Pecuária de Leite

Estiagem afeta produção de leite no RS

Animais sofrem com o estresse térmico e comem menos, fazendo com que a quantidade e a qualidade do leite caiam

Terneiro encarando uma câmera.
As chuvas recentes no Estado contribuíram para a recuperação dos níveis de fontes e açudes e para a redução das temperaturas | Foto: CNA/Divulgação

A falta de chuva dos últimos 30 dias tem afetado negativamente a produção de leite no Rio Grande do Sul. A estiagem é atribuída ao fenômeno meteorológico La Niña, que se caracteriza por períodos mais prolongados de chuva irregular e abaixo da média na Região Sul do Brasil, além de aumentar a probabilidade de ondas de calor e marcas extremas de temperatura alta nos meses de verão. Já áreas da Região Sudeste do País, principalmente São Paulo, sofrem com chuvas intensas.

As chuvas recentes no Estado contribuíram para a recuperação dos níveis de fontes e açudes e para a redução das temperaturas, mas ainda são exigidas estratégias para minimizar o estresse térmico dos animais. Segundo a Emater/RS-Ascar, os produtores aproveitaram para fazer o controle de moscas e carrapatos. O estado corporal dos animais permaneceu satisfatório devido à nutrição adequada.  

A seca atinge principalmente pequenos criadores dos municípios da Campanha Gaúcha e da Fronteira Oeste do Estado. As altas temperaturas dos últimos dias têm gerado estresse térmico nos animais. Mesmo com a disponibilidade de água e sombra para proteger os bovinos do sol nas propriedades, a produção e a qualidade do leite vêm diminuindo.

Nos dias mais quentes, os animais gastam mais energia para regular a temperatura do corpo. O desconforto faz com que eles comam menos, o que impacta na produção de leite. Os criadores de Santana do Livramento, na fronteira com o Uruguai, registram uma queda de aproximadamente 40% na produção.

Na região é comum os termômetros chegarem próximos dos 40ºC nessa época do ano. No dia 23 de janeiro, Quaraí, também na divisa com o Uruguai, registrou a tarde mais quente do Brasil, com 42,4ºC. Os açudes apresentam níveis reduzidos, causando preocupação em relação à sanidade das matrizes, à qualidade do leite e à capacidade de atender à alta demanda hídrica dos animais diante do calor intenso.

E a previsão da meteorologia para essa semana não é nada animadora. A MetSul prevê temperaturas superiores a 40°C no Oeste do Estado, e de 36°C a 39ºC na Grande Porto Alegre. E é preciso ficar alerta, porque o calor extremo favorece a formação de tempestades severas isoladas, conforme a MetSul.

O problema, porém, não se restringe somente a Campanha Gaúcha e Fronteira Oeste. Na região de Caxias do Sul, na Serra Gaúcha, nos sistemas confinados, os criadores utilizam ventilação e nebulização para driblar o calor extremo. Nas áreas com animais em pastagens, os pecuaristas fizeram ajuste dos horários de ordenha para aproveitar os períodos mais frescos do dia.

Na de região Ijuí, no Noroeste do Estado, diminuiu a produção de leite em razão do estresse calórico dos animais e da menor oferta de forragem nos sistemas a pasto. Já nos sistemas confinados, a produção se mantém, mas aumentam os custos com aeração e aspersão para controle térmico.

Na região de Passo Fundo, na Região Norte, o calor intenso favoreceu a proliferação de mosca-dos-chifres, berne e carrapato, além de casos isolados de tristeza parasitária bovina (TPB), impactando o bem-estar do rebanho. A produção sofreu leve redução em função do estresse térmico.

Na região de Pelotas, na Zona Sul, a produção leiteira se manteve estável, mas houve suplementação e ajustes nos manejos devido ao calor, que também afetou o conforto dos animais. Na região de Porto Alegre, apesar dos esforços para manter o estado corporal dos animais, a produção já apresenta queda, também desestimulando produtores a continuarem na atividade.

Qualidade da ensilagem

O presidente da Associação dos Criadores de Gado Holandês do Rio Grande do Sul (Gadolando), Marcos Tang, completou no sábado um tour pelo Estado para verificar a situação dos produtores de leite. Voltou preocupado que a seca prolongada na Fronteira Oeste e no Norte do Estado prejudique a lavoura de milho, que é usado na alimentação da pecuária leiteira.

Presidente da Associação dos Criadores de Gado Holandês do Rio Grande do Sul, Marcos Tang | Foto: JM Alvarenga/Divulgação

E com um provável aumento no custo de produção da atividade, pois os produtores mais tecnificados e usam ventilação e nebulização para reduzir o estresse térmico das vacas. “Com as altas temperaturas tem muito ventilador e climatização. E, com isso, o custo de produção deve ser mais elevado. E cada litro produzido com maior dificuldade e maior custo”, afirma. Mas o dirigente está animado com a qualidade da ensilagem que está sendo produzida pelos criadores de gado da raça Holandês. “Teve algumas perdas no rendimento da silagem com a seca, mas, mesmo assim, a silagem feita esse ano no Rio Grande do Sul é a melhor dos últimos quatro anos”, completa o presidente da Gadolando.