A temporada de leilões da Primavera Gaúcha de 2024 não poderia ter começado melhor. O pregão de um dos criatórios de seleção genética mais tradicionais do Rio Grande do Sul, a GAP, de Uruguaiana, vendeu 300 animais das raças Angus, Brangus, Hereford e Braford. O animal mais valorizado foi uma fêmea da raça Brangus, vendida por R$ 75 mil. O detalhe é que a exemplar, que ainda está mamando, será escolhida pelo comprador em 25 de abril do ano que vem. A média geral dos 119 exemplares dessa raça sintética foi de R$ 21.750,00. No geral, os três dias de remates da propriedade da Fronteira Oeste atingiram média de R$ 19.130,00.
O leiloeiro Marcelo Silva, da Trajano Silva Remates, de Porto Alegre, destaca que as boas médias já eram esperadas. “Eu vinha alertando de que nós poderíamos ter uma melhora significativa e descolar daqueles preços que estavam, em princípio, sendo vislumbrados em torno de R$ 15 mil por touro”, avalia. “O resultado dos leilões tem nos surpreendido, porque a previsão que tínhamos, mesmo antes da enchente, não era muito alvissareira”, completa Silva, um engenheiro agrônomo que acumula 52 anos de experiência trabalhando como leiloeiro rural.
O leiloeiro considerava o cenário pouco promissor, fundamentada nas dificuldades de preparo dos animais, que acabou atrasado e sendo encarecido por problemas na condução de pastagens por razões climáticas. “Estávamos projetando uma média entre R$ 13 e R$ 16 mil para touros das diversas raças em eventos que fossem medianamente bem-sucedidos, mas praticamente fizemos mais de R$ 20 mil em todos eles”, comemora Silva.
Os resultados foram obtidos com a venda de lotes importantes, incluindo embrião para a Argentina e uma fêmea comercializada por R$ 75 mil. “Os remates se destacaram pela fluidez e a liquidez, foram muito rápidos”, analisa. Conforme o profissional, em quatro eventos na temporada, a Trajano Silva comercializou 347 touros e 41 fêmeas.
Otimismo
Apesar do número 5% menor em comparação ao ano passado, a estimativa é de preços acima dos praticados no ano passado e de liquidez em todos os 214 leilões marcados até dezembro, conforme o presidente do Sindicato dos Leiloeiros Rurais e Empresas de Leilão Rural do Rio Grande do Sul (Sindiler), Fábio Crespo.
Serão 96 remates de genética bovina. Outros 94 comercializarão equinos, 21 venderão ovinos e dois serão voltados a embriões. A temporada atual já teve 39 remates em agosto e 58 em setembro e tem agendados 75 pregões em outubro, 34 em novembro e oito em dezembro.
A boa expectativa se deve à alta de 50% nas vendas durante os leilões da 47ª Expointer, em Esteio, e à qualidade genética dos rebanhos gaúchos, conforme Crespo. “O pecuarista que é investidor precisa de genética de ponta e essa demanda se mantém. O Rio Grande do Sul é forte e temos muita qualidade em nossos plantéis”, afirma o leiloeiro que, nesta temporada, vai trabalhar com as raças Angus, Brangus, Braford, Hereford e Devon, ovinos e equinos, além de gado geral.
Em 2023, durante a temporada de remates rurais, os produtores rurais gaúchos realizaram mais de 500 leilões, que movimentaram cerca de 4 mil touros, 8 mil matrizes puras, 65 mil cabeças de gado geral, 3 mil equinos e 1,2 mil ovinos, conforme levantamento do Sindiler e da Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul (Farsul).
Os preços estão um pouco acima dos praticados na temporada passada, mas o mais importante é a liquidez,”
– Fábio Crespo, presidente do Sindiler
Nos remates, os touros têm sido negociados em médias entre R$ 15 e R$ 20 mil, e as fêmeas oscilam de R$ 10 mil a R$ 15 mil. O presidente do Sindiler-RS sublinha que a busca por animais de melhor qualidade mira a reprodução de suas melhores características genéticas, que devem se refletir nos terneiros. “Se o vendedor está a fim de vender e o cliente querendo comprar, a gente faz o encontro dos dois. Os preços estão um pouco acima dos praticados na temporada passada, mas o mais importante é a liquidez,” salienta o proprietário da Parceria Leilões, de Porto Alegre.
Animais adaptados
A 24ª edição do Leilão Touros da Fronteira será realizada no dia 4 de outubro, às 19h, na Associação Rural de Santana do Livramento. Neste ano, o tradicional da Fronteira Oeste terá a oferta de 60 touros das raças Angus, Brangus e Ultrablack, com 2 e 3 anos de idade. O pregão será transmitido ao vivo pelo Lance Rural.
