por Felipe Fabbri, analista da Scot Consultoria
A área com sorgo no Brasil teve forte crescimento nas últimas safras. Da safra 2009/10, a área com sorgo no Brasil avançou 81,6%, com a área semeada estimada em 1,5 milhão de hectares em 2023/24 – devendo aumentar no ciclo 2024/25, em semeadura no Brasil.
Além do avanço em área, merece destaque também o crescimento da produtividade no período, com aumento de 2,3 para 3,2 toneladas por hectare ao ano – um salto de 36,8% em quinze anos.
A cultura é opção para cenários de riscos climáticos – principalmente quando há uma menor janela para a semeadura do milho, principal “concorrente” por áreas durante a segunda safra no Brasil – além disso, o sorgo não possui grandes diferenças em relação a composição bromatológica frente ao milho, para uso na nutrição animal.
Com forte crescimento em área e em produção, há espaço – e demanda – para o sorgo brasileiro? A resposta é sim e, a seguir, comentaremos um pouco dos destinos do sorgo nacional e oportunidades que 2024 promoveu.
A produção nacional está estimada em 4,43 milhões de toneladas e concentra-se nos estados de Goiás e Minas Gerais.
O Brasil figura entre os dez maiores produtores de sorgo do mundo (USDA, 2024).
A maior parte da produção brasileira é destinada ao mercado interno, mas antes de falarmos da demanda doméstica, merece destaque que, ao fim de 2024, o governo chinês, durante a 19.ª reunião de cúpula do G20, que ocorreu no Brasil, abriu o seu mercado para a compra de sorgo brasileiro.
O Brasil pleiteava há anos a abertura do mercado chinês, com o protocolo fitossanitário sendo preparado desde 2019.
A China é a maior importadora mundial de sorgo. Na safra 2023/24, seu consumo esteve estimado em 11,3 milhões de toneladas, enquanto a importação foi de 8,3 milhões de toneladas (USDA).
Segundo o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), em 2023, a China importou US$1,83 bilhão em sorgo, o equivalente a 82,8% do comércio mundial do produto.
Metade do volume internalizado pela China é originário dos Estados Unidos. No mercado norte-americano, a volta de Donald Trump à presidência poderá incorrer em nova guerra comercial entre os países, beneficiando a demanda pelo sorgo brasileiro – ponto para atenção em 2025.
A Abramilho (Associação Brasileira dos Produtores de Milho e Sorgo) estima que a exportação para a China deverá começar a partir de julho de 2025 e destaca que a abertura e vendas para o país poderá promover, também, a abertura de outros mercados ainda não acessados pelo Brasil na Ásia.
Na China, o sorgo possui diferentes usos – produção de bebidas alcóolicas, como o baiju; para a alimentação humana, através de farinhas para pães e outros assados, faz parte da dieta básica; e, também, para a produção animal, o que, com a crescente tecnificação dos sistemas produtivos de aves e suínos no país, tende a aumentar o consumo, do sorgo, do milho e do farelo de soja.
A exportação em 2024, até outubro, somara 115,4 mil toneladas – o maior volume da história. Apesar do volume crescente, a participação da exportação em relação à produção, estimada em 4,5 milhões de toneladas, ainda é pequena – apenas de 2,6%.
O sorgo e a nutrição animal
No Brasil, o sorgo é amplamente utilizado na nutrição animal, sendo o consumo humano ainda incipiente.
Com a exportação pequena, a produção nacional é destinada ao mercado interno, para a alimentação animal – o sorgo pode ser utilizado para silagem, também, e como grão para a alimentação de monogástricos, o principal consumidor nacional.
Dados do Sindirações apontam que a pecuária de corte brasileira consumiu, em 2023, 804,4 mil toneladas de sorgo e a pecuária de leite 1,1 milhão de toneladas.
O uso do sorgo na pecuária de corte, principalmente como fonte energética em confinamento de bovinos, foi destaque.
O Confina Brasil, pesquisa-expedicionária da Scot Consultoria, em 2024, mapeou 218 confinamentos e constatou o crescente uso do sorgo pela atividade nos últimos 3 anos, com participação de 19,5% dentre as menções de insumos energéticos utilizados no sistema produtivo.
