O valor do dólar frente ao Real segue avançando. Na manhã desta terça-feira (05), atingiu R$ 5,40. Esse cenário se deve ao temor de uma recessão global, que levou investidores a buscar mais segurança no dólar.
A moeda norte-americana não atingia essa máxima para encerramento desde 27 de janeiro (US$ 5,42). “Ontem o dólar fechou cotado em US$ 5,32, na semana passada o fechamento foi de US$ 5,26 e hoje em US$ 5,39; chegando ao teto de US$ 5,40 durante o dia”, informa o analista de mercado Luiz Carlos Pacheco.
Com a fuga dos investidores para ativos seguros, houve uma disparada internacional da moeda norte-americana. “As bolsas da Europa aceleraram as perdas, caindo mais de 2%, em um cenário generalizado de aversão ao risco”, frisa.
O mercado internacional segue preocupado com a inflação e uma possível recessão. “A queda no consumo mundial, devido a pandemia de Covid-19 e que se agravou com a guerra entre Rússia e Ucrânia, fez com que o valor das empresas nas bolsas também caísse, aumentando o risco de investimento”, explica o especialista.
Outro impacto foram as sanções impostas à Rússia, “já que a Europa é dependente da energia russa (gás e petróleo) e não pode comprar devido às sanções”, ressalta.
Na última sexta feira (01), a Rússia abriu um canal de escoamento da produção ucraniana através do mar negro. “Cerca de 25 milhões de toneladas de milho e trigo que estavam estocadas na Ucrânia foram destinados para a Turquia; que irá absorver parte da produção e escoar o restante aos países vizinhos”, informa Pacheco.
O que esperar?
No Brasil, o dólar é cotado com base em fatores externos (75%) e fatores internos (25%). Em relação ao mercado externo, as atenções estão voltadas para a trajetória das taxas de juros nos Estados Unidos; já que o banco central do país, o Federal Reserve (Fed), endureceu sua postura de política monetária e subiu os juros no ritmo mais acentuado em quase 30 anos no mês passado, em 0,75 ponto percentual.
Na sexta-feira (08), os dados de criação de empregos nos EUA também servirão como um termômetro importante do estágio atual do ciclo de crescimento da economia do país.
Em relação ao mercado interno, um ponto de atenção é a “PEC dos benefícios” ou “PEC Kamikaze”, aprovada no senado na última quinta-feira (30). A proposta de emenda à Constituição libera R$ 41 bilhões em gastos a pouco mais de três meses das eleições. A PEC, que segue agora para a Câmara dos Deputados, reacendeu temores fiscais e de uma pressão ainda maior nos juros e inflação.
De acordo com o analista, apesar da PEC aumentar os anseios quanto a inflação e a desvalorização da moeda brasileira, não tem tanto peso sobre o câmbio; já que os preços das commodities no Brasil estão maiores, o que também eleva o percentual recebido pelo governo. “Estamos recebendo dólares, por conta de contratos passados, vindo em preços bem altos, então nossa receita cambial e fiscal está sendo ótima”, ressalta o analista de mercado.
Outro ponto positivo para o mercado brasileiro é estar longe (territorialmente e politicamente) do conflito no leste europeu, e a não depender da energia russa. “Nunca o brasil recebeu tanto capital estrangeiro como neste ano”, frisa. Somando isso aos demais fatores, o Brasil se “tornou em um porto seguro para o capital internacional”, destaca.