O encerramento da safra de soja 2024/25 reafirma a pujança do agronegócio como pilar da economia nacional e protagonista global em produtividade e sustentabilidade crescente. Apesar de desafios climáticos pontuais, a produção de grãos mantém trajetória ascendente. A safra 2024/2025 fecha com volumes expressivos, com projeções da CONAB e do IBGE indicando números significativos, como a estimativa do IBGE de 327,6 milhões de toneladas.
A safra 2025/2026 deve consolidar essa expansão, potencialmente superando 350 milhões de toneladas, e projeções de longo prazo apontam para um potencial de 390 milhões de toneladas em dez anos.
Diante desse cenário dinâmico e desafiador, o setor agrícola brasileiro se reinventa continuamente pela adoção de inovações tecnológicas.
Este artigo visa apresentar uma análise concisa de 10 tendências tecnológicas e lançamentos de produtos com impacto significativo esperado para a safra 2025/2026.
O objetivo é fornecer uma visão clara das transformações em curso, desde a reconfiguração das cadeias de suprimentos de insumos até a consolidação da agricultura digital e o avanço dos bioinsumos, oferecendo subsídios para a tomada de decisão estratégica no agronegócio brasileiro.
1.Reconfiguração da Cadeia de Insumos: Tarifas, Nacionalização e Bioalternativas
As tensões comerciais globais, especialmente entre EUA e China, geram volatilidade na cadeia de suprimentos de agroquímicos e fertilizantes, setores historicamente dependentes de importações (ingredientes ativos da Ásia para agroquímicos e fertilizantes do Canadá, Rússia e China). Diante desse cenário, o Brasil necessita de um plano estratégico para aproveitar a guerra comercial e consolidar-se como provedor global de alimentos, abstendo-se de posicionamentos ideológicos.
Investimentos privados, como os da IHARA e ADAMA em novas plantas, sinalizam um esforço para nacionalizar a produção de insumos (formulações e potencialmente ingredientes ativos), mitigando riscos logísticos e cambiais.
Paralelamente, observa-se a ascensão das bioalternativas, impulsionada pelo Programa Nacional de Bioinsumos, que fomenta um ecossistema de inovação com agtechs e novas empresas. O mercado de biológicos passa por consolidação, com grandes players globais adquirindo empresas especializadas.
Para a safra 2025/26, espera-se a continuidade dessa reconfiguração, com busca por autossuficiência em formulações e I.A.s estratégicos, incentivada por políticas industriais e gestão de riscos. O mercado de bioinsumos seguirá em expansão, oferecendo alternativas aos químicos tradicionais, com um cenário competitivo possivelmente influenciado por grandes corporações.
2.RNA Interferente (RNAi): Potencial e Realidade no Controle Biológico
A tecnologia de RNA interferente (RNAi) representa uma fronteira promissora no manejo de pragas e doenças, silenciando genes específicos dos organismos-alvo, oferecendo soluções seletivas e de menor impacto ambiental. Pesquisas no Brasil e no mundo exploram o RNAi contra pragas relevantes como Helicoverpa armigera e o bicudo-do-algodoeiro (Anthonomus grandis).
Apesar de incertezas sobre bioinseticidas tópicos de RNAi no Brasil, a indústria global investe na tecnologia. A Corteva lançou nos EUA o milho Vorceed™ Enlist™ (Bt + RNAi para controle de pragas de raiz), e a Bayer inclui o RNAi em seu pipeline de P&D, com menções ao possível surgimento do primeiro inseticida agrícola à base de RNAi em breve.
Para 2025/26, o RNAi continuará em intensa P&D. Enquanto o impacto direto em larga escala via bioinseticidas permanece incerto, a introdução de variedades geneticamente modificadas com traits de RNAi, se aprovadas no Brasil, poderia acelerar a adoção.
3.Biostimulantes: Reforçando a Resiliência das Lavouras
O interesse em biostimulantes cresce devido aos desafios das mudanças climáticas e eventos extremos. Esses produtos melhoram a absorção de nutrientes, a tolerância a estresses abióticos e a qualidade da produção, conferindo resiliência às lavouras.
Empresas como Biotrop (adquirida pela BioBest), Agrivale (investida da Tarpon) e agtechs (DNAagro, KRACHT, Openeen) investem em novas soluções. O mercado também atrai grandes empresas de insumos químicos como Syngenta (Valagro), Corteva (Stoller e Symborg), UPL (NPP), Adama e Yara, indicando a importância estratégica dos biostimulantes.
