Mercado

Citrus: mesmo com preço elevado, rentabilidade é limitada

Ainda que a remuneração tenha sido superior, para muitos citricultores a rentabilidade foi apertada.

2021 foi um ano de preços altos para a laranja no estado de São Paulo e no Triângulo Mineiro. No geral, a necessidade de matéria-prima permaneceu elevada nas indústrias paulistas, e a baixa produção da fruta manteve a oferta controlada durante todo o ano. Ainda que a remuneração (em Reais por caixa da fruta) tenha sido superior, para muitos citricultores a rentabilidade foi apertada, visto que a produtividade restrita elevou ainda mais os custos unitários de produção.

A estimativa de dezembro/21 do Fundecitrus (Fundo de Defesa da Citricultura) indicou que a produção do cinturão citrícola deve ser 1,7% menor que a de 2020/21, totalizando 264,14 milhões de caixas de 40,8 kg. Mesmo que a temporada 2021/22 seja de bienalidade positiva e com maior carga de frutos, as laranjas vêm apresentando baixo calibre, o que explica a menor produção.

De maio a agosto de 2021, choveu o correspondente a apenas 30% do normal para o período, de acordo com dados da Somar Meteorologia/Climatempo. Essa escassez hídrica prejudicou sobretudo os pomares de sequeiro; porém, o Fundecitrus ressalta que até mesmo os pomares irrigados (que correspondem a 30% do cinturão citrícola) foram debilitados pela seca, tendo em vista a limitada disponibilidade de água nos reservatórios. Vale lembrar que, em algumas áreas, a situação foi agravada por geadas em julho. Além do menor tamanho das laranjas, a queda prematura de frutos foi uma das maiores da história.

Com a baixa oferta de matéria-prima, as processadoras de suco de laranja aumentaram os valores frente à temporada 2020/21. Na parcial da safra (de julho a dezembro/21), a média dos preços no spot foi de R$ 27,50/cx de 40,8 kg, colhida e posta na fábrica, alta nominal de 22,50% em relação ao mesmo período de 2020. Vale lembrar, porém, que, dada a alta demanda industrial pela fruta, a maioria das laranjas do segmento foi negociada via contratos em 2021/22, reduzindo a participação do spot.

A justificativa para a boa absorção das fábricas é a previsão de forte queda nos estoques de passagem ao fim da temporada (em junho de 2022). Segundo a CitrusBR, os estoques de suco de laranja da temporada 2021/22 devem ficar entre 170 e 190 mil toneladas (nível considerado inferior ao patamar estratégico), queda que deve ser superior a 40%.

EXPORTAÇÕES

Assim como esperado, as exportações de suco de laranja em equivalente concentrado encerraram a temporada 2020/21 com queda de 7% em relação à anterior (2019/20). Entre julho de 2020 e junho de 2021, os embarques para todos os destinos somaram 1,03 milhão de toneladas, segundo a Secex (Secretaria de Comércio Exterior). Quanto à receita, o total foi de US$ 1,54 bilhão, recuo de 15% em relação à safra anterior. O menor desempenho na temporada foi influenciado pela baixa oferta de laranjas no cinturão citrícola (SP e Triângulo Mineiro) e pelos preços internacionais (em dólar), que não foram altos, segundo agentes do mercado.

Na média da safra, o preço do suco de laranja concentrado (que corresponde à maior parte da receita arrecadada) contabilizado pela Secex foi 11% menor que o da temporada anterior, enquanto o do NFC (suco não concentrado) foi 8% maior. Porém, a valorização do dólar amenizou o impacto negativo na receita industrial.

MERCADO DE MESA

Em patamares elevados ao longo de 2021, os preços das laranjas atingiram recordes nominais em grande parte do ano. A alta veio da oferta restrita na safra 2021/22, decorrente da falta de chuvas e das altas temperaturas durante o pegamento dos chumbinhos no segundo semestre de 2020 e da continuidade da baixa umidade no correr de 2021. Como a demanda industrial foi elevada, a disponibilidade no mercado de mesa foi ainda menor.

A partir do segundo semestre de 2021, o movimento de alta foi reforçado pela menor qualidade, reflexo da estiagem prolongada e das geadas de julho. Esse cenário valorizou as frutas de melhor padrão – em outubro, a laranja pera chegou a ser negociada acima de R$ 50,00/cx de 40,8 kg, na árvore. A partir de novembro, porém, a demanda reduzida pressionou os valores, mas estes ainda seguiram superiores aos do ano anterior, em termos nominais. Na parcial da safra (de julho a dezembro/21), a pera de mesa teve média de R$ 39,52/cx de 40,8 kg, na árvore, aumento de 20% frente aos mesmos meses de 2020, em termos nominais.

TAHITI

O movimento dos preços da lima ácida tahiti foi atípico em 2021. Os valores estiveram baixos no primeiro semestre e em alguns períodos do segundo, e os picos de preços foram menos acentuados e em momentos diferentes do usual. Com as menores cotações, as participações da indústria e do mercado externo foram maiores – neste último segmento, os baixos valores domésticos elevaram a atratividade internacional. Assim, tanto os envios quanto a receita obtida com os embarques bateram recordes antes mesmo do encerramento do ano. No segmento doméstico, de janeiro a dezembro, a tahiti teve média de R$ 25,19/cx de 27 kg, colhida, queda de 31,3% em relação a 2020, em termos nominais.

FLORIDA

A produção de laranjas na Flórida vem registrando reduções significativas devido ao avanço do greening. Para a próxima temporada 2021/22, segundo o relatório de dezembro do USDA, essa tendência deve ser mantida, com previsão de colheita de apenas 46 milhões de caixas de 40,8 kg, queda de 13% frente à de 2020/21. Desconsiderando-se a temporada 2017/18, prejudicada pelo furacão Irma, esta seria a menor colheita desde 1944/45. No geral, as regiões citrícolas do estado norte-americano registraram clima seco entre fevereiro e abril de 2021 (época de floração) e chuvas abaixo da média até meados de junho/julho. Quanto aos furacões, tiveram atividade acima da média, mas não prejudicaram a produção de citros em 2021/22.