Pecuária

Material biodegradável otimiza aplicação de fertilizantes

Com a aparência de um pequeno papel, um invento desenvolvido por universidades paulistas inova ao unir características inéditas. O material biodegradável libera nutrientes, de forma lenta e prolongada, para produção e crescimento de plantas.

Feito a partir da fibra de celulose, extraída do bagaço da cana-de-açúcar, o invento carrega três macronutrientes essenciais para o desenvolvimento de plantas: nitrogênio, fósforo e potássio. Além disso, é biodegradável por sofrer decomposição natural ao entrar em contato com o ambiente.

O material foi desenvolvido por pesquisadores da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) e da Universidade de São Paulo (USP). O método foi registrado como patente junto ao Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI), com o apoio da Agência de Inovação (AIn) da UFSCar, e é inédito para este tipo de uso.

O produto deriva da tese de Lucas Luiz Messa, doutor em Engenharia e Ciência de Materiais pela USP, campus de Pirassununga, com o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), sob orientação de Roselena Faez, docente no Departamento de Ciências da Natureza, Matemática e Educação (DCNME-Ar) do Campus Araras da UFSCar.

Material

A espessura do papel varia de 0,12 a 0,21 milímetros, sendo possível usá-lo como embalagem na produção e no transporte de mudas, descartando o uso de plásticos ou potes. Porém, ele também pode ser usado de forma fragmentada, em pequenos pedaços, para o crescimento e nutrição de plantas já em solo.

No mercado, já existem fertilizantes de liberação lenta e prolongada e materiais biodegradáveis para acomodar as plantas. “Mas essas duas características em um só produto é a novidade da tecnologia”, assegura Faez.

O método para obtenção é considerado simples. O bagaço da cana – matéria-prima abundante e de baixo custo – tem de 40 a 44% de celulose para extração. Além disso, o processo de produção não usa solventes e não gera resíduos.

Após esta etapa, são incorporados os macronutrientes – a quantidade exata de cada um varia de acordo com a demanda da planta, sendo, portanto, um material modulável e que evita desperdícios.

O produto permite, também, a inserção de micronutrientes, como magnésio, cobre, ferro e zinco, importantes em menor quantidade e em outras etapas de crescimento, sendo necessários estudos prévios e detalhados de cada espécie.

E, por ser biodegradável, em cerca de 45 dias o material sofre decomposição natural, sem impacto ao ambiente ou prejuízos às plantas. “Geralmente, em um estágio de 40 dias, elas já criaram novas raízes e, assim, suporte para seguirem crescendo dali em diante”, relata a docente da UFSCar.

Vantagens

Atualmente, esse processo de nutrição é feito com fertilizantes inseridos de forma manual, no solo. “O agricultor já insere nutrientes em excesso, pois são sais solúveis e, com chuvas, podem ser levados para rios e lagos. Isso gera, além de desperdícios, perdas econômicas e ambientais”, analisa a docente.

O custo do material novo também é um benefício, já que é de cerca de R$ 0,27 por grama de embalagem, o que o torna viável para pequenos produtores de agricultura familiar.

“Em vez de reaplicar o fertilizante de duas até quatro vezes num determinado período (cerca de 45 dias), o produtor só usa o material uma vez, até a sua biodegradação natural. Sabe que a planta está recebendo os nutrientes necessários para se fortalecer sem desperdícios. Isso é vantajoso principalmente para o pequeno produtor, geralmente sozinho ou com equipe pequena, pois pode dedicar este tempo a outras atividades”, afirma a docente.

A tecnologia atende diversas áreas da agricultura, de horticultura e floricultura a culturas de ciclos mais longos, como, por exemplo, em restaurações florestais. “É possível inseri-la em mudas de eucalipto, por exemplo, com os nutrientes necessários a elas. Este, inclusive, é um de nossos estudos em andamento, e as perspectivas são boas”, adianta Faez.

A tecnologia está disponível para comercialização de pequenos, médios e grandes produtores. Empresas e pessoas interessadas em adquirir o material podem entrar em contato com a Agência de Inovação da UFSCar, pelo e-mail [email protected].

Com informações da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar)