A projeção da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) para o PIB do Agronegócio em 2025 indica para um crescimento de até 5%, impulsionado pelo aumento da produção primária agrícola, com destaque para os grãos, e pelo crescimento da indústria de insumos e da agroindústria exportadora.
Porém, na avaliação da entidade, os cenários externo e interno (política fiscal, câmbio, inflação e taxa Selic) são desafiadores para os produtores rurais brasileiros. O balanço do agro em 2024 e as perspectivas para 2025 foram apresentados em uma coletiva de imprensa, nesta quarta-feira (11), com a presença do presidente da CNA, João Martins, do diretor técnico, Bruno Lucchi, e da diretora de Relações Internacionais, Sueme Mori.
Em 2024, o Produto Interno Bruto (PIB) do agronegócio pode apresentar aumento de até 2%, revertendo a tendência de retração do indicador. Inicialmente, a expectativa era de redução de 1% a 2%. A mudança está atrelada à melhora nos preços de alguns produtos agropecuários, sobretudo da cadeia da bovinocultura de corte. Segundo Lucchi, a redução do ritmo de crescimento do setor é decorrente de um ajuste de preços dos produtos agrícolas após o aumento registrado durante a pandemia.
Neste ano, o ciclo de aperto monetário elevou a taxa Selic, pressionou o custo de equalização do crédito rural e aumentou as taxas de juros com recursos livres. Com o avanço da inflação, o IPCA deve encerrar o ano acima do teto da meta de 4,50%.
“Foi um ano difícil, foi um ano em que nós tivemos na agricultura e no agro em geral problemas climáticos, houve uma frustração na expectativa de que nós chegássemos nesse ano e até o próximo ano a algo em torno de 340 milhões de toneladas [de grãos] e nós tivemos uma queda de produção porque tivemos secas em diversas regiões produtoras de grãos, tivemos uma seca nunca vista em pastagens que atingiu os grandes estados produtores em pecuária, uma seca de 5 meses, despencou o boi de mais de R$ 300,00 para algo inferior a R$ 200,00 e, para terminar, tivemos uma catástrofe no Rio Grande do Sul”, relembrou o presidente João Martins.
Agricultura
Após frustração neste ano, a estimativa para a safra de grãos 2024/2025 é de um recorde de 322,53 milhões de toneladas, alta de 8,2% ou 24,6 milhões de toneladas em relação à safra 2023/24. A projeção reflete uma pequena elevação na área plantada (+1,9%) e recuperação da produtividade média.
Pecuária
A produção nacional de leite deve crescer 1,5% em 2025, resultado da desaceleração econômica e das importações do produto que bateram recorde no início de 2024. A alimentação concentrada mais acessível para os animais deve contribuir para esse aumento modesto da produção.
Já para a produção de carne bovina, a projeção é de queda de 3,3%, em razão da virada do ciclo pecuário. O consumo interno no próximo ano também deve ter redução de 1,5%. Entretanto, o cenário é positivo para as exportações, com previsão de aumento de 1,8% no volume embarcado de carne bovina em 2025, na comparação anual.
De forma geral, o câmbio em alta vai influenciar positivamente as exportações de proteínas animais, mas impactará diretamente nos custos de produção da pecuária para os insumos importados. A redução na produção de carne bovina, associada à exportação em alta, deve sustentar os preços em 2025. Nesse cenário, a carne de frango deve ganhar espaço na cesta de compra dos brasileiros.
Mercado Externo
No mercado externo, ainda que a conclusão das negociações do acordo Mercosul-União Europeia tenha sido anunciada na primeira semana de dezembro, a entidade avalia que o cenário continuará desafiador e conturbado com o acirramento nas tensões entre as principais economias mundiais, e com as sanções do próprio bloco europeu aos produtos agropecuários brasileiros por meio de medidas como a Lei Antidesmatamento (EUDR).
Em 2024, o comércio internacional de produtos do agro ficou estável, em valor e volume, se comparado com o ano passado. Até novembro, foram exportados US$ 152,6 bilhões em bens derivados do setor, variação negativa de apenas 0,3% em relação ao mesmo período de 2023. A estimativa é que o valor alcance cerca de US$ 166 bilhões até o fim do ano. A participação do agronegócio na pauta das exportações também esteve em patamares parecidos com 2023, figurando em 49%.
A expectativa para as exportações neste ano também era negativa, porém a queda da demanda chinesa, principal destino dos embarques, foi compensada por outros mercados, segundo Sueme Mori. Da mesma forma, a redução da exportação de produtos como a soja e milho foi amenizada pelo aumento em itens como o café, açúcar e celulose.
