Tecnologia

Uso estratégico de drones na pulverização agrícola apresenta vantagens e desafios

A pulverização agrícola avançou com a evolução e disseminação de novas tecnologias que apostam na precisão do processo. Em constante evolução, há alguns anos os drones passaram a fazer parte do portfólio à disposição dos agricultores. Já são mais de 2,2 mil drones registrados no Brasil para uso agrícola pela Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC).

O seu uso e potencialidade seguem sendo estudados, inclusive por um levantamento da Embrapa Soja que demonstrou bons resultados na pulverização contra pragas da soja. Além dos resultados positivos no controle de pragas, a tecnologia se destaca por vantagens estratégicas e pela integração. “Os drones são uma ferramenta mais ou menos recente para pulverização e eles se inserem de uma forma complementar a outras ferramentas que o agricultor já está habituado a utilizar, como a pulverização tratorizada, em alguns casos a aplicação manual, costal e também a utilização de aviões agrícolas. É mais uma ferramenta que está sendo disponibilizada. Ainda é um mercado crescente e tem uma série de desafios”, ressalta o pesquisador Samuel Roggia, em entrevista à live Destaque em Pauta.

Entre as principais vantagens, o drone permite a pulverização em situações em que os tratores não podem entrar nas lavouras, como após uma chuva. Além disso, ele não produz nenhum tipo de amassamento. O tamanho e mobilidade também facilitam o acesso a áreas complicadas. “O agricultor pode destinar o drone para fazer pulverizações próximo da cerca, fazer arremates, pulverizações próximas de instalação de postes, que com o trator ele teria que fazer a volta e provocar mais amassamento. Ele pode destinar essas pequenas áreas e retalhos exatamente para o drone, que faz isso com muito mais facilidade”, descreve o especialista.

Gargalos

Como uma tecnologia recente, o uso de drones na agricultura também apresenta algumas limitações. As principais são a autonomia das baterias, o que limita o tempo de voo, e do tanque de calda. “Acaba sendo um limitante quando a gente pensa no uso de um único drone para fazer a aplicação”, aponta Roggia, lembrando que a soja costuma ser cultivada em áreas extensas. Uma alternativa que pode minimizar esse desafio é o uso de enxames, isto é, vários drones ao mesmo tempo.

Uso estratégico

Considerando as vantagens e desafios, o uso dos drones é aconselhado como forma complementar e estratégica. “A vantagem e o diferencial de fazer uma boa aplicação na hora certa é que pode resultar em um benefício que compensa. Ainda a pulverização com drone pode ser um pouco mais cara […]. O que a gente destaca é o uso estratégico do drone, o uso dele para resolver coisas ou aplicações que não se poderia fazer naquele momento com a tratorizada, a manual ou outras técnicas de aplicação. A gente vê mais uma oportunidade de uso do que propriamente uma vantagem econômica, pelo menos neste momento”, avalia o pesquisador.

“A gente não visualiza que o drone vai substituir todas as outras ferramentas, a gente visualiza justamente a integração com outras táticas”, resume Roggia.

Samuel Roggia – pesquisador da Embrapa Soja

O custo benefício do uso dessa tecnologia ainda é avaliado e o especialista aponta para um aumento dos preços dos insumos eletrônicos, devido ao cenário econômico global. “A gente espera que no futuro as coisas se acomodem, assentem e se estabilizem com preços mais acessíveis, inclusive o preço de aquisição, reparos e manutenção de drones, com isso também o preço do serviço disponibilizado aos agricultores”, projeta. As possibilidades para a adoção desta tecnologia incluem a aquisição própria, aluguel e arrendamento de drones.

Mesmo com a expectativa de expansão da adoção da tecnologia conforme o suporte tecnológico e agronômico se desenvolvem, os drones deverão seguir como uma ferramenta complementar. “A gente não visualiza que o drone vai substituir todas as outras ferramentas, a gente visualiza justamente a integração com outras táticas”, resume Roggia.

Pesquisa

A pesquisa da Embrapa Soja avaliou o desempenho de drones como veículos de pulverização no controle de duas pragas da cultura da soja, o percevejo-marrom e a lagarta-falsa-medideira Rachiplusia nu. “O percevejo é umas principais pragas e é também um grupo de pragas que representa um grande desafio para controle, é uma praga que ocorre mais no final do ciclo, quando a cultura já está mais fechada, e às vezes tem algumas restrições inclusive de entrada na lavoura com métodos tradicionais”, aponta Roggia. Já a lagarta tem sido resistente ou não controlada pela soja Bt nas últimas três safras.

“Apesar do baixo volume de calda por hectare, a gente conseguiu bons resultados de controle tanto no controle químico de percevejo […] e no controle biológico da lagarta-falsa-medideira”.

Samuel Roggia – pesquisador da Embrapa Soja

Os equipamentos foram testados na safra 2020/2021 em comparação a outros métodos, como tratores e borrifadores costais, para aplicação de produtos químicos e biológicos. O objetivo geral era verificar se era possível fazer o controle com drones, especialmente devido ao problema do volume reduzido de calda por hectare, já que o mais frequente é o uso de 10l de calda por hectare.

“Apesar do baixo volume de calda por hectare, a gente conseguiu bons resultados de controle tanto no controle químico de percevejo […] e no controle biológico da lagarta-falsa-medideira”, resume o pesquisador. Os dois alvos possuíam características e padrões diferentes de pulverização, ainda assim, os considerados foram considerados bons contra as duas pragas. “Resultados equivalentes ao da pulverização tratorizada […] e também com a pulverização costal”, resume Roggia.

Os pesquisadores da Embrapa Soja avaliam também o uso de drones contra a principal doença da cultura, a ferrugem-asiática. As pesquisas até o momento constataram desempenho equivalente à pulverização tratorizada, no entanto a incidência da doença foi baixa nas duas safras que foram estudadas. Desta forma, os ensaios estão sendo repetidos na safra 2021/2022.