As características geográficas e climáticas do município de Capanema, a Terra do Melado, no Sudoeste do Paraná, favoreceram o cultivo de cana-de-açúcar, especialmente em pequenas propriedades familiares. Ela passou a ser utilizada como insumo para a produção de melado, que ao longo de décadas de aprimoramento ficou famosa por sua doçura, cor e consistência, e caiu no gosto de quem visita a região.
A produção começou em 1980 por iniciativa de famílias de agricultores, em sua maioria descendentes de alemães, vindos do Rio Grande do Sul e que se instalaram no município, na divisa com a Argentina e vizinha do Parque Nacional do Iguaçu.
O produto já é vendido em outras regiões do Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul e São Paulo, clientes em Mato Grosso do Sul, Mato Grosso e Rondônia.
No momento apenas duas famílias possuem o selo de Indicação Geográfica: a Haas e a Rüdell, mas o presidente da entidade, Odair Fernando Martini, conta que mais duas famílias estão em processo para poder utilizar a IG junto à Associação Doce Iguassu.
Para adquirir a IG, os produtores precisam seguir todas as recomendações da Vigilância Sanitária e os procedimentos de trabalho que garantem a qualidade do melado.
“Eles devem cuidar desde como é feito o manejo do solo, o plantio, limpeza, armazenamento e moagem da cana, o tipo de cozimento e o processamento do produto até chegar na embalagem. Tudo segue um padrão bem rigoroso estabelecido pela Associação”, relatou Martini.
Com o reconhecimento nacional do IG os produtores conseguiram aumentar suas rendas em 40%, o que permitiu a melhoria da qualidade de vida das famílias e também a obtenção de um maquinário mais moderno para o processamento.
Os Rüdell, que produzem melado desde 1998, obtiveram financiamentos para investir na compra de maquinários mais modernos, que aumentaram a eficiência, reduziram o desperdício e tornaram todo o processo ambientalmente mais sustentável. “Nós mudamos do sistema convencional, que utilizava caldeiras aquecidas diretamente no fogo, para um sistema à vapor, que permite um maior controle de qualidade”, informou Paulo Isidoro Rüdell, que é filho e neto de produtores rurais e dá continuidade ao legado da família.
O uso de vapor via tubulação reduz em 65% o uso de lenha e também não expõe os trabalhadores ao contato direto com o fogo, diminuindo a temperatura e evitando a fumaça e a fuligem dentro da fábrica.
O melado:
Com uma coloração entre o dourado e o esbranquiçado, o melado de Capanema é produzido em dois principais tipos: o escorrido e o batido.
O melado batido passa pelo mesmo processo de aquecimento e concentração da garapa, que é resfriada em uma espécie de batedeira industrial. O processo faz com que o melado adquira uma consistência mais pastosa e clara. Ele está diretamente ligado à história e à cultura de Capanema, sendo um produto consumido tradicionalmente pelos moradores com pão caseiro e nata.
Já o melado escorrido, que está amplamente disponível em mercados das grandes cidades, é o produto obtido por meio da concentração e evaporação do líquido da garapa, aquecida até que atinja um teor de sólidos entre 65% e 75%. Ele é envasado logo após o seu resfriamento, sem ser batido, alcançando um aspecto viscoso e sem partículas sólidas.
O maquinário instalado também permite a diversificação da fabricação de subprodutos da cana-de-açúcar, especialmente o açúcar mascavo. Assim com o melado, o produto encontra boa receptividade em mercados que valorizam questões relacionadas à produção orgânica e rastreabilidade.