Já está em vigor a lei que regulamenta a produção, o uso e a comercialização dos bioinsumos na agropecuária. Bioinsumos são produtos e tecnologias de origem biológica (vegetal, animal, microbiana e mineral) para combater pragas e doenças e melhorar o desenvolvimento das plantas. Publicada no Diário Oficial da União da segunda-feira (23), a Lei 15.070, de 2024, foi aprovada pelo Senado em 3 de dezembro sem vetos pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
O Brasil é considerado líder global na utilização e produção de bioinsumos, como inoculantes, biofertilizantes e produtos biológicos para controle de pragas. Atualmente, existem no Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) mais de 600 produtos de baixo impacto registrados, ou seja, disponíveis para uso pelos agricultores. Quase 75% desses produtos chegaram ao mercado entre 2008 e 2024.
Os insumos biológicos podem ser aplicados na bovinocultura de leite. Além de reduzir o impacto ambiental e o custo de produção do produtor rural, esses produtos aumentam a produtividade. Em janeiro, os bioinsumos foram tema de um dia de campo promovido pela Emater/RS-Ascar em uma propriedade que trabalha com pecuária leiteira em Condor, pequeno município situado na Região Norte do Rio Grande do Sul.
A atividade, que reuniu 55 produtores, ocorreu na Unidade de Referência Técnica (URT) da Emater/RS-Ascar, na propriedade da família Marcus, e incluiu a apresentação do plano ABC+RS e os extensionistas da Emater/RS-Ascar apresentaram técnicas que podem ser utilizadas no desenvolvimento de uma agricultura de baixa emissão de carbono.
O dia de campo ocorreu dois antes do início da colheita da lavoura do milho destinado à silagem. Os participantes visitaram cinco estações temáticas. Na primeira, foram demonstrados os resultados obtidos na URT, da utilização de Azopsirillum brasilense e de Beauveria bassiana (bioinsumos no milho silagem). A estação foi conduzida pelo extensionista Eduardo Canepelle do escritório municipal de Condor.
Na estação 2, foi abordada análise financeira e viabilidade econômica da utilização do uso de bioinsumos e o custo de produção do milho silagem com e sem a utilização de bioinsumos. Essa estação foi conduzida pela extensionista Roseli Seitenfuss, chefe do escritório municipal de Condor.
Já a estação 3 foi sobre qualidade do leite, com enfoque em CCS, conduzida pela Lacticínios Heja, e a estação 4 tratou de manejo de milho silagem com refúgio, incluindo diferentes tecnologias existentes. Essa estação foi conduzida pela cooperativa Cotripal. Por último, a estação 5 abordou o aumento da produção de leite pelo controle de proteína e adequação da dieta dos bovinos, a partir da qualidade do leite, conduzida pela PNI Nutrição Animal.
Produção sustentável
Canepelle destaca que o objetivo foi demonstrar nessa URT de bioinsumos, de forma prática, alternativas que podem ser utilizadas pelos agricultores familiares, a fim de aumentar a sua produtividade aliado a uma produção mais sustentável. O extensionista da Emater/RS-Ascar explica que a inoculação de Azospirillum brasilense na cultura do milho proporciona aumento da produção de massa aérea verde da cultura, o que possibilita aumento da produção de forragem.
A bactéria usada como inoculante para fixação de nitrogênio é uma tecnologia de baixo custo lançada comercialmente em 2009, que pode ser utilizada pelos produtores de leite para elevar a produção dessa forragem. E também para reduzir os custos econômicos e ambientais causados pelo uso intensivo de fertilizantes nitrogenados industrializados. “A inoculação das sementes de milho silagem nessa pequena propriedade, de 22 hectares, foi feita com o uso de um saco plástico. É uma técnica que não tem mistério e está ao alcance do pequeno produtor, sendo encontrada em várias empresas da região”, sublinha o extensionista da Emater/RS-Ascar.
Os resultados preliminares da inoculação da bactéria nas sementes de milho mostraram resultados positivos com o uso desse bioinsumo na produção de massa área verde. “Verificamos um aumento médio de 8 toneladas por hectare na cultura do milho silagem. O produtor investiu R$ 10,00 por hectare e teve um ganho significativo na produtividade, o que demonstra a viabilidade dos bioinsumos na pequena propriedade”, ressalta Canepelle. Segundo ele, o experimento seguirá nesse ano e deve ser concluído na safra 2026-2027.
Além da inoculação da bactéria Azospirillum brasilense, na lavoura de milho da URT de Condor também foi realizada a aplicação de inseticida biológico em complementação ao químico para o controle da cigarrinha-do-milho (Dalbulus maidis). “Buscamos reduzir as aplicações de inseticida químico para controle dessa praga, devido a isso realizamos aplicação de inseticida biológico composto por Beauveria bassiana em complemento ao inseticida químico”, complementa.
A Emater/RS-Ascar tradicionalmente assessora os agricultores familiares de Condor na bovinocultura de leite, em ações de soberania e segurança alimentar, solos, produção de grãos como milho, bem como em atividades de organização e valorização do meio rural, dos jovens, mulheres e idosos. Este trabalho é realizado pela Emater/RS-Ascar em conjunto com prefeitura municipal e seus parceiros locais.