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Geração de energia renovável no campo vira case internacional

Os excelentes resultados obtidos com a implementação de sistemas fotovoltaicos e biodigestores para a geração de energias renováveis no Paraná, principalmente na região Oeste, tornaram-se uma referência tanto nacional quanto internacional, inspirando a criação de projetos municipais. Essas iniciativas são viabilizadas por meio do programa RenovaPR, que oferece suporte às famílias de produtores rurais na adoção de sistemas próprios para a produção de energia, seja por meio de placas solares ou do processamento de biomassas para a obtenção de biogás e biometano.

Desenvolvido pela Secretaria da Agricultura e do Abastecimento e pelo Instituto de Desenvolvimento Rural do Paraná (IDR-Paraná), em colaboração com a iniciativa privada e instituições de crédito, o RenovaPR completou dois anos em 2023. Até janeiro de 2024, o IDR aceitou 7,6 mil projetos de energia sustentável, totalizando R$ 1,3 bilhão em investimentos, com juros subsidiados pelo Banco do Agricultor Paranaense. Este banco recebe subsídios do Governo do Estado, incentivando a obtenção de crédito para investimentos destinados a ampliar e modernizar a produção agropecuária

A produção própria de energia limpa pelos agricultores não apenas proporciona economia, mas também melhora a competitividade dos produtos paranaenses, promovendo uma produção mais sustentável. A divulgação do programa aos agricultores é realizada pelos escritórios regionais e pelos servidores que atendem os produtores no campo. Os técnicos do IDR-Paraná desempenham um papel fundamental no acompanhamento dos projetos, desde a implementação até a aprovação pela instituição financeira.

“A segurança energética é uma das principais diretrizes do Sistema Estadual de Agricultura. Buscamos alternativas que sejam sustentáveis tanto ambiental quanto economicamente”, afirma o secretário estadual da Agricultura e do Abastecimento, Norberto Ortigara.

Segundo Ortigara, esse desempenho aproveita um momento de interesse crescente por parte dos produtores, da indústria e da sociedade em uma produção agropecuária voltada para a preservação do meio ambiente. Na área rural do Paraná, cerca de 18% da energia gerada é renovável, o segundo melhor índice do Brasil, perdendo apenas para o estado de Minas Gerais (21,1%). A energia solar é o principal componente dessa transformação, mas as conexões com biomassa também estão ganhando cada vez mais adeptos.

No Oeste do Paraná, destacam-se as condições favoráveis, como altas temperaturas, expressiva produção de proteínas animais (geradora de resíduos reaproveitáveis) e industrialização.

Em novembro do ano passado, o RenovaPR foi tema de destaque na Conferência Internacional sobre Participação Pública e Tecnologias da Informação, realizada pelo Consórcio E-Planning e pelo Departamento de Estudos Urbanos do Massachusetts Institute of Technology, nos Estados Unidos. A palestra “Mudanças climáticas e transição energética na era digital: experiências sustentáveis e inclusivas do Oeste” focou especialmente no contexto de inclusão econômica e proteção ambiental ligado à adoção dessas práticas e seu impacto no combate às mudanças climáticas.

A assessora de Inovação da Prefeitura de Santa Helena, Vera Viviane Schmidt Abomorad, que apresentou exemplos de sucesso no evento, destaca: “Quando falamos em energia renovável, pensamos que outros países são referência, mas a verdade é que o público do evento, proveniente de vários continentes, ficou impressionado com o potencial do Paraná e me procurou para saber mais sobre nossa experiência”.

Ainda no Oeste, o casal Maria e Emílio Angst, proprietários de uma área de três hectares em Toledo, investe na geração de biogás a partir dos resíduos dos animais criados em sua propriedade. Com esse novo sistema, ampliaram significativamente a capacidade de criação de porcos, alcançando uma renda bruta multiplicada por 3,5 vezes em três a cinco anos.

Outra instalação viabilizada pelo RenovaPR está na granja do produtor Paulo Schwabe, em Santa Helena. O projeto, iniciado em 2022, teve o biodigestor instalado em 2023, trazendo benefícios como a produção de energia limpa e biofertilizantes a partir dos dejetos suínos, melhorando a qualidade das pastagens.

Programas como o Banco do Agricultor Paranaense e o RenovaPR também estão servindo de inspiração para iniciativas locais de fomento à energia renovável. Em Santa Helena, a prefeitura criou um programa que subsidia os juros de financiamentos para o desenvolvimento rural, incluindo sistemas fotovoltaicos.

O engenheiro agrônomo do IDR-Paraná em Santa Helena, Carlos Harold, destaca que as principais cadeias beneficiadas pelo RenovaPR na região são a avicultura, a bovinocultura leiteira e a agroindústria. O Instituto orienta os produtores desde a divulgação das regras do programa até a elaboração do projeto a ser apresentado aos bancos.

“Santa Helena tem um perfil de pequenas propriedades. A maioria tem menos de 10 hectares, mas são propriedades altamente tecnificadas, com suínos, avicultura, piscicultura se desenvolvendo. São atividades em que a produção de energia renovável vem para agregar, baixando custos e ajudando na estabilização da energia”, explica Carlos Harold.

O extensionista destaca que 132 pré-propostas já foram feitas por produtores da cidade, demonstrando o interesse dos agricultores em alternativas sustentáveis. “Com o dinheiro que o produtor estaria pagando a conta de luz, hoje, praticamente já está tendo retorno dos investimentos. É um incentivo para investir no seu negócio”, complementa.