Para 2025/26, espera-se maior integração dos biostimulantes com a agricultura digital. Sensores IoT e análise de dados permitirão a aplicação localizada e em tempo real, otimizando o uso e maximizando retornos, tornando-se um diferencial para resiliência e produtividade.
4.Feromônios: Precisão e Sustentabilidade no Manejo de Pragas
Os feromônios consolidam-se no Manejo Integrado de Pragas (MIP), oferecendo precisão e sustentabilidade. Utilizam sinais químicos específicos para interromper o acasalamento ou monitorar populações, permitindo intervenções assertivas e reduzindo a dependência de inseticidas de amplo espectro.
A adoção avança em diversas culturas. A FMC promove seus produtos à base de feromônios (Sofero Fall). Iniciativas de cooperativas (Coacen no Mato Grosso) demonstram interesse na tecnologia para sistemas de produção sustentáveis. A potencial parceria Bayer-Embrapa para feromônios contra a mosca-branca na soja seria um avanço significativo.
Para 2025/26, o uso de feromônios deve crescer, especialmente em culturas de alto valor agregado, fruticultura, horticultura e sistemas com restrições a resíduos de pesticidas. A tecnologia é um componente chave do MIP, contribuindo para a seletividade, preservação de inimigos naturais e redução da pressão de seleção por resistência. Novas formulações e maior familiaridade impulsionarão a adoção.
5.Fungicidas de Nova Geração: A Corrida Contra a Resistência
O manejo de doenças fúngicas, especialmente a Ferrugem Asiática da Soja (ASR), continua um grande desafio. A alta pressão econômica e biológica impulsiona o desenvolvimento de fungicidas com novos mecanismos de ação (MOA), maior eficácia e espectro de controle para contornar a resistência.
A BASF lançou o fungicida Veltyma® (Revysol®), com alegação de eficácia contra linhagens resistentes de ASR. Outras grandes empresas também introduzem ou planejam novas tecnologias fungicidas com diferentes MOAs.
Para 2025/26, a adoção dessas novas gerações será crucial. A tendência é o uso de misturas com múltiplos modos de ação e programas de rotação definidos. A aplicação via drones e agricultura de precisão otimizará o uso em áreas de maior risco ou no momento ideal. A gestão da resistência impulsionará a inovação e adoção de novas tecnologias fungicidas.
6.Economia Circular e ESG: Integrando Sustentabilidade e Valor
Os princípios ESG tornam-se centrais na estratégia do agronegócio brasileiro, impulsionados por demandas de consumidores, investidores e mercados internacionais. A agenda ESG busca integrar a sustentabilidade como fator de valor, eficiência e reputação.
A logística reversa de embalagens de defensivos (Sistema Campo Limpo/inpEV) é referência global, com meta de 100% de reciclagem até 2026.
Iniciativas corporativas (Bayer e Corteva em baixo carbono), rastreabilidade e certificações (Lei 14.894/24, Soja Plus) ganham importância. Programas como Soja Plus buscam adequar a produção a critérios socioambientais e de rastreabilidade para acesso a mercados exigentes, com potencial de prêmios por soja certificada.
Para 2025/26, a pressão por conformidade ESG se intensificará. A rastreabilidade de insumos e produção será um requisito básico, influenciando acesso a crédito e preferência em mercados internacionais.
7.Agricultura Digital e de Precisão: Rumo à Automação Inteligente
A agricultura digital no Brasil evolui da coleta de dados para suporte à decisão e automação de operações, aumentando a eficiência no uso de insumos e a gestão.
Plataformas como Bayer (Climate FieldView), BASF (xarvio®), Corteva (LandVisor), Solinftec (robótica Solix) e Syngenta Digital (Strider) expandem funcionalidades.
A pulverização seletiva via drones e a automação total com maquinário autônomo (John Deere) avançam. A previsão de tratores autônomos no Mato Grosso do Sul em 2026 marca um ponto de inflexão.
Para 2025/26, a tendência é a consolidação e integração dessas tecnologias. Plataformas digitais conectarão dados de sensores, satélites, drones e máquinas. A IA transformará dados em recomendações acionáveis e comandará a execução autônoma de tarefas. Eficiência operacional e decisões baseadas em dados em tempo real serão diferenciais competitivos.
