Levantamento com mais de 400 mulheres realizado pela Agroligadas, com apoio da Corteva Agriscience, Abag e Sicredi, mostra que, apesar da visibilidade e importância do setor, ainda há espaço a ser conquistado e consolidado pelas mulheres
O agronegócio tem um papel muito importante na economia do país e foi responsável por 26% do PIB brasileiro em 2020 (fonte: CNA). Para entender os avanços e desafios envolvendo a mulher rural, a Agroligadas – entidade formada por mulheres profissionais do agronegócio – realizou a “Pesquisa sobre a participação feminina no agronegócio” em parceria com a Corteva Agriscience, a Abag (Associação Brasileira do Agronegócio) e o Sicredi.
O estudo ouviu 408 mulheres que atuam no agronegócio, com média de idade de 40 anos, de norte a sul do país, e traz dados importantes que trazem luz à participação feminina no setor. O assunto ganha força neste mês de outubro, em que se celebra o “Dia Internacional da Mulher Rural”, data estabelecida pela ONU (Organização das Nações Unidas) para ressaltar a importância das mulheres na agricultura e identificar os desafios para que tenham uma participação plena e bem-sucedida no agronegócio.
“Há tempos a figura da mulher no agro deixou de ser secundária. Aquela pessoa que apenas apoiava o marido na atividade rural deu lugar à proprietária que faz a gestão da sua lavoura de ponta a ponta. No entanto, há barreiras que precisam ser conhecidas por toda sociedade para que, assim, possam ser enfrentadas e sanadas. E essa é a importância da pesquisa”, diz Geni Caline, presidente da Agroligadas.
Orgulho, desigualdade e acesso a crédito
De acordo com o levantamento, 93% das brasileiras têm muito orgulho de trabalhar no campo ou na indústria agrícola. Porém, quando o assunto é desigualdade de gênero, 64% das entrevistadas acreditam que esse problema cerca a cadeia do agronegócio, mesmo 79% afirmando que a situação de hoje é melhor que há 10 anos.
Para 21% das entrevistadas, há otimismo e essa igualdade deverá chegar ao agronegócio em menos de 10 anos. Para que isso possa acontecer, 90% dizem que é necessário dar visibilidade aos projetos de sucesso; aumentar a capacidade de treinamento e ter acesso ao crédito de forma igualitária, para que os investimentos em maquinários, processos e capacitação de profissionais possam seguir na mesma proporção que a dos homens.
Um ponto que chama a atenção é que 54% das mulheres acreditam que ganham menos que os homens, ainda que a desigualdade de gênero tenha diminuído na opinião das entrevistadas. O acesso a financiamento – importantíssimo para todo produtor ou produtora rural – é mais um gargalo. Do ponto de vista de igualdade de confiança do setor financeiro para aquisição de linhas de crédito, apesar de 49% das mulheres dizerem ter as mesmas facilidades, ⅓ ainda afirma ter menos acesso que os homens. No entanto, 80% das mulheres buscam financiamento para empreender. “Para o Sicredi, estudos como este são importantes para mostrar o cenário atual desse segmento produtivo, que ganha cada vez mais espaço no agro brasileiro. Especificamente para o público feminino, o Sicredi lançou, em setembro de 2020, o “Comitê Mulher”, que tem o objetivo de promover a equidade de gênero no cooperativismo de crédito e em todos os níveis de gestão das cooperativas, por meio de ações educativas que preparam as mulheres associadas para liderar, empreender e promover o desenvolvimento do nosso modelo de negócio. Nossa busca também é por debates sobre projetos apoiados pelo Sicredi na comunidade local e incentivo para mais crédito voltado a empreendimento liderados por mulheres”, aponta Marilucia Dalfert, gerente de crédito rural do Sicredi.
Acesso à tecnologia aumentou durante a pandemia
Quando o tema é tecnologia, já se percebe nitidamente um avanço no uso de novas soluções proporcionado pela adoção do trabalho a distância, já que 41% das mulheres ligadas à produção rural trabalham em centros urbanos, sendo que 66% delas dizem ter acesso suficiente à tecnologia para execução de seus trabalhos.
O presente e o olhar para o futuro
Ao refletirem sobre as preocupações atuais das mulheres na produção rural, 95% delas prezam pelo bom desempenho dos negócios. Em tempos de pandemia e de instabilidade econômica, se manter firme e atuante no mercado se tornou um dos maiores desafios para as entrevistadas, seguido por estabilidade financeira (93%); realização profissional (92%) e; futuro dos filhos (83%).