Para a pecuária de corte, a expedição apontou a expectativa de crescimento do rebanho bovino confinado em 2025, o que poderá aumentar a demanda de sorgo.
Na pecuária leiteira, o uso de sorgo como silagem é recorrente, destacando-se Minas Gerais a maior bacia leiteira do país e, também, o segundo produtor nacional de sorgo.
Apesar da grande demanda para a produção de ruminantes, o setor de monogástricos é o principal consumidor – a produção de frango de corte, ovos e suínos, consumiu, em 2023, 2,4 milhões de toneladas, com a avicultura de corte responsável por 62,5% dessa demanda.
Durante anos o uso foi limitado em função da associação do sorgo ao tanino, fator antinutricional para frangos e suínos.
Porém, nos últimos tempos esse fator tem sido mitigado pelo desenvolvimento de híbridos com baixos níveis de tanino ou por tecnologias de processamento que reduzem seus efeitos, além do uso associado do sorgo a enzimas que diminuem a ação antinutricional dos taninos na formulação das dietas.
Um ponto de atenção na formulação de dietas com sorgo é a necessidade de suplementação com aminoácidos essenciais, como a lisina e o triptofano, cuja presença no sorgo é baixa.
Demanda para a produção de etanol
Tem crescido, em função do aumento das usinas de etanol a partir de grãos, principalmente de milho, a procura do sorgo para a produção de etanol, com potencial descritos em trabalhos recentes.
Desde 2016, a produção de etanol de milho vem crescendo. A expansão foi de 473,8% de lá para cá.
Na safra 2023/24, 5,9 bilhões de litros de etanol de milho foram produzidos, o equivalente a 14,8 milhões de toneladas de milho foram destinadas para esse fim.
Até 2033/34, a estimativa é de que a produção de etanol de milho seja de 16,6 bilhões de litros.
Há no Brasil 22 biorrefinarias em operação, em sua maior parte, no Centro-Oeste.
Além das biorrefinarias em operação, há mais 21 em prospecção para os próximos anos, com nove delas em construção e doze projetadas e programadas para construção.
Sobre o etanol de milho e de sorgo, pouco muda quanto ao desempenho e qualidade.
Destacamos que, na produção de etanol, podemos utilizar o sorgo sacarino.
O cultivo de sorgo sacarino no Brasil, porém, é pouco usual e, as informações quanto ao potencial referem-se a variedade granífera, predominante no Brasil.
Para cada tonelada de milho estima-se que entre 350 e 400 litros de etanol sejam produzidos. Para o sorgo, estudos e agentes das indústrias apontam que o desempenho produtivo é semelhante.
Com relação aos coprodutos (grãos secos de destilaria, ou DDGs), estima-se que, para cada tonelada de milho/sorgo utilizados, entre 200 e 240 quilos de coprodutos sejam produzidos.
Conversamos com representantes das principais biorrefinarias, e todas informaram que há estudos para o uso do sorgo em desenvolvimento em seus processos industriais com usinas em Mato Grosso e em Goiás, já moendo sorgo.
Mas, destacamos que a quantidade da matéria-prima é um desafio para o setor, que enxerga oportunidades no uso do sorgo, uma vez que os processos industriais são semelhantes e as adaptações nas operações relativas ao milho, para o processamento do sorgo, relativamente rápidas, mas com uma oferta aquém do potencial demandado não subsidiando o investimento.
O coproduto oriundo do processamento do sorgo possui coloração diferente do oriundo do milho, o que ainda requer estratégias para a comercialização.
Perspectivas e potencial para o mercado de sorgo
A demanda por sorgo nos próximos anos deverá ser crescente.
A abertura do mercado chinês poderá impulsionar a cultura para atender o mercado externo e no mercado interno, o setor de nutrição animal deverá disputar o sorgo com as usinas de etanol.
Para o produtor, a perspectiva é boa, com maior quantidade agentes participando das negociações e uma maior pulverização de quem poderá atender – o que pode estimular os preços, além de garantir a demanda pelo grão.
Fonte: Scot Consultoria