Pecuária de corte

Estação reprodutiva exige do pecuarista planejamento estratégico e seleção criteriosa de touros

Além da genética, fatores ambientais desempenham um papel importante nas escolhas dos pecuaristas

Foto de bovinos em pastagem sob céu azul.
Estação reprodutiva exige do pecuarista um planejamento minucioso nutricional e sanitário, bem como a escolha certa dos touros | Foto: Ana Virginia Guterres/ABHB

A primavera marca o início de um período crucial para os pecuaristas, especialmente aqueles que trabalham com o ciclo completo ou cria bovina. Esse momento é fundamental para a preparação dos rebanhos, com foco na estação reprodutiva, que começa entre os meses de setembro e outubro, dependendo da região, e pode se estender até janeiro ou fevereiro. Durante essa fase, ocorre o acasalamento das fêmeas, por meio de técnicas como a Inseminação Artificial em Tempo Fixo (IATF), inseminação convencional ou monta natural. Essas decisões determinam a base genética dos terneiros que nascerão e, futuramente, definirão a produtividade e a qualidade do rebanho.

O avanço de técnicas como a IATF possibilita que pecuaristas coloquem para acasalamento uma grande parte de suas fêmeas, racionalizando a necessidade de touros e permitindo o uso de reprodutores geneticamente superiores, de acordo com o médico veterinário Octaviano Pereira Neto, diretor da Conexão Delta G, associação que reúne 18 agroempresas com o principal objetivo de buscar incrementos na produtividade bovina, por meio da seleção e melhoramento genético, gerando incrementos na produção e dos rebanhos. “Com cerca de 50% a 60% das fêmeas acasaladas via inseminação, o restante pode ser direcionado para touros de maior valor genético, o que maximiza a eficiência do rebanho”, afirma o dirigente, titular da Braford Curupira, de Pedro Osório (RS).

Além da genética, fatores ambientais desempenham um papel importante nas escolhas dos pecuaristas. O Rio Grande do Sul enfrentou um ano desafiador, com estiagens severas seguidas por chuvas intensas e enchentes, que afetaram as pastagens. E, em alguns casos, as destruíram por completo, exigindo a recuperação do solo. Pereira Neto destaca a importância de escolher animais produtivos e com adaptabilidade às condições adversas, como maior resistência a ectoparasitas – especialmente ao carrapato – o que pode ser decisivo para a produtividade em ambientes difíceis. “Os resultados dependem 50% da genética do animal e outros 50% da adaptação dele ao ambiente”, garante Pereira Neto, que é Mestre em Produção Animal.

Recuperação de preços

A estação reprodutiva também coincide com um momento de recuperação no ciclo pecuário. Após anos de preços baixos para bovinos e bezerros, a cotação da arroba do boi vivo chegou a R$ 350,00 em algumas praças do interior de São Paulo e as previsões indicam uma valorização significativa a partir da temporada 2025/2026. “O acasalamento realizado agora gerará terneiros que serão comercializados em 2026, em um cenário de preços mais elevados. Planejar agora é fundamental para colher os frutos no futuro”, aponta o diretor, reforçando a necessidade de um planejamento estratégico de longo prazo.

O melhoramento genético, no entanto, precisa iniciar cedo. “A seleção tem que começar lá em setembro, é preciso um planejamento prévio. O pecuarista não pode buscar um touro pro seu rebanho em novembro, pois a maioria dos leilões de ponta ocorreu em setembro e começo de outubro”, completa.

Para garantir o sucesso dessa fase, é essencial que os pecuaristas avaliem cuidadosamente os reprodutores que utilizarão, inclusive com o exame andrológico dos animais. “As decisões tomadas durante esta primavera influenciarão a produtividade e os resultados econômicos dos próximos anos, por isso, é fundamental investir em genética de qualidade e manejo adequado”, ressalta.