Tecnologia

Embrapa faz recomendações para enfrentamento da estiagem no RS

O presidente da Embrapa, Celso Moretti, participa nesta semana da comitiva do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento que vai passar por quatro áreas do Centro-Sul do Brasil que estão neste momento sendo fortemente afetadas pela estiagem: Santo Ângelo-RS, Chapecó-SC, Cascavel-PR e Ponta Porã-MS.

A forte estiagem que acomete os quatro estados neste momento é decorrente do fenômeno oceânico-atmosférico La Niña, que ocorre nas águas do Oceano Pacífico e é caracterizado pelo resfriamento do oceano, causando interferência em diversas regiões do mundo.

O presidente da Embrapa, Celso Moretti, participou dos encontros com lideranças| Foto: Divulgação

Os baixos índices de chuva observados na safra 2021/2022 no Mato Grosso do Sul e na Região Sul do país confirmam a tendência de maior frequência de eventos extremos prevista pelos estudos sobre as Mudanças Climáticas Globais, conforme a Embrapa. A entidade destaca que é fundamental, além de ações emergenciais e de curto prazo, que sejam estabelecidas estratégias de gestão de risco para minimizar os efeitos de condições adversas de clima sobre a agricultura nos próximos anos.

“Foram encontros bastante positivos. Conhecemos de perto a realidade da estiagem, bastante séria e grave, que está ocorrendo na região”, explicou Moretti. Até a primeira semana de janeiro, 800 mil hectares de cultivos de verão já foram diretamente afetados, seja por perda total da produção, ou pela estiagem ainda não ter permitido a semeadura. Prognósticos climáticos apontam que a condição de La Niña seguirá até o final do verão 2022, o que deve aumentar ainda mais as perdas do setor agrícola no Rio Grande do Sul.

Alternativas

“Tanto no Rio Grande do Sul quanto em Santa Catarina, a Embrapa evidenciou as possibilidades que a tecnologia tem para ajudar os produtores neste momento, tanto na questão da reserva de água, por meio das Barraginhas, quanto pela condução e diversificação de lavouras de segunda safra e de inverno, com o uso de cereais de inverno na alimentação animal (triticale, trigo, canola, centeio, aveia e cevada). Esses cereais podem ser plantados a partir de março e ser uma boa alternativa para recuperar um pouco a renda perdida com outras culturas”, afirmou o presidente Celso Moretti.

Embrapa Trigo e Embrapa Suínos e Aves têm estudos que mostram que o milho pode ser substituído, principalmente pelo trigo e pelo triticale, sem afetar a qualidade nutricional na composição de ração para suínos e aves.

Outra alternativa recomendada pela pesquisa para a atividade pecuária é a utilização de gramíneas forrageiras, como braquiárias ou panicuns. Em função da possibilidade de antecipação da semeadura, há grande potencial de produção de fitomassa em curto prazo, uma vez que essas plantas ainda se beneficiarão das condições do verão, bem como dos fertilizantes residuais aplicados anteriormente sobre as culturas afetadas pela estiagem.

No caso de braquiárias ainda será possível usufruir de benefícios auferidos pela semeadura direta sobre a palhada na safra seguinte. O milheto é outra opção, pois é uma planta de crescimento inicial rápido, o que viabilizará a oferta de alimento para o animal de forma antecipada.

Opções tecnológicas recomendadas pela Embrapa a curto prazo para o RS

  • Cultivo de Sorgo granífero: Cultura de boa tolerância à restrição hídrica, com boa disponibilidade de cultivares e possibilidade de ser cultivada em áreas pós-milho onde se utilizou o herbicida atrazina. O Zoneamento Agrícola de Risco Climático (ZARC) para o sorgo granífero no RS permite semeaduras no mês de fevereiro na maioria dos municípios do Estado;
  • Cultivo de Sorgo Forrageiro: O ZARC para o sorgo forrageiro no RS permite semeaduras até o primeiro decêndio de março para a maioria dos municípios do Estado. O cultivo de sorgo em consórcio com braquiárias é também uma alternativa de curto-médio prazo, com colheita dos grãos e a possibilidade de alimentação animal com a braquiária.
  • Cultivo de milheto: Pela adaptação à restrição hídrica e versatilidade agronômica, o milheto é uma alternativa interessante no atual contexto, em especial nas áreas onde a soja foi ‘abandonada’ em decorrência da estiagem. Pode ser semeado na fase final do verão e usado tanto para o pastejo direto quanto para produção de silagem.
  • Antecipação na implantação das pastagens de inverno: De modo geral, no RS a maior parte das pastagens de inverno (azevém, aveia-preta) são semeadas de meados de abril ao final de junho. Entretanto, pode se adiantar a semeadura destas espécies para meados de março. Nesse contexto, antecipa-se a produção de forragem, aliviando em parte a demanda por silagem e promovendo mais rápida recuperação no peso (gado de corte) e produção (gado leiteiro) perdidos em decorrência da estiagem.