8.Biológicos em Ascensão: Consolidando a Potência Verde
O mercado de biológicos no Brasil expande-se rapidamente, consolidando o país como potência no setor, com crescimento anual estimado em 30% e um mercado superior a R$ 4,5 bilhões em 2024. Globalmente, o setor deve mais que dobrar até 2030 (US$ 25 bilhões), com a América Latina e o Brasil exibindo taxas elevadas.
Esse crescimento é impulsionado pela busca por sustentabilidade, pressão regulatória, manejo de resistência e eficácia comprovada. Grandes empresas globais investem e adquirem empresas do setor (BioBest/Biotrop, Corteva/Symborg e Stoller, Syngenta/Valagro, UPL/NPP, FMC/Biophero, Bayer, BASF, Koppert, RovensaNext, De Sangosse).
A inovação também vem de startups. Novas abordagens de aplicação, como drones para dispersão de bioagentes, otimizam a logística. A integração de biológicos em programas de manejo (UPL/Pronutiva) busca sinergia com químicos tradicionais.
Para 2025/26, espera-se a continuidade do forte crescimento, com projeção de 20% do mercado total de defensivos até 2026. Validação em campo, ampliação do portfólio e maior familiaridade impulsionarão a adoção, assim como a integração com a agricultura digital.
9.Pressão Regulatória e Rastreabilidade: Novas Exigências, Novas Oportunidades
O ambiente regulatório e a demanda por transparência moldam as práticas agrícolas. A pressão por controle de insumos e comprovação da origem impulsiona a rastreabilidade e a adesão a certificações.
A Lei 14.894/2024 (Política Nacional de Bioinsumos) tangencia a necessidade de controle e qualidade. Programas voluntários como o Soja Plus ganham relevância, promovendo boas práticas e rastreabilidade para atender mercados exigentes. A certificação de 8 milhões de hectares pelo Soja Plus demonstra a adesão.
Para 2025/26, a implementação efetiva da rastreabilidade será um desafio operacional e tecnológico para toda a cadeia. A comprovação da conformidade e origem responsável será cada vez mais necessária para operar no agronegócio moderno.
10.Hidrogênio Verde (H2V): Descarbonizando os Fertilizantes
A produção de fertilizantes nitrogenados é intensiva em energia e contribui para as emissões de GEE. O hidrogênio verde (H2V) surge como solução de longo prazo para descarbonizar a cadeia e reduzir a dependência de importação.
O Brasil possui grande potencial para produção de H2V devido à matriz energética renovável. Diversos projetos e acordos (Petrobras/Yara para amônia verde) sinalizam interesse no desenvolvimento da indústria, com potencial de redução de emissões de até 60%. Testes agronômicos validam a eficácia dos fertilizantes verdes.
No entanto, a construção de plantas em larga escala demanda investimentos e tempo. Para 2025/26, o impacto mais provável será a continuidade do desenvolvimento de projetos, estudos de viabilidade e consolidação do marco regulatório. A descarbonização da cadeia de fertilizantes é uma jornada de médio a longo prazo, com passos iniciais sendo dados.
O Agro Brasileiro Rumo a 2026 – Síntese e Desafios
O agronegócio brasileiro se aproxima da safra 2025/2026 em profunda transformação tecnológica, buscando eficiência, resiliência e sustentabilidade. A análise das dez tendências revela um setor dinâmico em busca de soluções inovadoras.
A síntese dos desenvolvimentos aponta para uma convergência tecnológica:
- Insumos: Diversificação com investimento em biológicos e esforço para aumentar a produção nacional de defensivos, além da busca por novos MOAs em sintéticos.
- Digitalização e Automação: Avanço da coleta de dados para IA aplicada à decisão e automação de operações.
- Sustentabilidade Integrada: ESG como requisito operacional e de mercado, com rastreabilidade, certificações e descarbonização.
Contudo, desafios críticos precisam ser enfrentados:
- Logística: Gargalos de infraestrutura limitam a eficiência e aumentam custos.
- Capital Humano: A rápida evolução tecnológica demanda mão de obra qualificada.
- Planejamento de Pais: A Falta de visão estrategica de pais e a polarizaçao atrasam o progresso.
- Burocracia e Falta de Capital financeiro: Excesso de burocracia, custo Brasil, insegurança juridica alem do custo do capital, são barreiras muito fortes e consideráveis.
Superar esses desafios é fundamental para alcançar as projeções otimistas de produção. A safra 2025/26 será um termômetro da capacidade do setor em assimilar inovações e avançar rumo a um futuro mais produtivo, resiliente e sustentável, consolidando o Brasil como celeiro tecnológico e verde do mundo.