Embora a temporada 2021/22 de soja tenha se iniciado com otimismo, fatores climáticos deverão reduzir a produtividade e a oferta total, que poderá ficar menor que a temporada anterior, que foi recorde. Contudo, houve estiagem severa na região Sul e excesso de chuvas nas regiões Norte, Nordeste e parte do CentroOeste, fatores causados pelo fenômeno climático La Niña. Mas os problemas não são exclusivos no Brasil: Argentina e Paraguai, importantes também na oferta de soja em nível mundial, estão sofrendo com falta de umidade e deverão ter redução nas estimativas de produção.
De outro lado, tem-se uma demanda crescente mundial crescente pela oleaginosa. Assim, tudo indica que a relação estoque / consumo mundial volte a se reduzir. Por enquanto, os dados do USDA apontam para a menor relação em seis anos-safras, fatores que tendem a dar sustentação aos preços médios da temporada.
Demanda pela soja
Para o Brasil, a preocupação do lado da demanda está relacionada ao consumo de óleo de soja para a produção de biodiesel. De acordo com a ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis) reduziu a mistura de biodiesel no óleo diesel em 10% desde setembro de 2021; contra os 13% vigentes até então. A expectativa dos agentes era de que a mistura de 14% do biodiesel sobre o diesel pudesse acontecer no mês de abril; o que também daria sustentação ao esmagamento de soja. Entretanto, não se vislumbra mais esta possibilidade.
Os dados de oferta e demanda de órgãos oficiais, como Conab e USDA, ainda não apontam toda a redução de oferta que Secretarias Estaduais de Agricultura ou mesmo consultorias privadas apontam. Espera-se que as novas estimativas a serem divulgadas na primeira quinzena de fevereiro possam vir com números mais próximos aos apontados pelo “mercado”.
Por enquanto, a produção nacional de soja está projetada em 140,49 milhões de toneladas pela Conab e em 139 milhões de toneladas pelo USDA, ambas recordes. As exportações brasileiras estão previstas pelo USDA em 94 milhões de toneladas; e o consumo doméstico, em 49,85 milhões de toneladas, respectivos aumentos de 15,13% e 0,88%.
Mercado internacional
Dados do USDA projetam que a China deve importar 100 milhões de toneladas de soja em grão, diante da maior demanda para processamento e da queda na produção de soja no país; que deve ser a menor desde a temporada 2018/19.
O Departamento também indica que a União Europeia aumente em 0,75% suas importações na safra 2021/22, projetadas em 14,9 milhões de toneladas. Se confirmado, este será o maior volume desde 2019/20.
Mesmo em temporada de demanda global recorde, o USDA aponta queda de 9,51% para as exportações de soja dos Estados Unidos (segundo maior exportador global). Os embarques do Paraguai devem somar 5,25 milhões de toneladas e os da Argentina, 4,85 milhões de toneladas.
Derivados
Os consumos mundiais de farelo e de óleo de soja na temporada 2021/22 devem atingir os recordes de 251,23 milhões de toneladas e de 60,59 milhões de toneladas, respectivamente, também segundo o USDA. O consumo de farelo deve crescer 2,68% entre as duas últimas safras e o de óleo, 1,72% na área alimentícia e 7,67% no segmento industrial, ainda conforme dados do USDA.
Para o Brasil, o USDA projeta aumento nas ofertas de farelo e óleo em linha com o esmagamento de soja, de 2%. Para o farelo, são esperados crescimentos de 3,98% na demanda interna (para 19,9 milhões de toneladas) e de 2,49% nas exportações (para 17 milhões de toneladas). No caso do óleo, por outro lado, o consumo interno deve recuar 3,53% (para 7,65 milhões de toneladas); o que eleva o excedente e favorece as exportações, que podem chegar a 1,55 milhão de toneladas (+22,82%).
Custo de produção
Dados da Equipe de Custos de Produção agrícola do Cepea apontam que os gastos com insumos adquiridos por produtores de Luís Eduardo Magalhães (BA) aumentaram 28% na safra 2021/22. Nas regiões de Cascavel (PR) e de Sorriso (MT), os custos subiram 30% e 23%, respectivamente; considerando-se a compra dos insumos de forma antecipada, ou seja, entre janeiro e julho de 2020 e de 2021.
De forma geral, apesar de esses custos estarem maiores para os agricultores que compraram os insumos de forma mais tardia, o maior impacto deverá ser sentido nas compras para a safra 2022/23. A preços de novembro de 2021, o custo operacional para 2022/23 é aproximadamente 33% maior que o da temporada 2021/22. Os gastos com fertilizantes e herbicidas são os que tiveram elevações mais expressivas entre estas safras; com os adubos se valorizando 70% e os herbicidas, significativos 120%.
Preços
Embora os contratos futuros de 2022 da soja na CME Group (Bolsa de Chicago) operem acima dos US$ 14,00/bushel, abaixo da média de 2021 (no segundo trimestre de 2021, especificamente, os contratos chegaram a atingir US$ 16,00/bushel), os prêmios brasileiros podem dar sustentação aos valores no Brasil. Os contratos de março e de abril/22 indicam pequenas desvalorizações, devido à entrada da safra no Brasil; mas os valores FOB voltam a subir a partir de maio/22, mostrando mais força no segundo semestre.
A variação do preço doméstico também dependerá da relação entre o dólar e o Real. No primeiro trimestre de 2021, a média do dólar foi de R$ 5,47, acima dos R$ 5,36 indicados para o primeiro trimestre de 2022; conforme o dólar futuro negociado na B3.
Para 2022, a paridade de exportação no porto brasileiro de Paranaguá (PR) indica preços de R$ 188,65 para março, de R$ 189,68/sc para abril, de R$ 192,95/sc para maio, de R$ 195,09 para junho e de R$ 198,70 para julho/21; – para este cálculo, foi considerado o dólar futuro negociado na B3 em 31 de janeiro de 2022.
Fonte: Cepea