Opções tecnológicas recomendadas a médio prazo para o RS

  • Irrigação de cultivos (milho, soja) por meio do sistema sulco-camalhão: O método, em síntese, é uma forma de manejo do solo que permite irrigar os cultivos por meio de sulcos. É uma das tecnologias mais baratas para a irrigação de grandes áreas e oferece alto potencial de intensificar os sistemas produtivos em áreas onde predominam solos mais planos. O sistema é uma das opções mais significativas no atendimento à demanda por milho, com uma área potencial estimada em 1 milhão de hectares, localizadas predominantemente nas terras baixas, constituindo rotação com o arroz irrigado. Destaca-se que já existe estrutura consolidada para a irrigação destas lavouras – pois compõem os sistemas de produção de arroz irrigado – e há pronta disponibilidade de água, pela redução da área de arroz irrigado e pela otimização no uso da água nesta cultura ao longo dos anos.
  • Uso de culturas de inverno de cobertura com finalidade de proteção do solo: A prática é associada à melhoria na qualidade do solos, incluindo-se neste aspecto a ampliação de sua capacidade de retenção de umidade. A Embrapa considera que há grande espaço para ampliar o uso e otimizar esta prática junto ao setor produtivo, notadamente na metade Sul do RS, região historicamente de menores índices pluviométricos.
  • Utilização de outros grãos (ex.: arroz, trigo ou triticale) substituindo total ou parcialmente o milho na composição de rações: Os cereais indicados são produzidos no Estado, e podem ser utilizados em rações, conforme apontam estudos conduzidos pela Embrapa e outras entidades. No caso do arroz, a produção gaúcha geralmente tem excedentes. No caso dos cereais de inverno, há extensa área disponível e ações no sentido de estimular o sistema produtivo a ampliar estes cultivos. O desconhecimento desta possibilidade e as conveniências de mercado, entretanto, tem sido preponderantes quanto à praticabilidade desta alternativa, segundo a Embrapa.

Ações de médio a longo prazo

  • Práticas que melhoram a eficiência do uso da água: como a correção do perfil químico (gessagem e calagem) e físico (camadas compactadas) do solo para maior exploração radicular em profundidade e uso de plantas de cobertura do solo com palhada para reduzir as perdas de água pela evaporação.
  • Adoção do Sistema Plantio Direto: isso resultará em maior armazenamento de água no perfil do solo, proporcionando melhores condições de desenvolvimento às plantas, o que diminuirá o impacto negativo da estiagem.
  • Planejamento de plantio, com escalonamento de cultivares e épocas de semeadura: é uma estratégia para reduzir os efeitos da deficiência hídrica, em consonância às recomendações do Zoneamento Agrícola de Riscos Climáticos (ZARC).
  • Sistemas integrados, como a Integração Lavoura-Pecuária (ILP): são modelos de produção que conferem maior estabilidade produtiva nessas situações de adversidades climáticas, decorrente da utilização de gramíneas forrageiras.
  • Irrigação suplementar: é uma ferramenta que proporcionará ao produtor grande estabilidade produtiva nos anos com maiores restrições hídricas, além de elevar o potencial produtivo das lavouras.

Políticas Públicas

A Embrapa ainda recomenda financiamento de sementes forrageiras para garantir alimentação emergencial dos rebanhos como uma medida de curto prazo. A semeadura deve ser feita logo que exista condição hídrica para formação de pastagem em 60/90 dias.
Como uma medida de médio a longo Prazo, é sugerida a Massificação do Seguro Rural. “Entende-se que o seguro rural é uma ferramenta essencial que deve ser massificada para garantir a estabilidade financeira dos produtores e a diminuição dos custos a toda a sociedade (ex. renegociações de dívidas), também pode ser considerada como uma mercadoria para fomentar o mercado privado de seguros”, afirma a Embrapa. É reconhecido empecilho orçamentário, no entanto a entidade considera como necessária a articulação dos atores e processos públicos para garantir a conexão das políticas de Seguro Rural e a efetiva implementação de uma plataforma digital, com uma base de dados integrada.

Com informações da Embrapa