Mercado

Preços do boi gordo devem estabilizar após ultrapassar R$ 300,00

Em algumas regiões, como as praças paulistas, a cotação da arroba chegou a R$ 330,00

Foto de gado marrom em pastagem.
Preços do boi gordo têm disparada com alta nas exportações e demanda internacional, mas devem se estabilizar | Foto: Banco de Imagens

Nos últimos dias houve uma escalada nos preços do boi gordo em quase todo o Brasil, com a arroba ultrapassando os R$ 300,00. Em algumas regiões, como as praças paulistas, a cotação da arroba chegou a R$ 330,00 na modalidade e peso vivo e com 56% de rendimento. Porém, a consultoria Agrifatto ressalta que esse valor ainda não se consolidou como referência, sendo observado apenas em negócios pontuais. Para o “boi-China”, padrão de exportação, o valor da arroba estava na terça-feira em R$ 305,50 em São Paulo, o que aproxima o preço ao do “boi comum”, indicando uma redução no diferencial de preços entre os dois tipos de animal.

O movimento de valorização da arroba do boi gordo é impulsionado por um cenário de exportações de carne bovina e pela forte demanda internacional pela carne brasileira. Também contribuíram para essa alta a prolongada estiagem no Brasil Central e as enchentes de maio no Rio Grande do Sul. Os prejuízos causados pelas chuvas extremas no Estado atingiram a marca alarmante de R$ 12,2 bilhões, conforme relatório divulgado pela Defesa Civil gaúcha. Destes, mais de R$ 4,1 bilhões correspondem aos danos na agricultura e R$ 372,1 milhões na pecuária.

A redução da oferta de animais no mercado é outro fator que explica a elevação dos preços, conforme o coordenador do Núcleo de Estudos em Sistemas de Produção de Bovinos de Corte e Cadeia Produtiva (Nespro), da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), Júlio Barcellos. “O preço do boi gordo estava muito defasado devido a uma certa retenção de gado por parte dos pecuaristas à espera de melhor preço”, afirma.

O especialista diz que, devido a melhor valorização dos animais gordos no centro do País, e com aumentos nas exportações, tem um menor volume de carne oriunda das demais regiões produtivas entrando aqui no Rio Grande do Sul, o que consequentemente abre margem para melhores comercializações no próprio Estado e preços mais atrativos aos produtores. Barcellos avalia, no entanto, que a tendência, a médio prazo, é os preços da arroba do boi gordo se estabilizarem. “A China, maior compradora da carne brasileira, com aproximadamente 60% das nossas exportações, não está pagando valores a mais pela carne brasileira”, aponta.

Perda de competitividade

O representante da Comissão de Relacionamento com o Mercado do Instituto Desenvolve Pecuária, Juliano Severo Leon, garante que dois fatores principais estão alavancando os preços: a exportação e o fortalecimento da demanda interna. A China, em particular, tem aumentado o volume de compras e pagando um pouco mais pela carne brasileira, o que gerou um aumento de 25% no valor das exportações em outubro de 2024, em comparação ao mesmo mês de 2023. “Esses números desenham um bom ritmo até o final do ano”, destaca Leon.

No mercado interno, o aumento do poder de compra da população, em parte graças a estratégias governamentais em ano eleitoral, também elevou os preços da carne bovina. Contudo, Leon alerta para a possível perda de competitividade frente a outras proteínas, como o frango, especialmente à medida que os preços da carne bovina se distanciam dos demais. “Entramos na segunda quinzena do mês, quando as vendas tendem a enfraquecer naturalmente, o que pode pressionar os preços”, explica.

No RS, os produtores têm enfrentado condições climáticas adversas desde o início do ano, o que impactou diretamente a oferta de gado de qualidade. O Estado, que vinha recebendo grande quantidade de carne de outras regiões para abastecer seu mercado interno, agora vê essa entrada de carne reduzida, forçando as indústrias locais a buscarem produtores gaúchos. “O mercado local está acompanhando a alta de preços em outros Estados, especialmente devido à escassez de animais prontos para abate”, afirma o representante do Instituto Desenvolve Pecuária.

Gado de reposição

Além disso, Leon aponta que os preços de reposição também estão subindo, embora em ritmo mais lento do que os do gado gordo. A saída de gado das pastagens gerou uma oferta pontual, e os confinadores e invernadores estão mais dispostos a pagar valores superiores, devido à perspectiva de melhora nos preços de venda futura. “Não acredito que a correção de preços na reposição seja tão rápida quanto no gado gordo, mas esse ajuste acontecerá gradualmente”, completa.

Outro ponto destacado é a menor oferta de fêmeas no mercado, reflexo de uma inversão no ciclo pecuário. Esse fator, combinado com a menor disponibilidade de novilhos de qualidade, fortalece a expectativa de preços altos no mercado gaúcho para os próximos meses. “A partir de 20 de novembro, com a entrada da parcela do 13º salário, a demanda do mercado interno tende a ganhar força, o que pode sustentar o otimismo atual”, prevê Leon.

O presidente da Associação Brasileira de Brangus (ABB), Cacaio Osório, observa que a valorização do boi gordo no Estado não tem sido tão significativa quanto no resto do País. O dirigente, no entanto, lembra que, em julho, a cotação no RS já era maior aqui no Estado do que no Brasil Central. “O quilo do boi gordo estava sendo vendido a R$ 9,20, R$ 9,30. Alguns frigoríficos estavam pagando R$ 10,00”, recorda. “O preço do gado de reposição que está meio parado”, finaliza o dirigente.