Dólar
Outra preocupação apontada pela Confederação para o próximo ano é em relação à valorização do dólar que, apesar de favorecer as negociações antecipadas das principais commodities agrícolas, pressiona os custos de insumos, como fertilizantes e pacotes tecnológicos, para o produtor brasileiro, por serem, em boa parte, importados.
Selic
Segundo avaliação da CNA, a condução da política monetária será um desafio em 2025. Frente aos desafios fiscais e às expectativas inflacionárias, é esperada a manutenção da taxa Selic em patamar elevado, com projeção de 13,50% ao final do próximo ano. Juros altos impactarão negativamente as concessões de crédito em 2025.
Inflação
A respeito da inflação, a entidade projeta desaceleração nos preços dos alimentos, com alta de 5,75% em 2025, comparada a 8,49% em 2024, devido à recuperação da safra agrícola. O Índice de preços ao Consumidor Amplo (IPCA) deve arrefecer para 4,59% ao ano, ficando acima do teto da meta de inflação de 4,50% para o ano que vem.
Crédito e seguro
Para a Confederação, a política agrícola brasileira deve encontrar no orçamento público desafios a serem superados em 2025. O agro precisará se organizar para fortalecer a gestão de riscos, manter o crescimento das fontes alternativas de financiamento, como o mercado de capitais, e adotar estratégias que assegurem a sustentabilidade econômica diante do aumento nos custos de produção.
O orçamento do Programa de Subvenção ao Prêmio do Seguro Rural (PSR) não deve sinalizar aumento para o próximo ano. O recurso previsto de R$ 1,06 bilhão é insuficiente diante da demanda do setor por R$ 4 bilhões. No entanto, o agro aposta em novas alternativas para modernizar o seguro, como o Projeto de Lei 2.951/2024, que traz mudanças no Fundo Catástrofe e outros pontos que devem consolidar a ferramenta.
VBP
Neste ano, o Valor Bruto da Produção está estimado em R$ 1,34 trilhão, o que representa um leve aumento de 0,3% em relação ao ano anterior. O resultado é puxado pela receita agrícola de R$ 886,55 bilhões, mesmo com redução projetada de 2,5%. Já a receita pecuária deve crescer 6,2%, atingindo R$ 453,3 bilhões.
Para 2025, a expectativa é de crescimento de 7,4% comparado a 2024, totalizando uma receita de R$ 1,43 trilhão. O segmento agrícola deve alcançar R$ 937,55 bilhões, mostrando a recuperação da produção após a quebra de safra em 2024. Já o VBP da pecuária deve crescer 9,2%, alcançando R$ 495,13 bilhões, com destaque para a bovinocultura de corte, que deve registrar, puxada pelos preços, crescimento de 20,9%.
Meio ambiente
Diante de críticas e questionamentos, a CNA segue defendendo que o agronegócio brasileiro é sustentável e que cumpre a legislação ambiental. Porém, considera que essa visão deve ser melhor comunicada para o exterior.
A análise do Cadastro Ambiental Rural (CAR) e o cumprimento do Código Florestal permanecerão como problemas crônicos em alguns estados em 2025. Na visão da CNA, são questões que precisam de soluções estruturantes urgentes para que se possa demonstrar a sustentabilidade da produção agropecuária brasileira.
Comércio exterior
O cenário geopolítico no próximo ano traz tensões, oportunidades e transformações globais. O principal fator de mudança será determinado pelo mandato de Donald Trump nos Estados Unidos. As medidas propostas para a economia americana terão alto grau de influência sobre o cenário global em aspectos cambiais, políticos e macroeconômicos.
Na Europa, a CNA classifica como falsas as alegações sobre a qualidade de produção de alimentos, especialmente das carnes do Brasil e dos demais países do Mercosul, e a suspensão de compras de produtos do bloco sul-americano com um boicote. A entidade afirma que terá como prioridade a avaliação de ações legais de compensação em 2025.
A China, o principal mercado do Brasil, enfrenta redução no crescimento econômico devido à demanda interna e à alta capacidade ociosa. O país tem buscado nas exportações uma saída para escoar sua produção, mas as tarifas dos Estados Unidos tornam essa estratégia menos viável. Apesar dos esforços em se manter menos dependente do fornecimento externo de grãos, o mercado chinês ainda não consegue atingir a autossuficiência na produção, já que a disponibilidade de terras agricultáveis e de água para uso agrícola são baixas.
Por fim, são esperadas novas orientações e esclarecimentos na implantação da Lei Antidesmatamento da União Europeia (EUDR).
Com informações da CNA