Os produtores de leite no Brasil vem sofrendo com a crise que tem afetado diretamente suas atividades e suas perspectivas de ganhos. A queda no preço do leite cru ao produtor, aliada a uma série de desafios climáticos e estruturais, tem colocado os produtores em uma situação delicada. Anos seguidos de seca, a inundação que afetou algumas regiões do Estado do Rio Grande do Sul e a concorrência das importações tem gerado um cenário desafiador.
O preço do leite cru ao produtor atingiu a chamada “média Brasil” de R$ 2,00, conforme a pesquisa do Cepea, divulgada no final de outubro. O presidente da Associação dos Criadores de Gado Holandês do Rio Grande do Sul (Gadolando), Marcos Tang, destaca que mesmo diante dessa situação crítica, a resolução dos problemas enfrentados tem sido mais palavras do que efetiva, com pouca ação concreta para solucionar a crise.
“O mercado está muito estagnado nesta mesma discussão em torno das ações do governo, pois elas foram muito faladas, mas não foram colocadas em prática, uma vez que tudo vai ser só daqui a 90 dias e não tem nos ajudado, por enquanto”, diz Tang.
Queda no preço
A pesquisa da USP também aponta três razões para a queda no preço do leite ter chegado a ser mais de 30% menor em 12 meses, e uma delas faz parte da maior queixa dos criadores de gado leiteiro: a importação de lácteos. As outras duas são consumo interno muito ligado ao preço e aumento da disponibilidade, por conta de avanço na captação nacional.
Segundo o dirigente, os problemas se arrastam e nenhuma ação é realizada para auxiliar os criadores. Marcos Tang diz, ainda, que depois de tantas quedas parece chegar ao ponto em que o preço vai estagnar ou ter uma pequena elevação. “Isto é esperado pelos produtores e, apesar de não resolver o problema, poderá minimizar um pouco as perdas”, argumenta.
A possibilidade de melhora nos ganhos para os produtores de leite, citada pelo presidente da Gadolando, é corroborada por estudo sobre tendência de mercado nacional calculada pelo Instituto de Laticínios Cândido Tostes, de Minas Gerais, que indicou que o preço pode baixar mais 0,2% e depois parar a série de quedas subsequentes, que já está na marca de cinco.
Medidas do Governo
Em outubro deste ano, o Governo publicou um decreto para estimular a produção de leite nacional. O decreto federal nº 11.732, altera a aplicação de créditos presumidos do Programa Leite Mais Saudável e estimula a produção de leite in natura por produtores brasileiros. A medida entra em vigor em fevereiro de 2024.
De acordo com o presidente da Câmara Setorial, Eugênio Zanetti, vice-presidente da Fetag-RS, os produtores argentinos e uruguaios recebem diversos subsídios para a produção de leite e quando este leite em pó vem para o Brasil, entra com um preço muito mais barato. Para ele, a medida contida no decreto é importante, mas não é suficiente, sendo necessárias outras ações de auxílio aos produtores de leite.
No início de novembro, a Secretaria de Agricultura e Pecuária do Rio Grande do Sul (Seapi), realizou uma reunião com a câmara setorial do leite para discutir a crise leiteira e o decreto federal nº 11.732. A Secretaria ficou de encaminhar sugestões de melhorias a curto prazo na cadeia produtiva leiteira para as respectivas esferas, estadual ou federal, através de um ofício.
Em análise Projeto que proíbe a venda de leite em pó importado e reidratado
O Projeto de Lei 4309/23 proíbe empresas de importar leite em pó e transformá-lo em leite líquido para venda no mercado nacional. A proposta está sendo analisada pela Câmara dos Deputados. Autora do projeto, a deputada Daniela Reinehr (PL-SC) afirma que o mercado brasileiro vem apresentando desequilíbrios por conta de importações de leite em pó a preços muito baixos de países do Mercosul.