Impulsionados pelas aquecidas demandas externa e, principalmente, interna, os preços da carne de frango atingiram recordes reais em 2021. Diante do menor poder de compra de grande parte da população brasileira, a proteína de origem avícola – que é tipicamente negociada a valores inferiores aos das principais substitutas (bovina e suína) – ganhou destaque no cenário nacional de carnes, o que resultou na disparada de preços.
Nos primeiros meses do ano, os valores da carne de frango estiveram, como de costume, enfraquecidos. No entanto, a partir de maio, a procura interna aumentou, influenciada pelo fato de o preço desta proteína avícola ser mais barata frente aos das concorrentes e pela flexibilização das medidas restritivas impostas em muitas cidades para conter o avanço da pandemia de covid-19. Esse cenário, aliado ao bom desempenho das exportações brasileiras da carne, resultou em um movimento de alta nos preços, que persistiu por cinco meses consecutivos – de maio a setembro.
Assim, em setembro, o frango inteiro resfriado foi negociado no atacado da Grande São Paulo na média de R$ 8,41/kg, recorde real da série história do Cepea, iniciada em 2004 (os valores mensais foram deflacionados pelo IPCA de novembro/21). E, apesar do enfraquecimento da procura e da consequente retração do preço a partir de outubro, devido à resistência do consumidor final em pagar valores elevados pela carne de frango, em 2021, o frango inteiro resfriado teve média de R$ 7,17/kg, sendo 27,5% acima da verificada no mesmo período de 2020 e um recorde.
EXPORTAÇÃO
Apesar da diminuição (de 4,2% de janeiro a novembro de 2021 frente ao mesmo período de 2020) no volume de carne de frango enviado ao principal destino da carne brasileira, a China, e da retração das compras de outros importantes parceiros comerciais, como Arábia Saudita e Hong Kong (de 20,4% e de 34,5%, respectivamente), os embarques totais brasileiros devem crescer em 2021. Isso porque outros importantes destinos aumentaram significativamente as compras do produto nacional. Além do incremento na quantidade, o aumento no preço médio pago pelo produto embarcado e o dólar elevado têm favorecido o resultado financeiro.
De acordo com dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex), entre janeiro e novembro de 2021, 4,2 milhões de toneladas de carne de frango foram exportadas pelo Brasil, volume 9,1% maior que o do mesmo período de 2020. Quanto ao faturamento, nos 11 primeiros meses do ano, a receita atingiu R$ 37,3 bilhões, montante que já supera em 18,9% o total adquirido em 2020 e um recorde, considerando-se a série história da Secex, iniciada em 1997.
PODER DE COMPRA
Por mais um ano, avicultores brasileiros atravessaram meses de custos de produção elevados. Um certo alívio veio do fato de que as vendas aquecidas da carne de frango permitiram que agentes reajustassem positivamente os valores de venda do animal vivo. Mas esses aumentos não foram o suficiente para elevar o poder de compra do avicultor frente aos dois principais insumos da atividade, milho e farelo de soja.
Frente ao farelo de soja, simulações realizas pelo Cepea mostram melhora no poder de compra do avicultor paulista em 2021 frente ao ano anterior, tendo em vista que a valorização do animal superou a verificada ao derivado de soja. Considerando-se os preços médios de 2020 e de 2021, houve alta de real de 35% para o frango vivo e de 22,9% para o farelo. Já em relação ao milho, as intensas altas nos preços do cereal em 2021 (de 46,9% na comparação com 2020) resultou em queda no poder de compra do avicultor paulista.
Dessa forma, na média de 2021, a venda de um quilo de frango permitiu a compra de 2,13 quilos de farelo de soja no mercado de lotes de Campinas, 9,4% a mais que em 2020. No caso do milho (Indicador ESALQ/ BM&FBovespa, Campinas – SP), com a venda de um quilo de frango, o avicultor pode comprar 3,42 quilos do cereal, quantidade 8,6% menor que a possível de se adquirir em 2020.