“Iremos vender 60 reprodutores que entregam rusticidade, fertilidade e alta performance ganho de peso. São animais adaptados e altamente produtivos,” declara a criadora Elizabeth Linhares Torelly, da Estância Sociedade, de Livramento, que promove o remate junto com a Cabanha Cantagalo, Cabanha Santa Inês, Brangus GR, Estância Cerro Chato e Estância Serra Angus e Brangus. As seis propriedades são de Livramento e Quaraí.
Entre os destaques dos animais que serão levados à pista da Associação Rural de Livramento está o touro da raça Ultrablack mais premiado do ano. Ele foi Grande Campeão Individual e Supremo Campeão da Raça na Expo Uruguaiana 2024 e Reservado de Grande Campeão na Expointer 2024.
Outro destaque da oferta, mas da raça Angus, é o Trio Reservado Grande Campeão na Expo Uruguaiana 2024 e Terceiro Melhor Trio Expointer 2024. “Estamos muito confiantes e esperamos ter boas médias e liquidez no nosso leilão. A oferta é de muita qualidade,” ressalta Elizabeth. A Estância da Sociedade levará à pista quatro animais Angus e seis da raça Brangus.
Oferta qualificada
A Estância São Rafael, de São Borja, promoverá seu tradicional leilão no dia 7 de outubro, no Parque Serafim Dorneles Vargas. O pregão da temporada de primavera será nos formatos presencial e virtual, com transmissão da Lance Rural. A organização é da Cambará Remates.
A oferta do premiado criatório gaúcho é formada por 40 touros e 100 matrizes da raça Brangus. Trinta vacas são de geração avançada e com cria ao pé, segundo a proprietária da cabanha, a engenheira agrônoma Fernanda Mariano da Rocha. “Nós estamos com uma boa expectativa, muito otimistas, porque os produtores estão investindo em genética de qualidade e o nosso plantel é bastante qualificado,” salienta a criadora.
Fernanda ressalta que serão levadas à pista matrizes comerciais e animais de ponta, indicados para quem está começando a montar um plantel Brangus. E lembra que os touros da raça sintética são avaliados pelo Programa Natura, da empresa GenSys. “São reprodutores de muita qualidade,” observa.
A São Rafael comercializa a produção por meio do tradicional leilão, mas também faz venda direta na propriedade. “A maioria dos nossos clientes são do Rio Grande do Sul,” completa. O faturamento no último leilão superou R$ 1 milhão, com a venda de 143 exemplares rústicos e funcionais da raça Brangus.
Otimismo
A Conexão Pampa, formada pela Agropecuária São Pedro, Cabanha São Fernando, Fazenda São Manoel e Estância Silêncio, todas de Alegrete, promoverão o leilão de primavera nos dias 14 e 15 de outubro. O remate, que será presencial e virtual, ofertará 120 touros e 400 fêmeas das raças Hereford e Braford.
Neste ano, a Conexão Pampa já fez a edição outono, em 1º e 2 de julho, em Porto Alegre, quando ofertou 75 reprodutores e 300 ventres, e a edição inverno, na qual levou à pista 70 touros e 100 ventres. O evento ocorreu no dia 19 de agosto em Alegrete e foi presencial. “Esses leilões, somados, se tornam o maior leilão das raças Hereford e Braford do Brasil,” destaca um dos proprietários da Estância Silêncio, Eduardo Eichenberg.
“Os remates que fizemos no outono e no inverno foram muito bons, com valorizações entre 20-25% em relação aos mesmos eventos de 2023. Em cima disso, e também dos resultados que temos visto nos leilões que estão ocorrendo no momento, além da própria valorização das diferentes categorias pecuárias – especialmente o gordo -, a expectativa para o Conexão Primavera é muito positiva,” adianta.
Boa parte da oferta dos quatro criatórios fica no Rio Grande do Sul, mas o remate também tem atraído compradores de Santa Catarina, Paraná, Mato Grosso do Sul e São Paulo. “O grosso da nossa clientela são os gaúchos. Mas, nos últimos anos, com a questão da equiparação do status sanitário a Santa Catarina, começou a passar muitos animais para o estado vizinho,” reconhece. E o Paraná, pela forte presença das raças Hereford e Braford, por ser relativamente perto e ter condições de produção similares às do Rio Grande do Sul, também tem adquirido a oferta, segundo Eichenberg. Criadores do Mato Grosso do Sul e São Paulo também são clientes assíduos, mas o grupo faz vendas pontuais para os estados da Bahia, Goiás, Mato Grosso, Maranhão, Pernambuco e Sergipe.