Como prevenir a doença que acarreta prejuízos imensuráveis na pecuária leiteira?
O setor leiteiro é um dos pilares mais importantes do agronegócio nacional, mas que sofre constantemente com perdas de produção e prejuízos financeiros causados pela mastite, a inflamação da glândula mamária, tanto na sua manifestação clínica quanto na subclínica.
A mastite clínica é caracterizada pela sintomatologia inflamatória da glândula mamária da vaca e pelo aspecto anormal do leite, com a presença de grumos, pus ou até mesmo sangue, e alterações de coloração e consistência do leite. A mastite subclínica é a mais prevalente no rebanho mundial, não apresentando características evidentes de inflamação, mas atuando ativamente na redução da secreção de leite e promovendo alterações na sua composição como a diminuição do percentual de gordura, caseína e lactose, e o aumento da presença de células somáticas, incluindo também o aumento dos teores de sódio, cloro e proteínas indesejáveis, o que interfere negativamente na qualidade do leite produzido.
As vacas com mastite devem ser retiradas da linha de produção e tratadas de maneira adequada para o pronto restabelecimento de sua saúde e dos índices produtivos. Alguns animais que apresentam quadro recorrente ou crônico também podem apresentar perdas de quartos mamários, o que acarreta uma redução permanente da produção leiteira daquele indivíduo e força o descarte precoce e substituição da vaca. Além disso, estes animais representam riscos para infecções em outros indivíduos do rebanho.
Pensando além dos prejuízos na produção primária do leite, a mastite é um problema que afeta diretamente indústrias e laticínios, já que as alterações nas características do leite e sua qualidade influenciam no rendimento da produção dos produtos lácteos, na sua qualidade, nas suas características originais desejadas, e no seu tempo de prateleira.
As medidas preventivas são as melhores armas que o produtor tem para atuar contra essa moléstia tão desafiadora, cuidar da qualidade do leite comercializado e proteger-se dos prejuízos econômicos ocasionados por ela. A prevenção e o controle são multifatoriais e envolvem principalmente um manejo de qualidade nos períodos mais vulneráveis da vaca: período de secagem, a transição e o início da lactação.
O período de secagem ocorre antes da data prevista para o parto, onde as vacas deixam a linha de ordenha e se preparam para um novo ciclo produtivo. O sucesso da produção leiteira começa nessa fase importante para o descanso e regeneração do sistema mamário. Um manejo de secagem adequado deve adotar medidas para evitar os vazamentos dos tetos, condição que deixa os animais mais propensos às mastites e pode prejudicar o próximo ciclo de lactação, e previne distúrbios metabólicos pré-parto adequando a nutrição do animal às demandas energéticas do período.
Assim a utilização de facilitadores de secagem que determinam a rápida queda na produção de leite e, consequentemente, a redução na pressão interna do úbere, a abertura do canal do teto e o vazamento de leite logo a seguir à secagem, contribui para a saúde da glândula mamária em um período crítico em termos de novas infecções.
O período de transição que se inicia aproximadamente 3 semanas antes do parto é o período em que a vaca tem maior demanda nutricional, porém pouca capacidade de consumo alimentar, já que a maior parte da cavidade abdominal é ocupada pelo feto. É neste momento, também, em que os mecanismos de defesa naturais do organismo das vacas contra infecções começam a diminuir, atingindo o menor nível na primeira ou segunda semana após o parto. Suprir as necessidades nutricionais do animal neste período é essencial para que o organismo se adapte, favorecendo o fim da gestação e o próximo período de lactação sem interferir negativamente na saúde da vaca.
Em termos de produção, o momento de maior eficiência de uma vaca leiteira é no início da lactação, que dura cerca de 75 dias após o parto. Neste período, assim como o período de transição, a demanda nutricional é maior do que a matéria seca ingerida pelo animal, mobilizando as reservas corporais e ocasionando certa perda de peso. Ao mesmo tempo, a queda natural da imunidade geral juntamente a possíveis transtornos metabólicos como a cetose e a hipocalcemia em manifestações clínica ou subclínica, contribuem ainda mais para a redução das defesas contra infecções, incluindo as da glândula mamária.
À medida em que as vacas vão se tornando mais velhas e os ciclos de lactação vão se repetindo, naturalmente elas se tornam mais susceptíveis às mastites. O manejo sanitário adequado dos animais e das instalações da fazenda são o que tem maior peso para determinar se a mastite será ou não um grande empecilho para o rebanho durante o período de lactação. Uma avaliação frequente e rigorosa da saúde dos tetos e do úbere da vaca ajudam a reduzir e controlar o problema nos rebanhos, independente se sua origem é contagiosa ou ambiental.