A chuva deve continuar nos próximos dias no Rio Grande do Sul, trazendo preocupação para a semeadura das lavouras de verão, especialmente o arroz. No início do mês, o acumulado de chuvas ficou abaixo da média para o período, mas as chuvas frequentes dificultaram os trabalhos de plantio do cereal. Agora, as chuvas estão mais intensas e os acumulados podem chegar a 300 mm ainda nesta semana em algumas regiões.
A semeadura do arroz ainda está no início, com apenas 7,9 mil hectares plantados, o que representa 0,83% dos mais de 948,3 mil ha estimados pelo Instituto Riograndense do Arroz (Irga), conforme atualização da quinta-feira (19). “Algumas regiões ainda não começaram esse processo, basicamente por conta dessa frequência muito alta das chuvas”, afirma a meteorologista do Irga, Jossana Cera.
Apesar de uma trégua prevista para as chuvas no final de semana em todo o estado, as precipitações devem retornar a partir da próxima segunda (30) e devem seguir com frequência até o dia 10 de outubro. “Essas chuvas podem ser expressivas, então acaba sendo um ponto de preocupação”, alerta a meteorologista.
Previsão
Uma frente fria estacionária traz chuvas intensas e temporais para a Metade Sul do estado desde o último domingo (22). Enquanto isso, a Metade Norte do estado está sob a influência de uma onda de calor que atinge a região central do país. “Isso acaba também impedindo que essa frente [fria] avance. Ela deve tomar esse rumo e avançar sobre o estado a partir de quinta-feira (26)”, afirma Jossana.
Até a quinta-feira, as chuvas seguem, inclusive com temporais isolados, vento, raios e eventual queda de granizo. Já a região norte do Estado continua com tempo seco e calor.
Na quinta-feira, com o avanço da frente fria, as chuvas podem atingir mais as áreas de fronteira com o Uruguai. Porém, conforme outro modelo meteorológico, essa chuva mais forte pode atingir uma faixa mais central do Estado, que compreende as regiões noroeste, centro e região metropolitana de Porto Alegre. As áreas mais ao sul e ao norte do estado devem registrar chuva mais fraca.
Na sexta-feira (27), a frente fria começa a se afastar e o tempo fica mais aberto nas áreas de fronteira. Do centro para o norte, ainda terá nebulosidade com risco de chuva fraca. O sábado (28) e o domingo (29) devem ser marcados por tempo seco e temperaturas mais amenas.
Fumaça
A frente fria também trouxe a fumaça das queimadas que estão acontecendo em diferentes áreas do país. Ela deve seguir sobre o estado até a passagem da frente fria, portanto o céu só deve ficar mais limpo no final de semana. “O vento muda de direção e ao invés de ser norte, ele passa a ser do quadrante sul, então a tendência é que essa fumaça suba. No entanto, quando a chuva retornar, a tendência é que ela acabe puxando de novo essa fumaça aqui para o Rio Grande do Sul”, explica Jossana.
A fumaça só deve cessar quando as queimadas pararem, o que ainda pode demorar. “A expectativa é de que as chuvas retornem de forma mais frequente para aquelas regiões a partir da segunda quinzena de outubro. Então, a partir desse período, se as chuvas lá naquela região começarem a ser mais frequentes, a tendência é de que o fogo diminua e aí, por consequência, diminuam as fumaças aqui”, projeta a meteorologista.
Comparando os dados meteorológicos da estação do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) de Santa Maria e de Porto Alegre, a meteorologista do Irga constatou uma diminuição de 40% da radiação solar em um dia com fumaça em relação a um dia de sol sem a fumaça. Essa redução pode ter efeitos negativos sobre as culturas agrícolas do estado.
Primavera e La Niña
A primavera começou oficialmente no domingo (22), ainda dentro da neutralidade climática, período de transição entre os fenômenos El Niño e La Niña. A Administração Oceânica e Atmosférica Nacional dos Estados Unidos (NOAA) prevê que o La Niña pode se desenvolver no trimestre de setembro, outubro e novembro com 71% de probabilidade.
“Eu tenho dúvidas se realmente ela se estabelece neste trimestre ainda ou se de repente não fica para o próximo”, pondera Jossana. Caso ocorra ainda nesse trimestre, a meteorologista avalia que o La Niña só deva começar entre outubro e novembro.
“Acredito que a gente possa observar alguma redução nas precipitações mais para o final de outubro ou basicamente a partir do mês de novembro”, explica Jossana. Novembro já é um mês que costuma registrar menos chuvas do que nos dois meses anteriores. “Além disso, a gente tem dias mais longos, mais sol, temperaturas mais altas, o vento também tende a aumentar e, por consequência disso, acaba que o solo seca com uma maior rapidez. Então acredito que para as culturas de verão, o mês de novembro seja um ponto de atenção”, alerta a meteorologista.
O Inmet indica chuvas entre normal e acima da média em outubro e novembro com chuvas mais próximas da normalidade, com uma tendência de ser abaixo da média. Dezembro tem tendência de chuvas abaixo da média. “Já alguns outros modelos seguem a linha de outubro, novembro e dezembro com chuvas abaixo da média. Então é um ponto bastante crítico esse momento, principalmente por estarmos nesse momento ainda de transição, entre neutralidade e a La Niña”, avalia Jossana.