Esse olhar de cuidado é percebido também quando são questionadas sobre o que esperam para sua rotina de trabalho e para sua vida pessoal e familiar em um futuro próximo. Para 95%, melhorar a capacitação profissional está entre as principais prioridades; 90% querem aumentar a capacidade produtiva de suas propriedades; seguido por 82% das entrevistadas que sonham ter mais tempo para si próprias.
Conquistar espaço e confiança no ambiente de trabalho são desafios da mulher contemporânea, independentemente se ela vive no campo ou na cidade. “No meio rural, apesar do preconceito ser mais evidente, as mulheres vêm quebrando essas barreiras com muita rapidez e conquistando espaços até então ocupados apenas pelos homens. A natureza feminina multifacetada é acolhedora, protetora e sempre preocupada com o bem-estar de todos a sua volta. Esse é um diferencial bastante perceptível nos dados da pesquisa”, destaca Gislaine Balbinot, gerente de comunicação da ABAG.
Pesquisa de 2018 – o que mudou em 3 anos?
Em 2018, a Corteva Agriscience realizou uma pesquisa com 433 mulheres rurais no Brasil. De maneira geral, há um otimismo dessa nova leva de entrevistadas em relação às respondentes de três anos atrás, principalmente na questão da equidade de gênero.
Apesar do otimismo, algumas barreiras ainda persistem, entre elas, o acesso ao financiamento e a capacitações. Veja abaixo os principais comparativos.
Equidade de gênero
Em 2018, apenas 16% das mulheres acreditavam que a equidade chegaria antes de 10 anos. Hoje, esse número subiu para 26%, demonstrando que há mais esperança de mudança a médio prazo. Essa posição se confirma quando vemos que em 2018, 20% das entrevistadas acreditavam na mudança em três ou mais décadas, dado que caiu para 12% na nova pesquisa.
Em relação aos principais caminhos para promover a equidade de gênero, a opinião das entrevistadas em ambas as pesquisas é que se mantêm importantes, como consta abaixo:
- Comunicar mais amplamente (ao público em geral) os sucessos e contribuições das mulheres na agricultura – 2021 (90%) – 2018 (88%)
- Mais treinamento em tecnologia – 2021 (87%) – 2018 (89%)
- Mais educação acadêmica – 2021 (79%) – 2018 (87%)
- Mais apoio – jurídico e de outras formas – para ajudar as mulheres na agricultura que sofrem discriminação de gênero – 2021 (80%) – 2018 (88%)
- Sensibilização do público para a discriminação de gênero na agricultura – 2021 (74%) – 2018 (85%)
Para Vivian Bialski, diretora de Comunicação da Corteva, iniciativas de inclusão das mulheres em posições de liderança no agronegócio são cada vez mais importantes. “Ambas as pesquisas trazem insumos relevantes para que toda a cadeia do agro ataque os pontos que hoje impedem a maior equidade de gênero. Nós, como Corteva, temos estabelecido importantes parcerias para promover a capacitação e o empoderamento da mulher rural. Exemplo disso é a Academia de Liderança das Mulheres do Agronegócio, lançada há quase 3 anos pela Corteva em parceria com a Fundação Dom Cabral e a ABAG”.
A experiência de trabalho é reflexo do avanço?
A pesquisa apontou uma mudança positiva significativa quando o assunto é satisfação no trabalho. Ainda que exista a desigualdade de gênero, muito pontuada em diversos aspectos em ambos os levantamentos, alguns indicadores demonstram progresso e satisfação, como nos comparativos a seguir:
- Sentir-se mais feliz com o trabalho que exercem – 2021 (97%) – 2018 (57%)
- Reconhecimento de suas habilidades no setor – 2021 (77%) – 2018 – (45%)
- Autonomia na tomada de decisões – 2021 (60%) – 2018 (33%)
- Mesmas oportunidades de trabalho no setor – 2021 (40%) – 2028 (28%)
Perfil das entrevistadas em 2021
- O estudo entrevistou 408 profissionais do agronegócio, com média de idade de 40 anos, que vivem nas regiões de norte a sul do país.
- Com realidades distintas, o levantamento trouxe proprietárias/arrendatárias – agricultura de subsistência (69%), diretoras, gerentes ou administradoras (17%), empregadas ou supervisoras (16%), veterinárias, agrônomas ou zootecnistas (15%) e estagiárias (4%).
- No que diz respeito ao tipo de produção, a pesquisa aponta que 54% atuam na agricultura, 32% de subsistência, 27% bovinocultura, 2% avicultura galináceos, 7% bovinocultura de leite, 1% piscicultura e 5% outros animais.
- Do total de entrevistadas, 41% delas possuem pós-graduação, 29% superior completo, 8% superior incompleto, 11% ensino médio completo, 6% ensino fundamental.
- 63% das entrevistadas moram na zona urbana e 34% na zona rural.