o plantio direto em 100% da área e insistiu no sistema, apesar da desconfiança. “Meu pai dizia, eu ‘prefiro perder a minha soja pro mato do que perder o meu solo por erosão’. Então às vezes ele falava, ‘prefiro comprometer a minha produtividade do que perder o meu patrimônio mais precioso que é o solo”, relata a pesquisadora. 

A partir da iniciativa de Bartz, outros agricultores começaram a adotar a técnica e o cultivo foi se expandindo no país. Com o tempo, a pesquisa se desenvolveu para testar e balizar o sistema e também empresas começaram a desenvolver maquinários próprios nacionais, impulsionando a adoção. 

Vantagens

A principal vantagem do plantio direto, apontada por especialistas, é a proteção do solo. “Onde tem o solo coberto todo o ano, a principal causa de erosão do solo, que seria o impacto da gota, não há mais, dificilmente vai atingir o solo. E também aumenta a infiltração. Agora, para isso o solo não pode estar compactado e tem que ter resíduo na superfície, seja verde ou o resíduo morto, a parte de palhada, e um bom sistema radicular que ajude a infiltração de água”, explica Renato Levien, professor aposentado da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).

A partir dessas práticas, surgem os outros benefícios, inclusive maior matéria orgânica, melhor aproveitamento da fertilização do solo, melhor condição física para o crescimento radicular das raízes das plantas, aumento da biodiversidade e até o sequestro de carbono.

Ao longo prazo, o sistema permite incremento da produtividade e rentabilidade. “Como você vai melhorar as condições do solo, isso vai refletir na sua produtividade e, claro, consequentemente, você vai reduzir também os insumos”, destaca Marie.